Na “boca” do caixa
Todos que acreditam na imortalidade da vida anseiam por
um bom lugar ao deixar o corpo físico aqui na Terra.
Entretanto, isso não acontece por diversas razões.
Vamos a uma situação da vida real para entendermos os
motivos dessa frustração em nosso retorno ao mundo
espiritual.
Com certeza, você, como usuário de agências bancárias,
já esteve em uma delas num desses dias em que parece que
o banco ferve. Geralmente isso ocorre no início
do mês em que os aposentados, injustamente remunerados
neste país dos disparates sociais, com as devidas
exceções, se dirigem para receber o magro salário
após uma vida de trabalho que não lhes proporciona um
final de existência com a devida dignidade que todo
trabalhador deveria merecer. Para quem discorda dessa
opinião, analise os salários de determinados marajás em
diversos setores da sociedade e que se constituem no
sorvedouro da receita da Previdência Social. Nessas
datas, portanto, as agências bancárias se sobrecarregam
no atendimento ao público.
Por acaso você, uma única vez, viu alguém que esteja
numa longa e morosa fila aguardando atendimento e,
quando está na boca do caixa para ser atendido
depois de muito esperar, sair desse lugar privilegiado e
dirigir-se a última pessoa da fila cedendo-lhe a vez
para ser atendido e colocando-se no último lugar para
reiniciar mais uma longa espera?
Salvo algum enorme engano da minha parte, creio que sua
resposta será negativa, ou seja, nunca viu alguém que
está prestes a ser atendido após penosos minutos de
espera ceder seu lugar para o último da fila. Mas eu já
vi uma pessoa jovem valer-se de um parente idoso
colocado a seu lado para entrar na fila preferencial e
dessa maneira burlar a fila, e pagar suas contas de
maneira muito mais cômoda à custa do velhinho ali
utilizado como um instrumento sem vontade própria.
Seria por atitudes semelhantes que Chico dizia que muita
gente desejava ir para o céu, mas na Terra fazia o que o
diabo gosta?
Se você ainda não viu nexo entre o que foi escrito e o
mérito de ir ter a um bom lugar após o desencarne, vou
lembrar a passagem do Evangelho de Marcos, 9:35, que diz
o seguinte: Se alguém quiser ser o primeiro, seja o
último de todos e servo de todos.
Fazemos isso enquanto nos digladiamos nas batalhas do
mundo material? Saímos da boca do caixapara
ceder lugar àquele que está em último lugar no sentido
extenso do termo?
Será que não foi exatamente isso que fez durante toda a
sua existência Chico Xavier ao abrir mão de sua vida em
favor da imensa população de sofredores que o procuravam
desesperados?
Será que não foi o que fizeram Madre Teresa de Calcutá e
Irmã Dulce buscando os esquecidos pelos caminhos do
mundo, esquecendo-se de si próprias?
Não teriam tido o mesmo ato de renúncia, inclusive com a
entrega da própria existência, o pastor Martin Luther
King, batalhando pelo direito dos negros, e Mahatma
Gandhi em busca da libertação do povo indiano do jugo
inglês?
Saíram da boca do caixa para entregar suas
existências àqueles que necessitavam mais.
Esse é o caminho que nos levará para uma situação melhor
ao partirmos em direção à colheita da nossa semeadura
aqui na Terra, no mundo dos Espíritos.
Recordemos Emmanuel no livro Vinha de Luz,
capítulo 56, quando nos ensina o seguinte: Ser dos
primeiros na Terra não é problema de solução complicada.
Há maiorais no mundo em todas as situações. A ciência, a
filosofia, o sacerdócio, tanto quanto a política, o
comércio e as finanças podem exibi-los facilmente. Ser
dos primeiros, no entanto, nas esferas de Jesus sobre a
Terra, não é questão de fácil acesso à criatura vulgar.
Em Cristianismo puro, os Espíritos dominantes são os
últimos na recepção dos benefícios, porquanto são servos
reais de quantos lhes procuram a colaboração fraterna. É
por isso que em todas as escolas cristãs há numerosos
pregadores, muitos mordomos, turbas de operários,
cooperadores do culto, polemistas valiosos, doutores da
letra, intérpretes competentes, reformistas apaixonados,
mas raríssimos apóstolos.
Raríssimos os que estão dispostos a deixar a boca do
caixa em favor do último da fila!
O cenário do mundo atual é um recibo incontestável de
tal situação na fase em que estagia a humanidade
terrestre. Falou em levar vantagem, a fila de
interessados perde-se de vista. Quando a referência é
sobre auxiliar o semelhante, não existe fila nenhuma
porque a porta do trabalho em favor dos que necessitam
mais está sempre aberta, mas sem ninguém a esperar o
chamado para o serviço.
Visto que a Lei determina que a cada um seja dado
segundo suas obras, enquanto no mundo, por egoísmo ou
por orgulho, disputarmos avidamente a boca do caixa,
do outro lado da vida estaremos localizados, por uma
questão de justiça, no fim da fila daqueles que aguardam
um local de refrigério como Espíritos desencarnados.
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