"Maria mole"
Se você está achando esse título meio estranho, confesso
que eu o acompanho nesse pensamento. Contudo, posso
explicar.
Olhando os cristãos, fico com a impressão de que se
parecem, em uma porcentagem significativa, com um doce
chamado Maria mole.
Se a minha confissão de que também me incluo nesse doce o
faz feliz, pode comemorar. Considere-me um Maria
mole, mas permita-me as explicações que se seguem.
Existe um estado denominado cataléptico em que o corpo
adquire a aparência de morte. Dizem que na história da
humanidade ocorreram casos de pessoas que foram
enterradas vivas por esse motivo, em uma época em que a
medicina não dispunha de conhecimentos e recursos para
detectar esse estado de diminuição intensa dos sinais
vitais da pessoa.
Em 2014 uma polonesa despertou dentro de um saco no
interior de um necrotério após onze horas do seu óbito
ter sido atestado.
Na época de Jesus isso devia ocorrer com mais frequência
devido à precariedade da medicina da época, tendo sido o
que aconteceu a Lázaro, julgado morto pelas irmãs Marta
e Maria, que buscaram pelo socorro de Jesus. Obviamente
que, diante de um quadro desses, considerá-lo morto foi
um instante. As irmãs chorosas foram à procura de Jesus
informar-lhe o ocorrido e ouviram Dele que Lázaro não
morrera, apenas dormia. Dito e feito. Passaram-se alguns
dias antes de Jesus dirigir-se para Betânia, terra do
amigo, e chamá-lo para fora da tumba.
Essa passagem colocou o meio judaico em ebulição: o
Profeta era capaz até de ressuscitar os mortos!
Acentuou-se ainda mais o ódio nos corações daqueles que
já não gostavam Dele por razões justificáveis apenas
pela pequenez evolutiva daquelas pessoas que acreditavam
ferrenhamente no deus de Moisés que tinha um povo
escolhido e mandava passar a fio de espada os povos
inimigos derrotados na caminhada em busca da terra
prometida.
Lázaro passou a representar o maior testemunho da
grandeza do Profeta Nazareno! Maior do que os leprosos
curados, do que os cegos que retornaram a enxergar, do
que os paralíticos que voltaram a andar.
Afinal, ressuscitar um morto não era obra para qualquer
um! Isso abalou a tal ponto os fariseus que desejaram
executar Lázaro após a crucificação de Jesus porque,
desse modo, o serviço ficaria completo. Uma
espécie de queima de arquivo. Naquela época também já
existiam “arquivos” que incomodavam. Acreditavam que
dessa maneira acabariam com Jesus e com a sua maior
testemunha que era o morto redivivo.
Hipocrisia foi coisa que nunca faltou e nunca faltará no
mundo enquanto vivermos num planeta de provas e
expiações.
Os hipócritas de hoje não suportam ver alguém procurando
ser um testemunho vivo de Jesus, mesmo tendo-se passado
mais de dois mil anos.
Se alguém procurar ter uma vida de maior correção,
abdicar os velhos hábitos, procurar trilhar caminhos que
o faça uma testemunha viva de Jesus, bronca nele!
A consciência incomodada daqueles que não desejam
ascender na caminhada em busca da perfeição procura
puxar para baixo aqueles que tentam se aproximar do vero
cristianismo. Que o diga, se ainda entre nós estivesse,
Chico Xavier. Que o diga Divaldo Franco que, felizmente,
entre nós ainda está. Do próprio meio espírita voam
pauladas e pedradas que buscam atingir aqueles que
procuram testemunhar Jesus.
Por isso disse no título desse artigo – “Maria Mole” –
que me parece essa a atitude assumida por muitos
cristãos. Muitos se parecem com o doce Maria mole: nem
tanto o céu, nem tanto a Terra. Há um temor de sofrer
as chibatadas que Paulo sofreu para constituir-se no
vaso escolhido por Jesus.
A crítica daqueles que preferem continuar no mundo
satisfazendo-se com os prazeres do mundo, não vacila: se
detectar alguém com atitudes que possam levar a se
constituir em testemunho vivo de Jesus, puxa essa pessoa
para baixo porque, quando alguém cai, alivia a
consciência daqueles que desejam permanecer no chão.
Os hipócritas de hoje continuam tentando eliminar os Lázaros dos
dias atuais. Sentem-se mal quando a consciência de outra
pessoa está em paz pelo dever cumprido. Então, procuram
corromper ao invés de se regenerarem.
Emmanuel, no capítulo 61 do livro Vinha de Luz,
assim define bem a situação: “Se te sentes trazido da
sombra para a luz, do mal para o bem, ao sublime influxo
do Senhor, recorda que o farisaísmo, visível e
invisível, obedecendo a impulsos de ordem inferior,
ainda está trabalhando contra o valor de tua fé e contra
a força de teu ideal. Não bastou a crucificação do
Mestre. Também tu conhecerás o testemunho”.
Se você está comigo no doce de Maria mole, vamos
colocar um pouco mais de trabalho em nossas vidas para
cairmos fora desse tacho.
A receita para endurecermos contra o mal, e deixarmos de
ser Maria mole, está em cada ensinamento da
Doutrina Espírita.
Somente modificando o doceconseguiremos sair da
situação do meio lá, meio cá.
Se ainda estiver em dúvida, não é bom começar a pensar
se no planeta de regeneração para o qual caminhamos vão
aceitar esse tal de doce chamado de Maria mole,
tão apreciado hoje nos dias atuais de um mundo de provas
e expiações?