Vida e aprendizado
“Apresentaram-lhe, então, criancinhas, a fim de que ele
as tocasse: e como seus discípulos afastassem com
palavras rudes aqueles que as apresentavam, Jesus, vendo
isso, zangou-se e lhes disse: Deixai vir a mim as
criancinhas e não as impeçais; porque o reino dos céus é
para aqueles que se lhes assemelham. Eu vos digo em
verdade que todo aquele que não receber o reino de Deus
como uma criança, nele não entrará. E as tendo abraçado,
as abençoou, impondo-lhes as mãos.” (Jesus. Marcos, cap.
X, v.10 a 16.)
Todos compreendemos, principalmente com a visão
espírita, que a grande solução da humanidade é a
educação. Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”,
comenta, falando sobre o egoísmo, que o remédio para o
combater somente será possível se se atacar o mal pela
raiz, com a educação. Frisa ele que não se referia à
educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que
tende a fazer homens de bem. Vai ainda mais além, quando
diz que a educação será a chave do progresso moral.
Afirma ele que quando se conhecer a arte de manejar os
caracteres como se conhece a de manejar as
inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma
maneira como se endireitam as plantas novas. Essa arte,
porém, requer muito tato, muita experiência e uma
profunda observação.
É com profunda inteligência que ele assevera que não
basta a ciência para aplicar esse preceito. Deve-se
fazer pela moral, tanto quanto se faz pela inteligência.
Temos entrado muitas vezes neste assunto. Observamos que
somente será grande o nosso país quando essa certeza
estiver nos corações e as famílias educarem suas
crianças. São elas Espíritos imortais, nós o sabemos,
carregando uma bagagem de vidas anteriores, bela ou
infeliz. Pelas atitudes da criança, com observação,
desde o berço podem-se notar quais as imperfeições que
devem ser extirpadas, quais virtudes a aprimorar. O ser
humano precisa ver o trabalho não como um castigo, mas
como uma oportunidade de crescer. Educar dá trabalho e
exige exemplificação de virtudes. Quantos pais há que,
em sendo abordados frente à necessidade da educação da
criança, desculpam-se dizendo que hoje em dia é tudo
assim, que as crianças não são como antigamente, que não
ouvem, não obedecem etc. E fica por isso mesmo,
continuam sem educar. Quantas crianças tomando Ritalina
(cloridrato de metilfenidato) por falta de limites em
casa, não obedecendo na escola, sendo confundidas com
crianças hiperativas e com déficit de atenção! Temos um
exército de crianças tomando Ritalina! Isso não
acontecia no passado.
No passado, um mundo menos conturbado, as crianças
gastavam suas energias fora de casa, brincavam de modo
intenso, em atividades aeróbicas, entravam em casa
quando tinham fome e saíam de novo. Corriam o dia
inteiro. Gastavam as energias, dormiam cedo, hora certa
para tudo. Quando estavam com os pais, as energias já
tinham sido trabalhadas. E todos iam com os pais para a
sua religião, no domingo, querendo ou não. As
professoras eram respeitadas. Os pais corrigiam.
Hoje, sem espaço para gastar as energias, correm na
frente dos pais e dos avós que, esquecidos de que também
um dia foram crianças, já rotulam sua criancinha ágil e
sapeca de hiperativa. Dormindo na hora que quer, comendo
o que quer, refrigerante quase todos os dias, pais
trabalhando tanto, tentando ganhar dinheiro, há pouca
convivência familiar, pouco afeto, pouco amor, pouca
disciplina. Há então um império da medicação controlada
e da obesidade infantil preocupante. Crianças, filhas
únicas, ou com outro irmão apenas, que precisam aprender
a arte do altruísmo, da boa educação e que necessitam
ter pais com disposição de educar. Delegaram muito para
as escolas. Felizmente, há um movimento que se expande
de que a educação de caracteres morais deve ser intensa,
na família. Temos esperança.
Uma professora gabaritada e experiente, aflita com a
perturbação cotidiana das crianças, que estão
erradamente, pela atitude dos adultos que as cercam e
não educam, pensando que têm todos os direitos e nenhum
dever, nos contou um fato que mostra que há esperança,
que a situação vai melhorar, que o amor vai florescer e
que vamos, sim, melhorar. Isso aconteceu na semana em
que escrevemos estas linhas. Ela nos disse que estava
irritada, depois de várias aulas, tentando na verdade
dar aulas, porque o comportamento era difícil, quase não
dava tempo para as aulas. Tinha que ficar corrigindo
comportamentos e não conseguia o objetivo de ensinar.
Falta de limites em casa, provavelmente. Ou falta de
tempo para brincar. Vão dormir tão tarde que acordam na
hora de ir para a escola, à tarde, e, como não brincaram
de manhã, ou estavam sozinhas, não tinham com quem
brincar, querem brincar na hora da aula e, aí, pobre da
professora!
Ela estava desgastada e irritada. Notou que estava
falando alto, que estava sendo rude.... Ainda bem que se
observou! Pediu licença um minuto para as crianças. Saiu
e fez uma prece, para se acalmar. Voltou bem. Um dos
alunos, perspicaz, uma criança de inteligência emocional
alta, notou. Perguntou-lhe: - Professora, o que você fez
lá fora? Você saiu nervosa e voltou calma!
Com sinceridade, ela respondeu que estava nervosa, sim,
que tinha saído e feito uma prece para se acalmar.
Imediatamente, para surpresa dela, todas as crianças
baixaram as cabeças em sinal de respeito à prece e
fizeram o mesmo, para se acalmarem! Ela falou que se
sentiu envergonhada, pois as crianças, naquele momento,
lhe deram uma lição. E disse ela: E eu, brava, porque um
punha o pé na carteira, outro fazia isso, outro
aquilo... me envergonhei. Aprendi uma lição!
Feliz dela que teve humildade de reconhecer sua falha e
felizes as crianças por terem aprendido que a prece é um
eficaz meio de se acalmar!
A vida é aprendizado constante e as virtudes devem ser
nossa busca. Eduquemo-nos sempre e façamos esforços para
nos desvencilharmos do egoísmo que é uma das causas do
atraso da humanidade. Eduquemo-nos com amor, com Jesus
e, por certo, haveremos de ter um mundo melhor no amanhã.
A educação dos sentimentos diminuirá muito a necessidade
de medicação controlada, tanto em crianças, como também
em adultos. O equilíbrio será mais acentuado.
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