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por Ricardo Orestes Forni

 

Na “boca” do caixa


Todos que acreditam na imortalidade da vida anseiam por um bom lugar ao deixar o corpo físico aqui na Terra. Entretanto, isso não acontece por diversas razões.

Vamos a uma situação da vida real para entendermos os motivos dessa frustração em nosso retorno ao mundo espiritual.

Com certeza, você, como usuário de agências bancárias, já esteve em uma delas num desses dias em que parece que o banco ferve. Geralmente isso ocorre no início do mês em que os aposentados, injustamente remunerados neste país dos disparates sociais, com as devidas exceções, se dirigem para receber o magro salário após uma vida de trabalho que não lhes proporciona um final de existência com a devida dignidade que todo trabalhador deveria merecer. Para quem discorda dessa opinião, analise os salários de determinados marajás em diversos setores da sociedade e que se constituem no sorvedouro da receita da Previdência Social. Nessas datas, portanto, as agências bancárias se sobrecarregam no atendimento ao público.

Por acaso você, uma única vez, viu alguém que esteja numa longa e morosa fila aguardando atendimento e, quando está na boca do caixa para ser atendido depois de muito esperar, sair desse lugar privilegiado e dirigir-se a última pessoa da fila cedendo-lhe a vez para ser atendido e colocando-se no último lugar para reiniciar mais uma longa espera?

Salvo algum enorme engano da minha parte, creio que sua resposta será negativa, ou seja, nunca viu alguém que está prestes a ser atendido após penosos minutos de espera ceder seu lugar para o último da fila. Mas eu já vi uma pessoa jovem valer-se de um parente idoso colocado a seu lado para entrar na fila preferencial e dessa maneira burlar a fila, e pagar suas contas de maneira muito mais cômoda à custa do velhinho ali utilizado como um instrumento sem vontade própria.

Seria por atitudes semelhantes que Chico dizia que muita gente desejava ir para o céu, mas na Terra fazia o que o diabo gosta?

Se você ainda não viu nexo entre o que foi escrito e o mérito de ir ter a um bom lugar após o desencarne, vou lembrar a passagem do Evangelho de Marcos, 9:35, que diz o seguinte: Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e servo de todos.

Fazemos isso enquanto nos digladiamos nas batalhas do mundo material? Saímos da boca do caixapara ceder lugar àquele que está em último lugar no sentido extenso do termo?

Será que não foi exatamente isso que fez durante toda a sua existência Chico Xavier ao abrir mão de sua vida em favor da imensa população de sofredores que o procuravam desesperados?

Será que não foi o que fizeram Madre Teresa de Calcutá e Irmã Dulce buscando os esquecidos pelos caminhos do mundo, esquecendo-se de si próprias?

Não teriam tido o mesmo ato de renúncia, inclusive com a entrega da própria existência, o pastor Martin Luther King, batalhando pelo direito dos negros, e Mahatma Gandhi em busca da libertação do povo indiano do jugo inglês?

Saíram da boca do caixa para entregar suas existências àqueles que necessitavam mais.

Esse é o caminho que nos levará para uma situação melhor ao partirmos em direção à colheita da nossa semeadura aqui na Terra, no mundo dos Espíritos.

Recordemos Emmanuel no livro Vinha de Luz, capítulo 56, quando nos ensina o seguinte: Ser dos primeiros na Terra não é problema de solução complicada. Há maiorais no mundo em todas as situações. A ciência, a filosofia, o sacerdócio, tanto quanto a política, o comércio e as finanças podem exibi-los facilmente. Ser dos primeiros, no entanto, nas esferas de Jesus sobre a Terra, não é questão de fácil acesso à criatura vulgar. Em Cristianismo puro, os Espíritos dominantes são os últimos na recepção dos benefícios, porquanto são servos reais de quantos lhes procuram a colaboração fraterna. É por isso que em todas as escolas cristãs há numerosos pregadores, muitos mordomos, turbas de operários, cooperadores do culto, polemistas valiosos, doutores da letra, intérpretes competentes, reformistas apaixonados, mas raríssimos apóstolos.

Raríssimos os que estão dispostos a deixar a boca do caixa em favor do último da fila!

O cenário do mundo atual é um recibo incontestável de tal situação na fase em que estagia a humanidade terrestre. Falou em levar vantagem, a fila de interessados perde-se de vista. Quando a referência é sobre auxiliar o semelhante, não existe fila nenhuma porque a porta do trabalho em favor dos que necessitam mais está sempre aberta, mas sem ninguém a esperar o chamado para o serviço.

Visto que a Lei determina que a cada um seja dado segundo suas obras, enquanto no mundo, por egoísmo ou por orgulho, disputarmos avidamente a boca do caixa, do outro lado da vida estaremos localizados, por uma questão de justiça, no fim da fila daqueles que aguardam um local de refrigério como Espíritos desencarnados.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita