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por Bruno Abreu

 

Será que escolhi o meu feitio?!


Como te sentes agora? Qual tem sido o teu estado mental?

Nossos estados emocionais são tão flutuantes e impermanentes que fazem parecer que a bipolaridade passou a ser uma constante em nós. No espaço de uma hora, oscilamos nas mais diversas formas de estar ou emoções, atravessamos os desertos da solidão, os pântanos do medo, os mares revoltosos da raiva, as florestas das paixões, e por vezes até sentimos paz.

Com o desenrolar da vida moderna, somos agredidos diariamente pelas mais diversas obrigações sociais. Levantamo-nos e somos impelidos a arrancar o dia a uma velocidade extrema para podermos cumprir com as obrigações laborais, familiares e sociais. É necessário apoiarmos a nossa família, ensinando e preparando os mais novos para suas futuras batalhas, trabalhando em grupo com os mais velhos, em especial, nosso marido ou mulher.

Isto parece-nos inevitável a todos nós, em especial nos pontos urbanos. O sentido da vida para a maioria de nós é a família e com ela todo este fluxo obrigatório. Com todas estas obrigações, parece-nos que vem a agitação mental na qual vivemos.

Haverá outra forma de atravessar a vida, ou, melhor dizendo, viver a vida sem esta turbulência?

Na verdade, esta turbulência que é claramente visível na maioria do ser humano é de nossa opção, não está ligada diretamente ao modo de vida que vivemos. O que mais nos aproxima das Leis de Deus, ou nos diferencia da maioria dos animais, é o sentido e a dedicação que nós, seres humanos, temos com as nossas famílias.

Por exemplo, ficar doente não é uma escolha minha, mas a forma como vou lidar com a doença é uma escolha minha, ou não.

Por que digo que poderei escolher ou não? Não é sempre uma escolha nossa?

Nem sempre nós escolhemos e quando não o fazemos vivemos escravos da situação. A escolha é agarrar as “rédeas” da situação, dando-lhe um sentido de ação.

A pessoa que vive rabugenta terá escolhido conscientemente a rabugice? Será que ela disse “vou ser uma pessoa rabugenta e agressiva”?

Um dia acordamos maldispostos e reclamamos de tudo, parece-nos natural, e a reclamação nasce dos impulsos daquela energia que nos envolve e perturba, como se algo quisesse sair do nosso estômago, atravessar a garganta e ser expelida sem ter outra forma de o fazer senão por palavras desagradáveis.

Não estou bem com a vida e acabo por sentir o mesmo passados uns dias, e assim se vai repetindo, e eu vou aceitando como natural em mim aquele elemento estranho que toma conta dos meus impulsos, permitindo que se mantenha em mim através das reclamações que vou soltando em meu caminho, ganhando força a cada dia que lhe dou abrigo.

Não me apercebo o quanto me vou tornando amargo com o passar do tempo, como vou permitindo que este estado emocional se vá tornando a minha forma de estar, oscilo rapidamente entre uma gargalhada e um impulso agressivo. Conheci os dois pontos extremos, guardo em mim a leve recordação da infância, da compaixão, do amor, ao qual volto quando meu estado mental está sereno e luzidio, mas rapidamente regresso à agressividade culpando os momentos difíceis, as obrigações e os outros.

A maior das ilusões é nós pensarmos que escolhemos esta forma de estar. Se por acaso têm a ideia de que o fazem, então por uma vez escolham não estar desta forma quando vos aparecer o ímpeto, para verem o que acontece. Uma escolha é a oportunidade de ter um de vários caminhos, para terem a certeza de que é uma escolha, façam a escolha de um caminho diferente e aí terão a nossa resposta. Se não é uma escolha, então, é uma obrigação à qual nós nos submetemos.

Quando percebo o quanto me estou a tornar infeliz, inicio as minhas passeatas aos caminhos angustiantes da autocomiseração, penso o quanto poderia ser diferente, culpando os outros e a vida, passo a ser uma vítima da prisão emocional à qual construí os muros à minha volta.

A oscilação emocional é constante, deixo de ter vontade própria na forma como vivo a minha vida e pareço um boneco de trapos numa máquina de lavar roupa, deixo de ter vontade sobre o meu mundo emocional e sou gerido por este.

Freud diz-nos que “A tendência para a agressão é uma disposição inata independente, instintiva no homem”, e como ele era ateu, não percebia a existência do Espírito no homem e sua visão parava no ser terreno, onde, no Ego, esta disposição se demonstra impulsiva e natural, pela “hibernação” espiritual, abafando a nossa natureza de Amor.

Infelizmente, “o hábito forma o monge” e aqui refiro-me ao hábito de viver.

Esta é a oscilação que acontece conosco entre o Ego, naturalmente material, e os Instintos Espirituais ou Self, a nossa natureza moral. A nós, cabe-nos alimentar quem queremos que prevaleça, se o Ego, embora representante terreno de todo o ser, quando esquecido do interior Moral ou de que faz parte de um todo, vivendo apenas para si, tornando-se na individualidade caracterizada e fortalecida pelo egoísmo, vivendo em agonia autoinfligida, ou o nosso ser interior, Self, que aumenta a sua força quando dedicamos a um todo, abdicando do que nos isola, os defeitos morais, reconhecendo em cada passo o valor do silêncio do Ego, que nos encaminha a uma autodescoberta interior de paz e serenidade.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita