Reflexões filosóficas sobre temas atuais
E se é verdade que, hoje, no século XXI, como no
passado, se tem escrito muitos textos que, perante um
mundo em permanentes conflitos regionais, parecem
autênticas utopias, também se acredita que algumas
situações bélicas, ainda vigentes, serão resolvidas,
apenas, através da força do diálogo, entre os povos
envolvidos, e com a intervenção diplomática de países
que rejeitam a violência bélica.
A conflitualidade belicosa e/ou através de outros
processos, eventualmente, humilhantes, como os embargos,
os boicotes, o encerramento de fronteiras para pessoas e
bens de primeira necessidade, o impedimento do envio de
produtos e artigos de carácter humanitário, igualmente
não favorece a paz e a harmonia entre os povos.
Refletir sobre determinadas situações e publicar tais
reflexões, pode, até, constituir motivo de “chacota”,
riso ou perseguição: política, religiosa, econômica ou
de qualquer outra natureza. Estes riscos é preciso
assumir, esperando-se, contudo, a compreensão e o bom
senso de quem lê e analisa tais reflexões/opiniões. O
objetivo não é ofender, nem criticar negativa e
ofensivamente, mesmo que certas frases ou palavras
possam induzir a extrair conclusões desta natureza.
Pretende-se, isso sim, apelar a todas as pessoas de boa
vontade, com responsabilidades em diversos setores e aos
vários níveis dos diferentes Poderes, para que também
elas parem um pouco no tempo para refletir nas gravosas
situações que assolam o mundo, para as quais podem dar
um contributo valioso, no sentido da sua resolução.
Depois de algumas centenas de artigos publicados, sobre
temas atuais, com algum suporte
científico-investigativo, obviamente que não se esperava
mudar o mundo, nem as comunidades, porém, a verdade é
que, ao nível escolar, no contexto da formação
profissional, por exemplo, vem-se reconhecendo este
esforço, por parte de colegas e, principalmente, no que
aos formandos e alunos respeita, no contexto das
disciplinas de Integração e Cidadania, proporcionando:
debates abertos, democráticos, despreconceituosos,
contextualizados em sala de formação; elaboram-se
trabalhos muito interessantes, com alguma investigação,
sobre os mais diversos temas, alguns destes,
considerados autênticos tabus, até há bem pouco tempo.
Os formandos, principalmente do nível secundário, buscam
nos sites, em bibliografia especializada, algumas ideias
que depois citam nos seus trabalhos. Torna-se, portanto,
gratificante, este tipo de intervenções e estimula para
a sua continuação, nos mesmos moldes: temas atuais, com
suporte científico, de reduzidas dimensões e de fácil
leitura e compreensão.
A Filosofia e as diversas áreas do conhecimento,
trazidas a público, com a atualização possível, vão
continuar a suportar os trabalhos que se seguirão, não
excluindo, naturalmente, os conhecimentos e invenções da
ciência, da técnica e da tecnologia. A este manancial de
apoios, juntar-se-á, sempre que oportuno, a informação
recolhida e divulgada pelos “mass media”,igualmente
muito importantes para o conhecimento do mundo atual. Os
objetivos continuarão a girar em torno da Cidadania, dos
Direitos Humanos, Educação e Formação Profissional,
cultural, laboral, lazer e tantos outros aspectos da
pessoa humana.
A dignidade da pessoa humana estará presente nos
trabalhos que se vão publicando, e uma preocupação
constante pelos mais desfavorecidos integra uma postura
que se deseja, a curto prazo, na maioria dos cidadãos,
quaisquer que sejam as suas posições estatutárias,
econômicas, políticas, religiosas, sociais, étnicas,
etárias, éticas e quaisquer outras, resultantes do
processo de socialização.
Com efeito: «Você deve preocupar-se pelo que acontece
no mundo. Além do futebol, da praia, das salas de aula e
do violão, existe um mundo girando em ritmo social. A
vida do jovem careceria de sentido se não se engajasse
na construção de um mundo que o está desafiando. Deve
voltar os olhos e abrir o coração para os milhares de
seres que sofrem mergulhados e angustiados em mil
infortúnios da fome, da fumaça de crises, de guerras, de
ignorância» (GALACHE-GINER-ARANZADI,
1969:13).
O texto acima citado foi escrito em 1969, justamente há
quarenta e nove anos. O que mudou de então para cá
(2018)? O que foi feito pelos homens? Obviamente que se
deve ser justo e correto, e/ou pelo menos, verdadeiro,
segundo a sua própria consciência e convicções. No
domínio das ciências e da tecnologia deram-se passos de
gigante, e os resultados estão à vista na medicina, na
engenharia, na arquitetura, na biologia, na genética,
nos fármacos, e noutros domínios que têm contribuído
para a qualidade de vida das pessoas, no combate a
doenças mortíferas, apenas para referir algumas áreas.
Infelizmente, o mesmo não acontece no que respeita à
consideração devida à dignidade da pessoa humana, na
eliminação das desigualdades, no acesso ao trabalho e
aos diversos cargos políticos e empresariais. Direitos
Humanos e Cidadania têm sido o núcleo substantivo para o
desenvolvimento das centenas de reflexões, porque, a
partir dele, da sua interiorização e boas práticas, será
possível, um dia, alterar-se alguma coisa. A saúde, a
felicidade, o trabalho são outros tantos aspectos pelos
quais se vem lutando.
Possivelmente, realizadas as diversas dimensões da
pessoa humana, também a felicidade possa ser um bem ao
alcance da maior parte dos cidadãos, felicidade aqui
entendida com um significado talvez um pouco amplo: «Ser
feliz é o objetivo principal de todas as pessoas. E a
felicidade é obtida em pequenas doses, como resultante
de seus esforços, da efetivação prática de suas
aspirações, da sua capacidade de resolver problemas para
adaptar-se à vida, e da sua capacidade também de saber
usufruir dos seus recursos pessoais e dos recursos
disponíveis pela natureza e pela sociedade»(RESENDE,
2000:176).
Obviamente que os valores a desenvolver são imensos, e
diversificados. Tem-se procurado, ao longo das reflexões
já publicadas (bem como das que virão a sê-lo),
sensibilizar a sociedade e as pessoaspara
diferentes problemas e situações, apelando-se aos
Poderes que emanam dos diversos cargos e funções.
Tem havido uma preocupação permanente em não “fulanizar”
esta ou aquela situação que, quando circunstancialmente
abordadas, têm algum suporte científico e divulgação
prévia nos órgãos de comunicação social. Tentar fazer
coincidir algumas abordagens com situações, ou
personalidades eventualmente conhecidas é uma mera
especulação da responsabilidade de quem usa tais
assertivas.
Não está nos projetos, nem nas intenções, e muito menos
nas práticas do autor: nenhuma ideia, tentativa ou busca
de ofender quem quer que seja. Pretende-se, isso sim,
alertar, e pedir ajuda, para as situações, para os
problemas, para os mais desfavorecidos, para que “quem
pode, quer e manda” possa contribuir para um mundo
mais humano, mais justo, mais igualitário. Afinal, e de
uma forma geral, todos defendem os Direitos Humanos,
todos querem viver em cidadania plena, porém, muito
poucos os cumprem, provavelmente, por várias razões,
algumas destas nem sempre diretamente imputáveis ao
cidadão.
Certamente que se pode entender os Direitos Humanos a
partir do indivíduo, o qual constitui uma pequena célula
da humanidade, de que resulta que aqueles Direitos são
comuns a toda a humanidade, de resto, recuando na
história, verifica-se que: «Os direitos do homem
estão ligados a uma filosofia individualista: o poder,
não o esqueçamos, será dito legítimo se respeitar um
certo número de prerrogativas concedidas ao indivíduo
como tal. Noutros termos, o indivíduo com os seus
direitos constitui o fim da associação política, o que
religa a concepção dos direitos do homem à ideia de um
poder fundamentado no contrato social». (HAARSCHER,
1993:16)
É, portanto, exclusivamente, sempre nesta perspectiva,
que todos os artigos elaborados, e publicados, serão
orientados. Recusa-se quaisquer outras interpretações
porque, ainda que legítimas, não correspondem às
intenções e objetivos do autor. Igualmente importa
esclarecer que se deseja, na medida do possível, alguma
atualidade dos temas abordados, fundamentados, embora,
no pensamento de grandes mestres, quer do passado, quer
contemporâneos, pretendendo-se, com esta preocupação,
justamente, anular quaisquer aproveitamentos, sejam de
que natureza forem. O autor será sempre o primeiro a
respeitar as regras da escrita assertiva, portanto,
frontal, transparente, sincero e verdadeiro, sem o
recurso ao plágio, à ofensa e no respeito devido aos
leitores.
Nos tempos difíceis que ainda correm (2018), o
contributo que todos os cidadãos possam dar, para que se
consiga viver num mundo de verdadeiros valores humanos,
pode ser manifestado de diversas formas, por meios
corretos, legítimos e legais. Enquanto uns servem nas
diversas instituições públicas, privadas, religiosas,
políticas, empresariais, associativas e tantas outras,
igualmente importantes, outros contribuem com a escrita,
com a reflexão e apresentação de ideais alternativos. O
autor dos temas que vêm sendo abordados enquadra-se, na
presente fase da sua vida, no grupo destes últimos.
É claro que quem se expõe, universalmente, utilizando as
tecnologias da informação e da comunicação, através de
jornais digitais, redes sociais e imprensa escrita,
corre imensos riscos de não ser corretamente
compreendido, inclusive vir a sofrer algum tipo de
prejuízos: quer na sua honra e dignidade; quer a nível
material.
Provavelmente este será o preço a pagar: por quem ousa
dar um contributo para um mundo mais fraterno; por quem
luta pela paz e pela felicidade universais; por quem
levanta a voz em favor dos mais carenciados e em
benefício dos excluídos, enfim, por quem se assume com
liberdade e responsabilidade.
A Cidadania, a que o autor tem estado vinculado:
primeiro, pelo exercício da atividade docente; depois,
pelo exercício da sua atividade intelectual, é outro
domínio que urge melhorar, através de alguns
instrumentos e práticas legais, desde logo, como já
referido, a formação profissional, na sua vertente
sociocultural. Ainda haverá um déficit de Cidadania, não
só em Portugal como em todo o mundo, todavia, já se
entrevê melhorias significativas, porque se vem
reconhecendo, entre os povos democráticos, que não há
alternativas aos valores cívicos da Cidadania.
Na formação do cidadão responsável para o século XXI,
podem entrar vários agentes socializadores, desde a
família à escola, passando pelas igrejas, comunidade,
empresas, comunicação social, entre outros. Claro que é
importante educar para a Cidadania os jovens de hoje,
dirigentes do futuro.
Nesta linha de orientação, pode-se concordar que: «Tudo
isto levou a pensar que, sem prejuízo da educação cívica
e política dos mais jovens a fazer em contexto escolar,
a formação para a cidadania nas condições atuais é,
sobretudo, e com caráter de urgência, educação de
adultos. Sempre foi preterida a educação dos cidadãos de
hoje a favor da educação dos cidadãos de amanhã. Mas
nada ou muito pouco do que uma criança possa aprender na
escola no domínio das competências referentes à
cidadania resiste ao mau exemplo da inatividade
cívico-política dos cidadãos mais velhos. É necessário
que estes se eduquem ou sejam educados para que possam
por sua vez educar os mais novos. É necessário, dito por
outras palavras, que os adultos adquiram e exercitem
competências de reflexão, discussão e intervenção na
esfera da vida comunitária» (PINTO,
2004:146-7).
Parece, portanto, que a abordagem de alguns temas
atuais, no contexto das dificuldades de vária ordem, que
o mundo, e Portugal, atravessam neste primeiro quarto do
século XXI, são perfeitamente pertinentes, sem
personalizar: esta ou aquela figura; esta ou aquela
individualidade; esta ou aquela instituição, pela
perspectiva negativista, mas tão só chamar a atenção
para as desigualdades ainda vigentes, em que de fato:
alguns poucos tanto possuem; e muitos outros pouco ou
nada têm.
Seria, assim, tão difícil, até voluntariamente,
proceder-se a uma melhor redistribuição da riqueza?
Seria, assim, tão difícil, apoiar socialmente aqueles
milhares de cidadãos dando-lhes emprego, melhores
salários, reformas e benefícios sociais, em detrimento
daqueles que, certamente, com toda a legitimidade, têm
demais? Passar alguns minutos, todos os dias, para
refletir nestas realidades é o objetivo, mais um, dos
trabalhos que vêm sendo publicados e esta atitude não
pretende ofender ninguém.
A situação em que vivem centenas de milhares de
portugueses é que incomoda, ofende e viola os mais
elementares direitos e valores humanos, esmaga a
dignidade da pessoa humana. Esta dignidade vai
conseguir-se pela paz em todas as suas dimensões, desde
logo enquanto valor insubstituível, na medida em que: «A
paz se constrói respeitando a pessoa humana, dando-lhe
os seus direitos, executando-se na convivência fraternal
entre os povos, opondo às armas, a negociação,
substituindo a hostilidade pela compreensão e o diálogo» (GALACHE-GINER-ARANZADI,
1969:381.)
Concluindo esta reflexão especial reitera-se, portanto,
a determinação em contribuir para um mundo melhor, sem
ofender quem quer que seja, por muitas coincidências
que, ocasionalmente, se possam tentar extrair. Não
pretende o autor magoar, desrespeitar ou desobedecer às
pessoas, instituições e ordenamento político, jurídico,
religioso e social, bem pelo contrário, dar o seu
modesto contributo para uma sociedade mais fraterna.
Apenas isto, e nada mais.
Bibliografia:
GALACHE – GINER – ARANZADI, (1969). Uma
Escola Social. 17ª Edição. São Paulo: Edições
Loyola.
PINTO, Fernando Cabral, (2004). Cidadania
Sistema Educativo e Cidade Educadora. Lisboa:
Piaget.
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das
Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor
Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de
Janeiro: Qualitymark.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
é presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal.
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