Pluralidade das existências
Em diversas ocasiões Jesus proclamou a sucessão dos
nascimentos
"Se a reencarnação não existisse, fora mister
inventá-la para a felicidade do gênero humano." -
O Livro dos Espíritos, q. 222.
Por mais paradoxal que possa parecer, existe verdade que
é aparentemente inverossímil... Lemos na questão 480 de O
Livro dos Espíritos: "As maiores verdades estão
sujeitas a parecer absurdos uma vez que se atenda à
forma, ou se considere como realidade a alegoria.
Compreendamos bem isto e não o esqueçamos nunca, pois
que se presta a uma aplicação geral”.
Se Jesus afirmou que
nos emanciparíamos a partir do conhecimento da Verdade,
com toda razão Allan Kardec pergunta aos Espíritos
Amigos: "por
que a Verdade não foi posta ao alcance de toda gente?"
E a resposta não se fez esperar: - "importa que cada
coisa venha a seu tempo. A Verdade é como a luz: o homem
precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário,
ele ficaria deslumbrado.
Deus jamais permitiu que o homem recebesse comunicações
tão completas e instrutivas como as que hoje lhe são
dadas. Havia na antiguidade alguns indivíduos
possuidores do que eles próprios consideravam uma
Ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que,
aos seus olhos, eram tidos por profanos. Pelo que
conhecemos das leis que regem esses fenômenos, devemos
compreender que esses indivíduos apenas recebiam algumas
verdades esparsas, dentro de um conjunto equívoco e, na
maioria dos casos, emblemático. Entretanto, para os
estudiosos, não há nenhum sistema antigo de filosofia,
nenhuma tradição, nenhuma religião que seja desprezível,
pois em tudo há germens de grandes verdades que, se bem
pareçam contraditórias entre si, dispersas que se acham
em meio de acessórios sem fundamento, facilmente
coordenáveis se nos apresentam, graças à explicação que
o Espiritismo dá de uma imensidade de coisas que até
agora se nos afiguravam sem razão alguma e cuja
realidade está hoje irrecusavelmente demonstrada.
Um sorriso zombeteiro escapa dos lábios daqueles que
ainda não teceram mais profundas ilações acerca da
palingenesia, quando tal assunto vem à baila.
Malgrado as objeções dos adversários da insofismável
realidade [reencarnação], reencarnaremos sempre, até
atingirmos o nível no qual esse processo evolutivo será
dispensado. Isto é simples questão de lógica, deduzida
até mesmo das próprias palavras do Cristo que em muitas
ocasiões proclamou a sucessão dos nascimentos, quer no
célebre diálogo com Nicodemos,
quer na constatação que João Batista era Elias
reencarnado,
quer no Sermão da Montanha quando
afirma o Mestre que da "prisão" não nos será
lícito sair enquanto não resgatarmos o último ceitil,
isto é, da condição de Espíritos sujeitos à
reencarnação até que todos os débitos sejam
quitados.
Outrossim, podem partir nossos raciocínios das premissas
de que Deus é infinitamente bom e Justo e que os
desníveis e desigualdades verificados hoje entre Suas
criaturas sendo tão variados e imensos, nos levam a
concluir que só mesmo a reencarnação poderá equacionar e
conciliar situações tão [aparentemente] discrepantes.
Ante todas essas circunstâncias não há como - fatalmente
- não desembocar na reencarnação, único meio de
explicar e clarear os múltiplos problemas de ordem
moral, filosófica e material à nossa volta.
Mesmo fazendo abstração de tudo que até aqui foi
mencionado, vamos a outra linha de raciocínio para ver
aonde levam as conclusões: Inicialmente, consideremos as
coisas do ponto de vista de quem não tem noção da
existência dos Espíritos. Admitindo, de acordo com a
crença vulgar, que a alma nasce com o corpo,
perguntamos:
1º. - Por que a alma mostra aptidões tão
diversas e independentes das ideias que a educação lhe
fez adquirir?
2º. - Donde vem a aptidão extranormal que muitas
crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela
arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se
conservam inferiores ou medíocres durante a vida toda?
3º. - Donde, em uns, as ideias inatas ou
intuitivas que noutros não existem?
4º. - Donde, em certas crianças o instinto
precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes,
os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza,
contrastando com o meio em que elas nasceram?
5º. - Por que, abstraindo-se da educação, uns
homens são mais adiantados do que outros?
6º. - Por que há selvagens e homens
civilizados?
Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes
problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são
iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por
que, entre elas, tão grande diversidade de aptidões?
Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas, então,
achamo-nos em presença da mais monstruosa e imoral das
doutrinas: O homem seria simples máquina, joguete da
matéria; deixaria de ter a responsabilidade de seus
atos, pois que poderia atribuir tudo às imperfeições
físicas. Se as almas são desiguais, é que Deus as criou
assim. Nesse caso, porém, por que a inata superioridade
concedida a algumas? Corresponderá essa parcialidade à
justiça de Deus e ao amor que Ele consagra igualmente a
todas as criaturas?
Admitamos, ao contrário, uma série progressiva de
existências anteriores para cada alma e tudo se explica.
Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que
aprenderam antes: são mais ou menos adiantados, conforme
o número de existências que contem, conforme já estejam
mais ou menos afastados do ponto de partida.
Deus, em Sua justiça, não pode ter criado almas
desigualmente perfeitas. Com a pluralidade das
existências, a desigualdade que notamos nada mais
apresenta em oposição à mais rigorosa equidade: é que
apenas vemos o presente e não o passado.
Segundo o Espiritismo - cuja amplitude excede a tudo que
se conhece – “não há muitas espécies de homens, há tão
somente homens cujos Espíritos estão mais ou menos
atrasados, porém, todos suscetíveis de progredir. Não é
este princípio mais conforme à justiça de Deus?"
Basta compulsarmos a Bíblia com "olhos de ver"
para tropeçarmos, a todo momento, com a reencarnação: -
A Parábola do Filho Pródigo, por exemplo, nos revela
a porta sempre aberta a qualquer um que queira
retornar de seus caminhos equivocados.
O final do Velho Testamento faz conexão com o início do
Novo Testamento respectivamente com uma profecia e sua
constatação a respeito da reencarnação de Elias/João
Batista. Diz Malaquias (4:5): "Eis que vos envio o
profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível
do Senhor”.
Registra Lucas o diálogo do Anjo Gabriel com Zacarias,
Pai de João Batista, anunciando-lhe o nascimento do
filho, fazendo menção a Elias (Lc., 1:17): "E irá
adiante dele no Espírito e virtude de Elias, para
converter os corações...".
Sobre a reencarnação, ensina Joanna de Ângelis:
"(...) A reencarnação constitui bênção para o Espírito
calceta, facultando-lhe ensejo nobre para reerguer-se e
avançar, considerando-se que a perfeição não tem limite;
dádiva do amor divino para a felicidade de todos os
Espíritos na fatalidade de atingir a glória estelar que
nos aguarda”.
-
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.
ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 628.