Evocação e os cursos “avançados” de “técnica” para
“comunicação com o falecido”
Kardec comenta na
edição de dezembro da Revista Espírita de 1863 sobre as
etapas do projeto Espírita na Terra. Cita “a primeira
etapa como a da curiosidade (mesas girantes), a segunda
etapa o filosófico (com a publicação de O Livro dos
Espíritos)”; a terceira etapa Kardec nominou de “período
da luta”; “o quarto período, o do Evangelho (para alguns
começou com Bezerra de Menezes e continuada por Chico
Xavier na Pátria do Evangelho); a quinta etapa seria o
transitório, e finalmente a sexta etapa (transformação
social)”.(1)
Considerando as graduais etapas do projeto espírita na
Terra, será que atualmente deveríamos promover (como
ocorreu durante a codificação), um diálogo escancarado e
direto com os recém-desencarnados, visando obter
notícias dos mesmos para seus familiares que aqui
ficaram? Quantas pessoas procuram grupos espíritas
querendo notícias dos entes que “partiram”? Será que a
finalidade da mediunidade é essa?
Há “espíritas” (pasmem!) que “orientam” médiuns através
de cursos “avançados” ensinando algum tipo de “técnica”
para “receberem recém-desencarnados”. Tais “mestres de
Espiritismo” afirmam com jactância que alguns jovens e
outros “formandos” estarão dentro em breve prestando
[através do mediunismo] os “serviços” de consolação para
os parentes que por aqui ficaram!?!?!?... Acredite se
quiser!!!!
O assunto é grave e merece profundas reflexões. Somos
dos que desaconselhamos o uso de evocação dos
desencarnados, sobretudo se o médium estiver voltado
para a recepção de notícias póstumas de sofredores
(normalmente recém-desligados do físico), pois em todos
os casos a espontaneidade é essencial para a
credibilidade das mensagens.
Chico Xavier nos deixa uma importante lição neste
sentido. Recordemos que ante a sua especialíssima tarefa
de psicografia ele era alvo de inúmeros pedidos de
familiares aflitos para receber notícias dos parentes
falecidos. O Médium de Uberaba sabiamente evitava levar
nomes para serem evocados para essa finalidade, e se
justificava dizendo: "O TELEFONE TOCA DE LÁ PARA CÁ”.
Até mesmo nas mensagens instrutivas não há a necessidade
de se fazer uma evocação direta, pois podemos receber
mensagens instrutivas de qualquer Espírito evoluído que
estiver trabalhando conosco. O mais importante neste
caso é o exame racional e lógico da mensagem recebida,
conforme ensina Kardec, para se evitar a mistificação.
O extraordinário Espírito Emmanuel, após ser indagado se
era aconselhável a evocação direta de determinados
Espíritos, esclareceu: “Não somos dos que aconselham a
evocação direta e pessoal, EM CASO ALGUM. Se essa
evocação é passível de êxito, sua exequibilidade somente
pode ser examinada no plano espiritual. Daí a
necessidade de sermos ESPONTÂNEOS,
porquanto, no complexo dos fenômenos espíritas, a
solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos
aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso
bem-intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar
sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a
esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os
seus esforços de acordo com a necessidade de sua posição
evolutiva e segundo o merecimento do seu coração”. (2)
(grifamos)
Insatisfeitos com essas sensatas orientações, surgem os
kardequeólogos de plantão, fazendo referência ao
interesse do mestre lionês pela evocação direta.
Entretanto, “precisamos ponderar, no seu esforço, a
tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidades
e méritos ainda distantes da esfera de atividade de
aprendizes comuns” (3), tais quais somos.
Para os phd’s de Kardec (os antiemmanuelinos) informamos
que o mentor de Chico Xavier explica: “Qualquer
comunicado com o invisível deve ser ESPONTÂNEO,
e o espiritista cristão deve encontrar na sua fé o mais
alto recurso de cessação do egoísmo humano, ponderando
QUANTO À NECESSIDADE DE REPOUSO DAQUELES A QUEM AMOU, E
ESPERANDO A SUA PALAVRA DIRETA, QUANDO E COMO JULGUEM
CONVENIENTE E OPORTUNO OS MENTORES ESPIRITUAIS”. (4)
(grifei)
Para o sábio de Lyon, “frequentemente, as evocações
oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados
espontâneos, sobretudo quando se objetiva obter dos
Espíritos respostas precisas a questões
circunstanciadas” (5). Os médiuns – lembra ainda Kardec
– “são geralmente mais procurados para evocações de
caráter particular do que para comunicações de interesse
geral. ELES NÃO DEVERIAM, PORÉM, ACEDER A TAIS PEDIDOS,
senão com muita reserva, quando feitos por pessoas de
cuja sinceridade estejam seguros. Além disso, é preciso
evitar sua participação nas evocações movidas por
simples curiosidade ou interesse, sem intenção séria por
parte do evocador, afastando-se de tudo o que possa
transformá-los em agentes de consultas, em ledores da
buena dicha”. (6) (grifamos)
Evocar ou não um Espírito é questão que precisa,
portanto, ser bem avaliada, tendo sempre em mente a
finalidade a que ela se presta. No livro Conduta
Espírita, cap. 25, André Luiz reafirmou a proposta feita
por Emmanuel, recomendando-nos seja “abolida, em nosso
meio, a prática da evocação nominal dos Espíritos”. (7)
Não tendo havido informações novas, provindas de fontes
consagradas, não concebemos por que a recomendação de
Emmanuel, reafirmada por André Luiz, deva ser ignorada.
A comunicação com nossos entes queridos efetua-se por
iniciativa deles. A frase "O TELEFONEMA VEM DO LADO DE
LÁ", dita por Chico Xavier, diz bem como o assunto deve
ser encarado em qualquer contexto do debate.
Referência bibliográfica:
(1) Kardec,
Allan. Revista Espírita de 1863, Edicel, 1997.
(2) Xavier, Francisco Cândido. O consolador,
ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB,
2001, Questão 369.
(3) idem, questão 380.
(4) idem, idem.
(5) Disponível em <clique
aqui>
acessado em 22 de novembro de 2010.
(6) idem.
(7) Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Conduta
Espírita, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de
Janeiro: Ed. FEB, 2001.
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