Será que escolhi o meu feitio?!
Como te sentes agora? Qual tem sido o teu estado mental?
Nossos estados emocionais são tão flutuantes e
impermanentes que fazem parecer que a bipolaridade
passou a ser uma constante em nós. No espaço de uma
hora, oscilamos nas mais diversas formas de estar ou
emoções, atravessamos os desertos da solidão, os
pântanos do medo, os mares revoltosos da raiva, as
florestas das paixões, e por vezes até sentimos paz.
Com o desenrolar da vida moderna, somos agredidos
diariamente pelas mais diversas obrigações sociais.
Levantamo-nos e somos impelidos a arrancar o dia a uma
velocidade extrema para podermos cumprir com as
obrigações laborais, familiares e sociais. É necessário
apoiarmos a nossa família, ensinando e preparando os
mais novos para suas futuras batalhas, trabalhando em
grupo com os mais velhos, em especial, nosso marido ou
mulher.
Isto parece-nos inevitável a todos nós, em especial nos
pontos urbanos. O sentido da vida para a maioria de nós
é a família e com ela todo este fluxo obrigatório. Com
todas estas obrigações, parece-nos que vem a agitação
mental na qual vivemos.
Haverá outra forma de atravessar a vida, ou, melhor
dizendo, viver a vida sem esta turbulência?
Na verdade, esta turbulência que é claramente visível na
maioria do ser humano é de nossa opção, não está ligada
diretamente ao modo de vida que vivemos. O que mais nos
aproxima das Leis de Deus, ou nos diferencia da maioria
dos animais, é o sentido e a dedicação que nós, seres
humanos, temos com as nossas famílias.
Por exemplo, ficar doente não é uma escolha minha, mas a
forma como vou lidar com a doença é uma escolha minha,
ou não.
Por que digo que poderei escolher ou não? Não é sempre
uma escolha nossa?
Nem sempre nós escolhemos e quando não o fazemos vivemos
escravos da situação. A escolha é agarrar as “rédeas” da
situação, dando-lhe um sentido de ação.
A pessoa que vive rabugenta terá escolhido
conscientemente a rabugice? Será que ela disse “vou ser
uma pessoa rabugenta e agressiva”?
Um dia acordamos maldispostos e reclamamos de tudo,
parece-nos natural, e a reclamação nasce dos impulsos
daquela energia que nos envolve e perturba, como se algo
quisesse sair do nosso estômago, atravessar a garganta e
ser expelida sem ter outra forma de o fazer senão por
palavras desagradáveis.
Não estou bem com a vida e acabo por sentir o mesmo
passados uns dias, e assim se vai repetindo, e eu vou
aceitando como natural em mim aquele elemento estranho
que toma conta dos meus impulsos, permitindo que se
mantenha em mim através das reclamações que vou soltando
em meu caminho, ganhando força a cada dia que lhe dou
abrigo.
Não me apercebo o quanto me vou tornando amargo com o
passar do tempo, como vou permitindo que este estado
emocional se vá tornando a minha forma de estar, oscilo
rapidamente entre uma gargalhada e um impulso agressivo.
Conheci os dois pontos extremos, guardo em mim a leve
recordação da infância, da compaixão, do amor, ao qual
volto quando meu estado mental está sereno e luzidio,
mas rapidamente regresso à agressividade culpando os
momentos difíceis, as obrigações e os outros.
A maior das ilusões é nós pensarmos que escolhemos esta
forma de estar. Se por acaso têm a ideia de que o fazem,
então por uma vez escolham não estar desta forma quando
vos aparecer o ímpeto, para verem o que acontece. Uma
escolha é a oportunidade de ter um de vários caminhos,
para terem a certeza de que é uma escolha, façam a
escolha de um caminho diferente e aí terão a nossa
resposta. Se não é uma escolha, então, é uma obrigação à
qual nós nos submetemos.
Quando percebo o quanto me estou a tornar infeliz,
inicio as minhas passeatas aos caminhos angustiantes da
autocomiseração, penso o quanto poderia ser diferente,
culpando os outros e a vida, passo a ser uma vítima da
prisão emocional à qual construí os muros à minha volta.
A oscilação emocional é constante, deixo de ter vontade
própria na forma como vivo a minha vida e pareço um
boneco de trapos numa máquina de lavar roupa, deixo de
ter vontade sobre o meu mundo emocional e sou gerido por
este.
Freud diz-nos que “A
tendência para a agressão é uma disposição inata
independente, instintiva no homem”, e como ele
era ateu, não percebia a existência do Espírito no homem
e sua visão parava no ser terreno, onde, no Ego, esta
disposição se demonstra impulsiva e natural, pela
“hibernação” espiritual, abafando a nossa natureza de
Amor.
Infelizmente, “o hábito forma o monge” e aqui refiro-me
ao hábito de viver.
Esta é a oscilação que acontece conosco entre o Ego,
naturalmente material, e os Instintos Espirituais ou
Self, a nossa natureza moral. A nós, cabe-nos alimentar
quem queremos que prevaleça, se o Ego, embora
representante terreno de todo o ser, quando esquecido do
interior Moral ou de que faz parte de um todo, vivendo
apenas para si, tornando-se na individualidade
caracterizada e fortalecida pelo egoísmo, vivendo em
agonia autoinfligida, ou o nosso ser interior, Self, que
aumenta a sua força quando dedicamos a um todo,
abdicando do que nos isola, os defeitos morais,
reconhecendo em cada passo o valor do silêncio do Ego,
que nos encaminha a uma autodescoberta interior de paz e
serenidade.
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