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por Maria de Lurdes Duarte

 

Perante as injustiças e os males do Mundo


Dizer que a Terra está a atravessar uma época difícil, em que os horrores, as injustiças e o desespero vão ganhando terreno, temos de convir que já passou, infelizmente, a ser um lugar-comum. Refletir sobre as nossas atitudes perante o óbvio que nos entra pelas portas adentro (seja através da comunicação social, das redes sociais, ou qualquer outra forma) tornou-se uma necessidade urgente e inadiável.

Para qualquer estudioso da Doutrina Espírita, é, por outro lado, do conhecimento geral que a Terra está a atravessar uma fase decisiva na sua etapa evolutiva, já que, sendo, desde há muito, um mundo de provas e expiações, se prepara para entrar, a curto ou médio prazo, na categoria dos mundos de regeneração.

Na posse de tais conhecimentos, anunciados pelos Espíritos, desde a Codificação, sentimo-nos bafejados pela sorte (salvo a expressão) de acalentar a certeza num futuro que, mais cedo ou mais tarde, há de ser o da Terra e dos Espíritos que a habitarão: um futuro mais promissor, onde a paz, a harmonia, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a partilha, o respeito, a bondade, o perdão, a compaixão, e tantos outros valores, pelos quais tanto ansiamos, serão mais reais e efetivos. Em suma, a felicidade, que tão justamente desejamos, deixará de nos parecer uma quimera inalcançável; será a realidade quotidiana.

Poderemos, então, mais libertos dos males que nos empecilham, trabalhar pela nossa evolução, estudando e aplicando os valores que regenerarão a humanidade cansada de sofrer.

Pois, é aqui que importa atentarmos no nosso papel para que todo este ideal realmente aconteça. Somos Espíritas. Sim. Sabemos que nada acontece por acaso. Que estamos a ser acompanhados pelas equipes de socorro Espiritual, pelos Mentores responsáveis pelo nosso Mundo, de entre eles o maior de todos, Jesus. Sabemos como é importante sintonizarmos com essas Equipes, através da prece, colocarmo-nos à sua disposição, como verdadeiros trabalhadores da seara. Foi Jesus quem nos deixou o necessário e importante aviso “Orai e vigiai”.

Mas o que significará o “vigiai” aconselhado pelo Mestre? Mantermo-nos em oração constante, alheados do mundo, da sociedade que nos acolheu, numa fútil e infrutífera espera de que Deus nos venha resolver os problemas, de que os céus se movam pelos nossos interesses e necessidades, confiantes na ação e na boa vontade dos Espíritos, na certeza de que velam por nós e hão de livrar-nos da situação calamitosa criada pela nossa incúria, pela nossa ambição desregrada, pelo nosso orgulho desmedido, pelas paixões criadas pela ânsia dos prazeres sem regra nem medida?

Orar, pedindo a Deus o que nos compete a nós fazer, e… esperar? Usamos, muitas vezes a desculpa de que, não havendo causa sem efeito, não há dor e sofrimento sem razão prévia. Dizemos, ou pensamos, que “sendo a sementeira livre e a colheita obrigatória”, cabe a cada um suportar com coragem e resignação as dores de hoje, já que acabarão por saldar as dívidas com a Lei Divina, deixando o sofredor de hoje livre dos erros passados e mais “limpo para encarar os desafios do futuro. Pois tudo isso é verdade. Belas palavras, sábias e acertadas, principalmente quando as dores são dos outros.

Entretanto… Ficaremos impávidos e serenos, enquanto em redor de nós, o Mundo se afunda na dor e no desespero? Continuaremos a esbanjar, gozar e aproveitar, como seres bem-aventurados, imunes à dor alheia, como se fôssemos detentores de direitos que não assistem aos outros também?

Continuaremos a empanturrar-nos de alimentos, bebidas, tóxicos e afins, sobrecarregando o nosso corpo, templo sábio do Espírito, vestimenta sagrada que nos foi emprestada para usar no caminho e, mais tarde, devolver à Terra que bondosamente nos acolheu? Mesmo que esses exageros provoquem todo o tipo de doenças que tantas vezes encurtam o tempo da nossa estadia neste mundo, impedindo-nos de cumprir até ao fim os deveres assumidos na espiritualidade?

 Mesmo que os nossos exageros de consumo sejam uma sobrecarga para o planeta, causando a destruição do Lar amoroso que Deus nos destinou? Continuaremos a entupir as lixeiras com os nossos desperdícios?

