Perante as injustiças e os males do Mundo
Dizer que a Terra está a atravessar uma época difícil,
em que os horrores, as injustiças e o desespero vão
ganhando terreno, temos de convir que já passou,
infelizmente, a ser um lugar-comum. Refletir sobre as
nossas atitudes perante o óbvio que nos entra pelas
portas adentro (seja através da comunicação social, das
redes sociais, ou qualquer outra forma) tornou-se uma
necessidade urgente e inadiável.
Para qualquer estudioso da Doutrina Espírita, é, por
outro lado, do conhecimento geral que a Terra está a
atravessar uma fase decisiva na sua etapa evolutiva, já
que, sendo, desde há muito, um mundo de provas e
expiações, se prepara para entrar, a curto ou médio
prazo, na categoria dos mundos de regeneração.
Na posse de tais conhecimentos, anunciados pelos
Espíritos, desde a Codificação, sentimo-nos bafejados
pela sorte (salvo a expressão) de acalentar a
certeza num futuro que, mais cedo ou mais tarde, há de
ser o da Terra e dos Espíritos que a habitarão: um
futuro mais promissor, onde a paz, a harmonia, o amor, a
fraternidade, a solidariedade, a partilha, o respeito, a
bondade, o perdão, a compaixão, e tantos outros valores,
pelos quais tanto ansiamos, serão mais reais e efetivos.
Em suma, a felicidade, que tão justamente desejamos,
deixará de nos parecer uma quimera inalcançável; será a
realidade quotidiana.
Poderemos, então, mais libertos dos males que nos
empecilham, trabalhar pela nossa evolução, estudando e
aplicando os valores que regenerarão a humanidade
cansada de sofrer.
Pois, é aqui que importa atentarmos no nosso papel para
que todo este ideal realmente aconteça. Somos Espíritas.
Sim. Sabemos que nada acontece por acaso. Que estamos a
ser acompanhados pelas equipes de socorro Espiritual,
pelos Mentores responsáveis pelo nosso Mundo, de entre
eles o maior de todos, Jesus. Sabemos como é importante
sintonizarmos com essas Equipes, através da prece,
colocarmo-nos à sua disposição, como verdadeiros
trabalhadores da seara. Foi Jesus quem nos deixou o
necessário e importante aviso “Orai e vigiai”.
Mas o que significará o “vigiai” aconselhado pelo
Mestre? Mantermo-nos em oração constante, alheados do
mundo, da sociedade que nos acolheu, numa fútil e
infrutífera espera de que Deus nos venha resolver os
problemas, de que os céus se movam pelos nossos
interesses e necessidades, confiantes na ação e na boa
vontade dos Espíritos, na certeza de que velam por nós e
hão de livrar-nos da situação calamitosa criada pela
nossa incúria, pela nossa ambição desregrada, pelo nosso
orgulho desmedido, pelas paixões criadas pela ânsia dos
prazeres sem regra nem medida?
Orar, pedindo a Deus o que nos compete a nós fazer, e…
esperar? Usamos, muitas vezes a desculpa de que, não
havendo causa sem efeito, não há dor e sofrimento sem
razão prévia. Dizemos, ou pensamos, que “sendo a
sementeira livre e a colheita obrigatória”, cabe a cada
um suportar com coragem e resignação as dores de hoje,
já que acabarão por saldar as dívidas com a Lei Divina,
deixando o sofredor de hoje livre dos erros passados e
mais “limpo para encarar os desafios do futuro. Pois
tudo isso é verdade. Belas palavras, sábias e acertadas,
principalmente quando as dores são dos outros.
Entretanto… Ficaremos impávidos e serenos, enquanto em
redor de nós, o Mundo se afunda na dor e no desespero?
Continuaremos a esbanjar, gozar e aproveitar, como seres
bem-aventurados, imunes à dor alheia, como se fôssemos
detentores de direitos que não assistem aos outros
também?
Continuaremos a empanturrar-nos de alimentos, bebidas,
tóxicos e afins, sobrecarregando o nosso corpo, templo
sábio do Espírito, vestimenta sagrada que nos foi
emprestada para usar no caminho e, mais tarde, devolver
à Terra que bondosamente nos acolheu? Mesmo que esses
exageros provoquem todo o tipo de doenças que tantas
vezes encurtam o tempo da nossa estadia neste mundo,
impedindo-nos de cumprir até ao fim os deveres assumidos
na espiritualidade?
Mesmo que os nossos exageros de consumo sejam uma
sobrecarga para o planeta, causando a destruição do Lar
amoroso que Deus nos destinou? Continuaremos a entupir
as lixeiras com os nossos desperdícios?
