Adoração a Deus conforme o Espiritismo
Qual seria a melhor forma de adorar a Deus, com vistas
às informações religiosas, filosóficas e científicas que
temos nos dias atuais?
Iluminando esse ato com os conhecimentos oferecidos, na
atualidade, a fim de que se possa entender, cada vez
mais, a grandiosa obra da criação Divina: a Vida e o
Universo, o Espiritismo amplia nossa compreensão e nosso
sentimento de adoração ao Criador Supremo.
Não temos condições para entender a essência Divina, no
entanto, os Mentores Espirituais ofereceram uma
conceituação ampla e profunda na primeira resposta a
Allan Kardec.
Ao ser perguntado por ele: “Que
é Deus?”, responderam, em preciosa e profunda síntese:
“- Deus é a inteligência suprema, causa primária de
todas as coisas”. (1)
Mais adiante, Allan Kardec interpela os Espíritos sobre
a melhor forma de adorar a Deus, colocando de forma bem
direta e incisiva:
“Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou
daquela maneira?”
Ao que eles responderam:
“- Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com
sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que
julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam
melhores para com os seus semelhantes”. (Questão
nº 654 de O Livro dos Espíritos.)
Refletindo sobre essa resposta e demais conceitos
expressos em a Lei de adoração, inserta na Terceira
Parte de O Livro dos Espíritos, pudemos grafar
algumas reflexões. (2)
De conformidade com o conceito espírita de adoração,
Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com
sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos
que julgam honrá-lo com cerimônias que não os tornam
melhores para com os seus semelhantes.
Para fazer o bem e evitar o mal é necessário que o homem
seja participante da sociedade em que vive, através de
ações que preservem os próprios direitos naturais, como,
também, dentro de suas possibilidades, defenda os
direitos naturais do seu semelhante.
Obviamente, de nada vale a adoração exterior manifesta
em rituais e posturas falsas, se o comportamento da
pessoa se motiva pelo egoísmo, orgulho, vaidade e
prepotência.
A adoração a Deus, no conceito espírita, tem uma ação
dentro da sociedade, ou de forma mais ampla no planeta
em que se vive: fazer o bem e evitar o mal.
Para fazer o bem e evitar o mal é necessário procurar
extinguir o orgulho, a inveja, o egoísmo, a vaidade e a
prepotência, não só de si mesmo, como também das
instituições e grupos sociais.
Tal conceito de adoração a Deus leva não só à reforma
íntima, ou seja, à autoeducação, como à reforma da
sociedade em seus infelizes padrões de egoísmo e
orgulho, em nome dos quais se justificam as
desigualdades, as injustiças e a própria destruição da
vida.
O Espiritismo não apresenta um conceito de adoração
fundamentado na submissão passiva e medrosa ao Criador;
ajuda na compreensão das limitações humanas e na
proteção divina, nunca apelando a uma submissão
castradora, de inibição às potencialidades humanas. Pelo
contrário, demonstra que a adoração, ao aproximar a
criatura do Criador, constitui-se numa possibilidade de
estudo de si mesma. As boas ações são as melhores
preces, por isso valem os atos mais que a palavra de
pessoas cujos atos as desdizem.
Ser religioso significa principalmente entender a si e
ao seu semelhante, amando-o e amando-se. (“Ama o teu
próximo como a ti mesmo” - Jesus.)
Conforme o Espiritismo, o valor de uma religião,
filosofia, ou seita, está em promover o crescimento, a
força, a liberdade àqueles que a seguem ou professam.
Se uma religião, através de seus conceitos, inibe a
razão e o amor em suas diferentes formas e expressões,
revelando, apenas, aspectos tristes da vida, conduzindo
ao desprezo de si mesmo, impondo uma contemplação
improdutiva, não tem valor. (Questão nº 657 de O
Livro dos Espíritos.)
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec insiste
quanto à melhor forma de agradar a Deus e os Mentores
Espirituais indicam sempre que isso se faz através da
ação no bem, pela produtividade no amor ao semelhante.
Mesmo no ato exterior da adoração, revelam a atitude
psicológica que o determina, demonstrando a diferença
entre a adoração autêntica e a hipócrita; o agir de
forma egoística e ação motivada pelo amor.
Por isso, o conceito espírita de adoração infunde um
profundo respeito pela Vida, uma permanente indagação
sobre o universo e o homem, um intrínseco amor pelo
semelhante. Estimula sempre o aperfeiçoamento e o
progresso da pessoa e da sociedade, através da
solidariedade.
Vale lembrar, também, que em seu admirável e
esclarecedor estudo sobre o Espiritismo e a Ecologia,
o jornalista, escritor e professor universitário,
Trigueiro, assinala referindo-se à perspectiva do
relacionamento dos seres humanos com Deus relativamente
à responsabilidade de ações na preservação da vida
planetária: “E Deus nessa história? Bem, o Deus que
protege e ampara é o mesmo que delega funções e
atribuições. Em uma linguagem típica dos mercados, Deus
“terceiriza” e confiou o planeta à tutela dos homens. (3)
TRIGUEIRO, André, pág. 46, Espiritismo e Ecologia.
Como visto, ele exemplifica de forma concreta a
assertiva dos Mentores Espirituais: “... fazendo o
bem e evitado o mal...”
Também alertando sobre o profundo significado no
entendimento da nossa ligação com Deus, em seu magnífico
estudo sobre a sustentabilidade da vida, Villarga
considera: “... a) As leis morais apresentadas no
livro Terceiro de O Livro dos Espíritos. Essas leis
regem o nosso relacionamento com Deus, com os outros
seres humanos, com a Natureza e com os seres
desencarnados”. (4) - Pág. 95 – Espiritismo &
Desenvolvimento Sustentável – caminhos para a
sustentabilidade. FEB.
Consequentemente, no conceito de adoração a Deus,
expresso pelo Espiritismo, há todo um comprometimento de
participação amorosa na sociedade, reiteradamente
manifestado pelos Espíritos a Allan Kardec.
Referência:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos
Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. XX ed. FEB.
2. PAIVA, Aylton G. C. Espiritismo e
Política: contribuições para evolução do ser e da
sociedade. 1ª ed. 1ª imp. Brasília – DF. - 2014, págs.
25 a 27.
3. TRIGUEIRO, André. Espiritismo e
Ecologia. 1ª ed. FEB. 1 imp. Brasília. 2009. pág.
46.
4. Espiritismo & Desenvolvimento
Sustentável – caminhos para a sustentabilidade. 1ª
ed. 1ª imp. Brasília-DF. 2013. página 95.
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