 Mesmo sabendo da fome que assola tantos e tantos irmãos nossos, tantas crianças, cujos corpos já nem parecem humanos, de tão deformados pela fome, pela miséria, pela morte que já os colheu, mesmo antes do último sopro de vida se ter apagado? Isto passa-se “lá longe”, em países como o Iêmen, e outros que tais, e “olhos que não veem, coração que não sente”, dizia o povo de antigamente. Mas hoje já não temos tais desculpas. Tudo é do conhecimento de todos. Não serão esses seres nossos irmãos, filhos do mesmo Deus? Não seremos todos, como cidadãos do mesmo Mundo, responsáveis uns pelos outros?

E será apenas em países longínquos que a situação se torna calamitosa? Às vezes, tudo está bem perto de nós. Não vemos porque se torna mais fácil cultivar a cegueira.

Continuaremos a assistir às injustiças, à descriminação, ao desrespeito dos direitos mais elementares dos seres humanos, à prepotência de uns perante a humilhação de outros, ao crescimento da criminalidade, à destruição do planeta… um sem-fim de situações que, no fundo, ferem a nossa sensibilidade, revoltam-nos por dentro?

Sentimo-nos impotentes, um grãozinho de areia insignificante, nesta imensidão de injustiças e devaneios que assolam e devastam as sociedades atuais. Mas seremos, realmente impotentes? Só nos restará, como espíritas, amar e perdoar incondicionalmente, manter os corações longe da revolta, manter a fé em dias melhores e… ficar à espera do mundo de regeneração que há de vir?

Ou teremos efetivamente um papel mais concreto e palpável no combate a esta ordem de coisas? Sendo Jesus o nosso Mestre e Mentor, aquele a quem buscamos seguir o exemplo em todas as horas, perguntemos à nossa consciência: o que faria Jesus se vivesse na Terra nos tempos que correm?

Tomemos como referência o seu modo de proceder enquanto caminhou por este Mundo. Nunca deixando de amar e perdoar, de curar e abençoar, de acompanhar e conviver com o pecador como com o justo, jamais pactuou com os erros e vícios. Amou o pecador, mas abominou o pecado. Nunca deixou de alertar, de aconselhar, de instruir, de ensinar e apontar o caminho que traria o verdadeiro alívio dos males que apoquentavam aqueles que a ele se dirigiam em busca de consolo. “Vai e não voltes a pecar”, era sempre a sua recomendação final. Sigamos o seu exemplo e os seus conselhos.

Todos ansiamos pela felicidade. É justo e humano. É o nosso destino. Mas a nossa é impossível sem a dos outros. Somos um elo nessa imensa cadeia que é o Universo criado pelo amor do Pai. Hoje, temos a Terra como abençoado Lar. Um planeta maravilhoso, cheio de encantos, equilíbrio, harmonia, que deixam antever as maravilhas de Mundos mais felizes e harmonizados no Bem. Não teimemos em destruir o que a Lei de Deus construiu. A Lei nos chamará a contas.

Na Terra somos um grãozinho de areia no Infinito, um de muitos milhões que caminham ao nosso lado, às vezes palmilhando à custa de dores atrozes e sofrendo as maiores injustiças. Que nos importa se são ou não merecidas? Que nos importa se são consequência de erros passados? Isso é com Deus e a consciência de cada um. Não nos compete analisar as causas que levam à dor dos outros. Compete-nos amar, amparar, instruir, encorajar, AGIR. Lutar, com as armas do Amor e da Educação (espírita, e por que não?), por esse Mundo melhor que há de vir. Mas há de vir, só e apenas, quando nós efetivamente quisermos e o construirmos. Senão…

Senão… Chegará o dia em que sairemos daqui, tão pobres como quando entramos. E voltaremos. Que encontraremos, nesse dia? Um Mundo melhor para o qual não contribuímos? Teremos mérito para tal?

Então, que fazer? Valerá a pena fazer alguma coisa? Ações isoladas poderão dar fruto? Quem nos disse que são ações isoladas? Somos grãozinhos de areia. Mas, se cada um desses grãozinhos de areia se empenhar na harmonia e na construção de um Mundo melhor, no cantinho que lhe coube ocupar, muitos grãozinhos de areia estarão a trabalhar para o mesmo, e algum resultado dará.

E é neste ponto que as nossas convicções espíritas nos fortalecerão o empenho na luta, na certeza de que o Alto está ao nosso lado na construção do Bem. O “orai e vigiai” ativo, dinâmico e perseverante atrairá as forças e as energias do Alto que jamais deixarão de nos amparar. Importa não desistir.

Sejamos fortes e persistentes na construção desse Mundo de regeneração que tarda em chegar devido aos braços que cruzamos durante demasiado tempo. Sejamos verdadeiros trabalhadores da Seara do Cristo, na certeza de que Ele abençoará o nosso esforço.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita