Processo eleitoral e a Paz
O processo eleitoral no Brasil deveria ter sido pautado
pela serenidade e o discernimento. Isto, se cumprido,
permitiria analisar de modo acurado os programas de
governo dos candidatos e escolher com sabedoria aquele
(ou aquela) melhor qualificado e com projetos exequíveis
para o bem coletivo.
Entretanto, durante o pleito, observaram-se condutas
reprocháveis; o analfabetismo político acachapante; as
ofensas por meio das redes sociais; os
xingamentos; os escárnios e deboches; o acentuado índice
de notícias falsas. E na esteira desse processo
turbulento havia muitos espiritistas, lamentavelmente.
Dominadas por discursos violentos, por promessas
absurdas e audaciosas, a turba se deixa levar,
facilmente, pela irreflexão e pela paixão. E a gênese
desse problema está em grande medida no enciclopedismo
superficial da educação formal, além, claro, da precária
educação moral; com as exceções compreensíveis.
Agora, passada a azáfama das eleições, respeita-se a
escolha democrática e deseja-se que o país seja guiado
da melhor maneira possível.
Mas há um aprendizado a ser retirado dessa balbúrdia: a
urgência em se atuar com coragem e pela paz de espírito,
tendo por bandeira o bem comum.
No seu tríplice aspecto, o Espiritismo possui uma
vertente filosófica que pode muito contribuir
para a Teoria Política, no sentido de sermos uma
sociedade mais justa, igualitária, amorosa, pacífica.
Posicionar-se, portanto, no bojo da sociedade é
demonstrar compromissos com os objetivos abraçados.
Kardec perguntou aos
imortais: Por
que, neste mundo, os maus exercem geralmente maior
influência sobre os bons?
E eles responderam: "Pela fraqueza dos bons. Os maus
são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos.
Estes, quando o quiserem, assumirão a preponderância”.(Questão
932, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.)
Ora, não é demais se questionar: Onde os espíritas
diante dos absurdos cometidos no decurso do processo
eleitoral brasileiro?
Estavam a trocar ofensas em redes sociais ou estavam a
contribuir para que tivéssemos um pleito justo e
pacífico?
Numa análise perfunctória, pode-se notar a timidez de
muitos em se posicionar politicamente, como se houvesse
qualquer erro nesse sentido.
Há que se separar o Espiritismo, enquanto doutrina, que
é apolítica, do espírita que é um ser social, inserido
em determinado país e que, conhecedor das leis, tem o
direito de se manifestar politicamente.
Mas observou-se também que muitos não quiseram ser um
porta-voz da paz no campo da violência; da união no
território da desunião; em esperança no cenário de
desolação, enfim.
Sem qualquer laivo de ser a “verdade” sobre os demais
cidadãos, o espírita, pelo conhecimento adquirido na
magna Doutrina, pode convidar os irmãos e irmãs ao bom
senso, por meio de exemplos e palavras amorosas,
reflexivas e profundas para que se tenha um pleito
democrático, pacífico, o mais cordial possível. É
preciso convidar as pessoas a agirem mais racionalmente
e não de modo apaixonado. E a entenderem a gravidade do
momento político (do direito de votar e ser votado e dos
impactos das leis em nossas vidas). Esperamos que nos
próximos pleitos tenhamos discussões/debates mais
elevados e calcados na caridade.
Não se pode compactuar com o erro, tampouco silenciar
diante das injustiças e violências.
Estes apontamentos singelos não pretendem ser dicas
jactanciosas, mas lembretes que devem pautar a prática
de todos os espíritas.
Não se pode ignorar também as preciosíssimas lições do
Espírito André Luiz, em Conduta Espírita, no que
tange à Política, tampouco os ensinamentos do Cristo.
Por fim, devemos ter mais coragem de nos
posicionarmos criticamente sobre a realidade social. E
entendermos a política como um poderoso instrumento de
transformação social. Não podemos esquecer figuras
importantes como José de Freitas Nobre, Bezerra de
Menezes, Cairbar Schutel, todas espíritas, mas que
tiveram contatos e deram suas contribuições ao mundo
político.
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