Parábola do Mordomo Infiel
Cada homem é servidor e administrador frente à obra de
Deus. Servidor porque trabalha na seara divina, e
administrador porque terá de prestar contas à Justiça
Divina. Podemos entender, então, que administrador não é
aquele que cuida apenas dos interesses coletivos,
particulares ou públicos com esforço pessoal, pois “cada
inteligência da Terra dará conta dos recursos que lhe
foram confiados”, afirma o benfeitor espiritual
Emmanuel¹, através da mediunidade de Francisco Cândido
Xavier.
Lembra também o mesmo
benfeitor que esses recursos não são apenas a fortuna e
a autoridade. Vão além, muito além... O corpo físico, a
saúde, as oportunidades de crescimento pelas
possibilidades de servir, de estudar, de bem usar o
tempo; o próprio lar, os amigos e as experiências pelas
quais passamos e que nos permitem aprender mais, são
dádivas do Céu. Mesmo a ocasião de viver em harmonia com
tudo e com todos que nos cercam a existência ou de
ajudar alguém em necessidade são bênçãos vindas do
Celeiro Divino do amor para nossa evolução espiritual.
Todos esses recursos são talentos preciosos que repousam
em nossos corações, o tabernáculo sagrado da parábola,
em nossas mãos e no nosso caminho. Por isso é preciso
velar pelo que realizamos com eles, pois chegará o dia
em que o Pai nos dirá: “dá
conta da tua administração”.
Fica clara na passagem evangélica a preocupação do
Mestre em nos alertar tanto para o fato de que somos
instrumentos para ajudar o outro (embora ambos, o outro
e nós, sejamos imperfeitos), como para a possibilidade
do uso dos bens materiais para fins espirituais. Assim,
o Senhor das terras na parábola é Deus e nós o mordomo
ou o administrador infiel.
O fato é que essa parábola talvez seja uma das mais
difíceis de serem compreendidas em sua essência, a menos
que pretendamos, com uma leitura literal, imaginar que
Jesus possa compactuar com a esperteza, com a
desonestidade. Se o Mestre não compactua com essas
atitudes, o que Ele quis dizer?
Para compreendermos isso, é necessário penetrarmos no
campo do espírito: segundo a parábola, o mordomo foi
denunciado por ser esbanjador, mas é preciso entender
que ele não era gastador, ou seja, apenas facilitava os
negócios, trazendo prejuízos ao patrão. O dono das
terras agiu com justiça despedindo-o, e com misericórdia
não o denunciando para ser preso e punido.
Esse fato é de grande importância para a sequência da
história que Jesus narra, pois o administrador, tendo de
prestar as contas ao patrão, aposta na misericórdia com
a qual este o havia tratado e faz a mesma coisa com os
arrendatários das terras: reduziu as dívidas deles,
procurando imitar a conduta do patrão. Mas, o que
significa, no campo do espírito, reduzir a dívida do
outro? Vamos entender essa lição do Excelso Amigo: do
ponto de vista do Jesus, cada vez que auxiliamos alguém,
conquistamos novos amigos encarnados e desencarnados e
essa ajuda retorna a nós quando necessitamos, diminuindo
a nossa conta na contabilidade divina. Granjeamos novos
amigos, conforme o pedido d’Ele.
Quando ajudamos os tutelados desses amigos
desencarnados, os Espíritos marcam o bem que fazemos e
nos recompensam, mais tarde, quando precisarmos.
Diminuímos os débitos dos companheiros encarnados,
quando os impedimos, com nossa ajuda, de cometer novos
desatinos, ou os induzimos a repensar suas escolhas,
trazendo-os de volta ao equilíbrio. E de tanto fazer o
bem, aprendemos a amar incondicionalmente. Não é isso
que diz o apóstolo Pedro, na sua primeira carta,
capitulo 4, versículo 8: “o amor cobre uma multidão de
pecados”?
A leitura cuidadosa da parábola permite observar a
proposta de Jesus para imitarmos o mordomo infiel,
juntando tesouros no Céu e não na Terra, como lembra
Mateus, no capítulo 6, versículo 20.
O benfeitor espiritual,
através da abençoada psicografia de Francisco Cândido
Xavier, diz: “(...)
cresçamos na virtude e incorporemos a verdadeira
sabedoria, porque amanhã serás visitado pela mão
niveladora da morte e possuirás tão somente as
qualidades nobres que houverdes instalado em ti mesmo”.²
Mas como poderemos nós imitar a atitude do mordomo?
Como poderemos diminuir o débito das criaturas? Através
das palavras que consolam, que confortam, que erguem as
criaturas do desespero para a esperança. Mostremos ao
amado Mestre nossa capacidade de auxiliar o próximo
ofertando o ombro amigo, o alimento para o corpo e para
o Espírito, o esclarecimento que o tira da ignorância
das culpas e das penas eternas... Deus é Pai de amor,
justiça e misericórdia e apesar das nossas imperfeições
somos seus colaboradores na construção de um mundo
melhor.
Granjeais amigos, diz-nos
a parábola. Amigos sinceros, devotados pelo uso correto
dos bens materiais, porque “toda
dificuldade do homem sobre a Terra está em assumir
atitude correta em face dos bens materiais”.³
A riqueza das injustiças inclui nosso passado total, com
todas as lições dolorosas que o caracterizam.
Para Cairbar Schutel 4, a parábola trata de
duas qualidades: a fidelidade e a firmeza de caráter.
Pergunta ele: somos fiéis nos nossos deveres? Temos
reconhecimento, gratidão, indulgência, caridade e amor?
Entendemos o convite do Mestre para sermos perfeitos
como o nosso Pai Celestial o é?
Evidentemente que nossa dificuldade ainda é imensa
frente aos generosos convites do Divino Amigo. Ainda não
conseguimos compreender o que os ensinamentos
evangélicos significam. A fidelidade, a justiça, mesmo
no pouco, é algo difícil de realizarmos em nós. O que
dirá então no muito?
Como o apóstolo Paulo de
Tarso, ainda que demoremos, um dia faremos a mesma
pergunta 5: “quem
me separará do amor de Cristo”?
Referências:
1. XAVIER,
Francisco Cândido. Fonte Viva. 10ª ed. Rio de
Janeiro, FEB, lição 75.
2. Idem,
lição 177.
3. ROHDEN,
Huberto. Sabedoria das Parábolas. Martin Claret,
12ª ed. São Paulo/SP, pg. 76.
4. SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus. 27ª ed.
Casa Editora O Clarim, Matão/SP, capítulo O Mordomo
Infiel.
5. PAULO
(Romanos, 8:39.).
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