O real sentido
Estava um amigo com meio milheiro de tijolos para
transportar da calçada para dentro do terreno da sua
casa onde realizava uma reforma do prédio.
Vendo o esforço que despendia revelado pelo intenso suor
e a respiração ofegante, propus-me a aliviar o seu
trabalho colaborando na tarefa.
Assim que iniciei meu trabalho, ele se recostou sobre
uma árvore com sombra frondosa e ficou olhando o meu
esforço.
Parei o auxílio e indaguei a ele se não ia continuar com
o serviço. Ele me respondeu que não, já que eu estava
transportando os tijolos para ele. Imediatamente cessei
a minha colaboração esclarecendo-lhe que havia me
proposto a aliviar o serviço que cabia a ele realizar.
Já que não continuaria a trabalhar, eu também encerrava
minha cota de colaboração.
Outro dia o mau entendimento ocorreu em casa onde minha
esposa estava muito atarefada cuidando dos deveres do
lar, que eram muitos. Preocupava-se com a roupa que
necessitava de ser lavada e depois passada, com a
preparação do almoço já que receberíamos visita, com a
limpeza dos banheiros e me propus a aliviar o serviço
colaborando com ela.
Evidentemente que aceitou com grande satisfação e, para
meu espanto, assim que comecei a ajudá-la, sentou-se
numa confortável poltrona enquanto contemplava o meu
trabalho com as coisas da casa.
Parei o que estava fazendo para aliviá-la e
perguntei-lhe se não ia continuar trabalhando também.
Ela me respondeu calmamente que não, porque eu estava
fazendo o serviço por ela.
São duas situações hipotéticas que descrevi para
raciocinarmos sobre uma passagem do Evangelho de Jesus.
O verbo aliviar, que pode ser transitivo direto
e/ou indireto, possui o sentido de atenuar, reduzir
o peso, tornar mais leve.
Foi exatamente isso que Jesus quis nos dizer na passagem
do Evangelho no capítulo VI, quando nos fala no jugo
leve.
“Vinde a mim, todos vós que sofreis e que estais
sobrecarregados e eu vos aliviarei.”
Sabemos muito bem que a caminhada evolutiva é obra
intransferível de cada Espírito individualmente. Assim
como a mãe não pode transmitir o ensinamento para o
filho que começa a aprender a andar, andando por ele,
Jesus, por mais que nos ame como já provou isso
sobejamente, pode nos proporcionar alívio, mas não
realizar a obra da nossa redenção.
No livro Vinde A Mim, de Irmão José, capítulo 20,
psicografia de Carlos Baccelli, ele nos esclarece alguns
pontos interessantes dessa passagem do Evangelho.
“Com tais palavras, Jesus não está nos prometendo o que
Ele não pode cumprir, em substituição ao nosso esforço
pessoal.
Eximir alguém da prova indispensável ao seu progresso
seria o mesmo que negar ao aprendiz acesso aos bancos
escolares, condenando-o à eterna ignorância.
Revivendo a Mensagem Cristã, o Espiritismo não nos acena
com as teorias ilusórias que, com a finalidade de ganhar
adeptos, outras crenças religiosas formulam a quem não
possui suficiente maturidade para entender que o
Espírito é o construtor do próprio destino.
Não esperemos, portanto, que o Senhor ou os seus
Prepostos descruzem os braços por nós e nos poupem do
trabalho intransferível que, a fim de obter o que
desejamos, cada um de nós somos chamados a executar.”
Sem nenhuma dúvida quanto a esses ensinamentos. Enquanto
no plano espiritual e, portanto, desencarnados, nos é
apresentado todo um programa de trabalho que temos
condições de realizar, a Justiça Divina, que nos conhece
de maneira total, jamais colocaria sobre nossos ombros a
tarefa que não temos condições de dar cumprimento.
Jamais depositaria em nossos ombros uma cruz cujo peso
fôssemos incapazes de carregar.
O grande problema é que, mergulhando na carne, somos
convidados a gozar a vida porque, como dizem, ela é
muito curta, o tempo passa muito rápido.
Na posse desse raciocínio imediatista, buscamos uma
religião que se transforme em um hotel cinco estrelas
onde os Espíritos desencarnados mais evoluídos realizem
o trabalho que assumimos na dimensão espiritual,
realizando a tarefa aceita por nós, em nosso lugar, ou,
como somos muito benevolentes, livrando-nos das provas e
expiações programadas, para nos encontrar com a devida
lição de que necessitamos.
Ledo engano! Tudo em vão! Se pensamos que assim acontece,
podemos arrumar uma rede para esperar deitados pela
desencarnação que nos apresentará uma pesada conta
assumida perante o banco da consciência e que não
recebeu a devida quitação enquanto jornadeávamos pela
escola da Terra.