Mesmo sabendo da fome que assola tantos e tantos irmãos
nossos, tantas crianças, cujos corpos já nem parecem
humanos, de tão deformados pela fome, pela miséria, pela
morte que já os colheu, mesmo antes do último sopro de
vida se ter apagado? Isto passa-se “lá longe”, em países
como o Iêmen, e outros que tais, e “olhos que não veem,
coração que não sente”, dizia o povo de antigamente. Mas
hoje já não temos tais desculpas. Tudo é do conhecimento
de todos. Não serão esses seres nossos irmãos, filhos do
mesmo Deus? Não seremos todos, como cidadãos do mesmo
Mundo, responsáveis uns pelos outros?
E será apenas em países longínquos que a situação se
torna calamitosa? Às vezes, tudo está bem perto de nós.
Não vemos porque se torna mais fácil cultivar a
cegueira.
Continuaremos a assistir às injustiças, à descriminação,
ao desrespeito dos direitos mais elementares dos seres
humanos, à prepotência de uns perante a humilhação de
outros, ao crescimento da criminalidade, à destruição do
planeta… um sem-fim de situações que, no fundo, ferem a
nossa sensibilidade, revoltam-nos por dentro?
Sentimo-nos impotentes, um grãozinho de areia
insignificante, nesta imensidão de injustiças e
devaneios que assolam e devastam as sociedades atuais.
Mas seremos, realmente impotentes? Só nos restará, como
espíritas, amar e perdoar incondicionalmente, manter os
corações longe da revolta, manter a fé em dias melhores
e… ficar à espera do mundo de regeneração que há de vir?
Ou teremos efetivamente um papel mais concreto e
palpável no combate a esta ordem de coisas? Sendo Jesus
o nosso Mestre e Mentor, aquele a quem buscamos seguir o
exemplo em todas as horas, perguntemos à nossa
consciência: o que faria Jesus se vivesse na Terra nos
tempos que correm?
Tomemos como referência o seu modo de proceder enquanto
caminhou por este Mundo. Nunca deixando de amar e
perdoar, de curar e abençoar, de acompanhar e conviver
com o pecador como com o justo, jamais pactuou com os
erros e vícios. Amou o pecador, mas abominou o pecado.
Nunca deixou de alertar, de aconselhar, de instruir, de
ensinar e apontar o caminho que traria o verdadeiro
alívio dos males que apoquentavam aqueles que a ele se
dirigiam em busca de consolo. “Vai e não voltes a
pecar”, era sempre a sua recomendação final. Sigamos o
seu exemplo e os seus conselhos.
Todos ansiamos pela felicidade. É justo e humano. É o
nosso destino. Mas a nossa é impossível sem a dos
outros. Somos um elo nessa imensa cadeia que é o
Universo criado pelo amor do Pai. Hoje, temos a Terra
como abençoado Lar. Um planeta maravilhoso, cheio de
encantos, equilíbrio, harmonia, que deixam antever as
maravilhas de Mundos mais felizes e harmonizados no Bem.
Não teimemos em destruir o que a Lei de Deus construiu.
A Lei nos chamará a contas.
Na Terra somos um grãozinho de areia no Infinito, um de
muitos milhões que caminham ao nosso lado, às vezes
palmilhando à custa de dores atrozes e sofrendo as
maiores injustiças. Que nos importa se são ou não
merecidas? Que nos importa se são consequência de erros
passados? Isso é com Deus e a consciência de cada um.
Não nos compete analisar as causas que levam à dor dos
outros. Compete-nos amar, amparar, instruir, encorajar,
AGIR. Lutar, com as armas do Amor e da Educação
(espírita, e por que não?), por esse Mundo melhor que há
de vir. Mas há de vir, só e apenas, quando nós
efetivamente quisermos e o construirmos. Senão…
Senão… Chegará o dia em que sairemos daqui, tão pobres
como quando entramos. E voltaremos. Que encontraremos,
nesse dia? Um Mundo melhor para o qual não contribuímos?
Teremos mérito para tal?
Então, que fazer? Valerá a pena fazer alguma coisa?
Ações isoladas poderão dar fruto? Quem nos disse que são
ações isoladas? Somos grãozinhos de areia. Mas, se cada
um desses grãozinhos de areia se empenhar na harmonia e
na construção de um Mundo melhor, no cantinho que lhe
coube ocupar, muitos grãozinhos de areia estarão a
trabalhar para o mesmo, e algum resultado dará.
E é neste ponto que as nossas convicções espíritas nos
fortalecerão o empenho na luta, na certeza de que o Alto
está ao nosso lado na construção do Bem. O “orai e
vigiai” ativo, dinâmico e perseverante atrairá as forças
e as energias do Alto que jamais deixarão de nos
amparar. Importa não desistir.
Sejamos fortes e persistentes na construção desse Mundo
de regeneração que tarda em chegar devido aos braços que
cruzamos durante demasiado tempo. Sejamos verdadeiros
trabalhadores da Seara do Cristo, na certeza de que Ele
abençoará o nosso esforço.
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