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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 
Ato de barbárie


É inconcebível que, no estágio de evolução tecnológica em que nos encontramos, com a humanidade enviando cada vez mais espaçonaves ao espaço sideral para explorar o desconhecido, certos acontecimentos ignóbeis ainda estejam presentes em nosso mundo. Refiro-me, nesta oportunidade, ao assassinato frio e cruel do jornalista saudita Jamal Khashoggi, ocorrido dentro da embaixada do seu país em Istambul, na Turquia. O pobre homem lá foi de boa-fé a fim de acertar os seus papéis de casamento com uma moça turca, quando foi surpreendido por uma armadilha mortal que, ao que parece, foi engendrada por membros da segurança subordinados ao príncipe herdeiro do trono da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman.

Khashoggi, o infeliz jornalista que houvera se autoexilado nos EUA, exercia a sua profissão junto ao prestigioso The Washington Post, onde escrevia as suas críticas voltadas à nobreza do seu país de maneira não tão, digamos, contundente. Em outras palavras, longe estava ele de se caracterizar como um ferrenho opositor do regime. O fato central é que o episódio da sua desencarnação está envolto numa trama macabra. Ou seja, 15 membros das forças de segurança do seu país viajaram para Istambul especificamente para dar cabo de sua vida. De alguma maneira, a realeza se sentia incomodada com os seus artigos, ao ponto de autorizar a covarde operação.

As informações dão conta de que ele foi impiedosamente torturado e, posteriormente, decapitado. Aparentemente, os seus algozes desmembraram o seu corpo ainda em vida. Do ponto de vista espiritual, é certo que Khashoggi fez um dramático resgate cármico. Entretanto, é de causar perplexidade mortes como esta, particularmente dentro de uma embaixada. Até mesmo o poderoso aliado americano manifestou a sua indignação, bem como exigiu medidas punitivas concretas.

É difícil saber, por ora, se o herdeiro do trono será efetivamente responsabilizado. Mas, a essa altura, não dá mais para dissociá-lo deste episódio escabroso, muito menos da alcunha de líder sanguinário, em que pese o seu diligente esforço por achar bodes expiatórios. O que deve ser lamentado - além da morte do jornalista, é claro – é a disposição de determinados governos promoverem selvageria e barbárie nessa etapa da jornada humana. Nesse sentido, como bem afirmou uma reportagem da revista Veja, “Sombrios são os tempos em que um governo pode executar um cidadão e fica tudo por isso mesmo”.

Com efeito, a brutalidade continua onipresente na face da Terra, especialmente se olharmos o que os agentes russos fizeram na Inglaterra, ao tentar envenenar um ex-oficial e a sua filha, ou a crueldade praticada na região de Aleppo, na Síria, pelo sanguinário regime de Bashar al-Assad, ou ainda a limpeza étnica implementada em Myanmar, só para ficarmos com alguns exemplos mais atuais.

Definitivamente, os governos do nosso mundo – divorciados da realidade espiritual e das naturais implicações daí advindas – são capazes de cometer atrocidades inimagináveis. Os responsáveis por essas tragédias inumeráveis não divisam – e estão muito longe disso, pelo que se pode depreender – as dores e sofrimentos lancinantes que estão atraindo para si próprios. Afinal, o respeito à vida deveria ser uma prática sincera de todos nós. Todavia, o apego à matéria, ao poder passageiro e à mácula do orgulho inebriam os sentidos de muitos líderes mundiais... Pobres criaturas! Não se dão conta dos inimigos que os aguardam do lado de lá ávidos por cobrar-lhes os seus crimes hediondos...

Se fossem sábios saberiam que o melhor seria cultivar a paz interior, o senso de justiça e a harmonia com Deus para que os receptáculos da alma estivessem sempre limpos e atentos às boas sugestões que partem da espiritualidade em seu favor, sobretudo para que não se transformassem em dóceis instrumentos das trevas, mas da luz. Como alertou-nos Jesus, “porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem”. (Marcos, 7: 19-23.)

Por sua vez, o Espírito Vianna de Carvalho corretamente pondera, na obra Atualidade do Pensamento Espírita (psicografia de Divaldo Pereira Franco), “em toda parte encontram-se os convites para a meditação em torno da transcendentalidade da vida e do ser, propondo revisão dos velhos conceitos, ora ultrapassados, e de uma nova conduta moral compatível com os passos largos dados pelo conhecimento”. 

Entretanto, esses indivíduos, por estarem desatentos a tais convites do bem, haverão de lidar com experiências altamente dolorosas, embora purificadoras... Enquanto isso, a Terra aguarda por uma nova geração de líderes espiritualizados dispostos a eliminar definitivamente os atos de perversidade de seu solo.
 

  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita