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por Eleni Frangatos

 
João de Deus


Não estamos aqui para julgar João de Deus. Compete à Justiça Divina e dos homens fazê-lo.

Infelizmente, as acusações e os relatos detalhados e muito similares levam a crer que os fatos realmente aconteciam com frequência.

Amigos de outras religiões, alguns por educação e respeito, silenciam. Outros aproveitam a ocasião para, com aquele sorrisinho de mofa, tentar nos provocar a nós espíritas, como que dizendo:

- Viu? Eu não acredito em Espíritos e nem na sua ação boa ou má, e está provado que essas curas são sempre produto de charlatanice e de manipulação da fragilidade das pessoas.

Sim, cada um tem o direito de acreditar no que quer, mas não tem o direito de generalizar, ou seja, porque um prevaricou e procedeu de forma não condizente com a moral e ética, não significa, de forma alguma, que todos sejam iguais.

Ataca-se agora o Espiritismo com uma ferocidade, em forma até de vingança pela sua expansão, aproveitando-se de fatos que, se comprovados, são terríveis, criminosos e quem os praticou deverá ser sujeito à penalidade máxima.

Tudo o que envolve pessoas vulneráveis, crianças, idosos, pacientes com doenças terminais, em que o seu emocional se encontra abalado e que procuram uma ajuda no sentido de prolongar a vida, quando até mesmo já desenganados pela medicina tradicional e, aproveitando-se destas circunstâncias, alguém usa seu ascendente para fins libidinosos e satisfação de seu prazer sexual doentio, ou financeiro, há, sem dúvida, um crime a ser duramente penalizado pelas leis dos homens, porque pela Lei de Deus o castigo já está sendo grande e irreparável.

Há indícios e processos anteriores que já caracterizam este tipo de procedimento há anos e que me pergunto como foram “abafados”? E aí vem o vil metal responder em parte a esta questão. A cidade vive em função do João de Deus e da peregrinação de milhares de pessoas procurando ajuda e que deixam diariamente um pagamento sob outras formas (compra do líquido inócuo e a preço exorbitante – casca de maracujá - para curas inexistentes; a recomendação do próprio Médium de que o paciente deverá voltar uma, duas, três vezes ou mais – não deixa de ser um “comércio”, alojamentos, transportes, agentes de viagens, compra de recordações simbólicas, ônibus para trazer e levar os peregrinos, enfim um “entourage” onde o dinheiro flui facilmente).

O poder de persuasão de João de Deus é grande – o mesmo poder e influência existiam em Grigori Rasputin, que exerceu o mesmo tipo de fascínio começando pela família do Czar Nicolau II. Com João de Deus a pessoa já o procura acreditando em possível cura. Muitos já vêm desenganados pelos seus oncologistas ou médicos tradicionais. Ao adentrar quem procura ajuda sente uma paz inefável. É um lugar místico. É João de Deus? Não o creio. São centenas de trabalhadores que acreditam na sua missão de ajuda ao próximo, que dedicam suas horas de descanso em oração, em prece. E sempre que existe a prece verdadeira e autêntica no coração dos homens, a vibração muda, a energia que flui nesse local é diferenciada, porque sempre que existe o BEM o ser humano se sente melhor. Por isso, muitas pessoas acreditam e voltam.

O que nos choca é que, apesar de processos correndo em segredo de justiça, com alguns anos já, como que “engavetados”, não tiveram andamento e parece que as autoridades, em vez de cumprir o seu papel de defensores da Lei, se omitiram. Isto também deve ser averiguado exaustivamente, porque quem compactua com determinadas situações é conivente e merece a penalidade apropriada também.

Entendo que mulheres, seres que são sempre desacreditadas pelos fortes sistemas machistas, não foram ouvidas quando procuraram ajuda, algumas até passaram por mentirosas perante a própria família e foram desmoralizadas, vivendo anos, imagino, em uma tormenta emocional terrível e se sentindo desvalorizadas e traumatizadas, estigmatizadas, para o resto de suas vidas. Para essas minhas irmãs, vai meu forte e fraternal abraço de solidariedade e de uma compreensão grande pelo que a vida faz conosco, mulher que sou também.

Mas sempre chega a hora certa e esperada. A uma ação sempre corresponde uma reação que às vezes tarda, mas sempre chega.

Penso também que até agora, no auge do trabalho de João de Deus, apareceram inúmeras reportagens nacionais e internacionais em que o Médium se apresenta como Médium Espírita. Agora, de repente, deixou de ser considerado espírita pela Federação Espírita Brasileira. Parece-me, com todo o respeito, que a FEB precisa e deve valer-se de uma fiscalização, de um controle - ou como queiram mais adequadamente chamar, mais atuante nestes casos - em defesa do verdadeiro e autêntico Espiritismo com base nos ensinamentos de Allan Kardec. Há Centros que desvirtuam a Doutrina Espírita, um verdadeiro balaio de gatos e, no entanto, ostentam a designação Centro Espírita e isto ocorre por anos e anos, sem que haja qualquer inibição ou advertência.

Ocorrendo isto, estamos contribuindo para o enfraquecimento da verdadeira Doutrina Espírita e para o descrédito.

Onde existe o HOMEM existem fatos similares aos que agora vêm ao conhecimento do público. Veja-se na internet a quantidade de casos que infelizmente envolvem padres, pastores, e homens em geral sem qualquer ligação religiosa, em todas as raças, novos ou já velhos, ricos ou pobres, em todas as profissões, com notoriedade pública ou no dia a dia, para sempre “abafados”, na maior parte das vezes até pela própria família.

Então, está na hora de, em vez de tentarmos achincalhar uns aos outros em nome de uma religião – que nada vale se o coração não estiver 100% devotado ao bem -, nos darmos as mãos no combate a esse tipo de coisa. Se nós Espíritas sentimos vergonha neste momento, sim, acredito que a maioria sente vergonha e profunda tristeza, sim! Não porque somos Espíritas, mas porque dentro de nós há uma repulsa feroz quando estas coisas acontecem seja por membros de nossos Centros, seja por membros de outras religiões, que nos merecem o nosso mais profundo respeito.

Então, irmãos de Doutrina, aguardemos com calma o desfecho destes tristes episódios que, se devidamente comprovados, merecem a penalidade máxima de nossas leis. Que isto sirva de alerta para que, ao vermos qualquer coisa de errado, tenhamos a coragem para falar e corrigir o que deve ser corrigido, sem medos de sistemas, sem medo de dirigentes que se importam, às vezes, mais com seus egos inflados e sua pretensa autoridade.

E continuemos Espíritas, fazendo o bem, jamais cobrando o que quer que seja pelo nosso trabalho, mas sendo prudentes também porque, infelizmente, até nisso precisamos ter cuidado quando hoje praticamos a Caridade.

Que a Paz e o amor ao próximo se instale em nossos corações.

E, vamos em frente, na nossa Fé, sempre vigiando nossa própria conduta e lembremos que “por morrer uma andorinha, não acaba a Primavera”. 
 

  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita