Moeda expectativa
“O desapontamento recebido com fervorosa coragem é
trabalho de seleção do Senhor em nosso benefício.” (Emmanuel)
Escrevemos, também, para aproveitamento dos outros. É
comum, entretanto, e porque nossos ouvidos são os mais
próximos, dirigirmo-nos a nós próprios.
Hoje, de forma especial, quando estudamos expectativas,
que Emmanuel aborda em forma inversa, como desapontamento, dirijo-me,
exclusivamente (e perdoem-me o entrevero pronominal),
aos “meus ouvidos...”
Possuímos a disfarçada mania de nos preocuparmos com
“deus e todo mundo”. Na verdade, interpomos, aos outros,
nossas interferências – o que é diferente de colaboração
– para que deles possamos vir a cobrar algo; é a “moeda
expectativa”, relacionada aos nossos mais diversos
círculos:
Daquele amigo que julgamos haver nos traído a confiança:
confiança essa por nós superestimada.
Dos que ombreiam conosco em trabalhos diversos e dos
quais desejamos a perfeição.
De nosso cônjuge, que talvez mantenhamos uma expectativa
máxima. Aproveitando-nos do dia dos namorados hoje
comemorado, e muitas vezes o consideramos nossa
propriedade: num primeiro instante ele é “a nossa
namorada, ou o nosso namorado”. Mais tarde, “a nossa
noiva, ou o nosso noivo”. E, finalmente, num extremismo,
ela é “a nossa esposa”, ou “o nosso esposo”.
Esquecemo-nos, por inteiro, da individualidade do
Espírito; e que ele e ela são, e tão somente, nossos
parceiros, auxiliares e instrumentos de caminhada.
Quanto aos filhos, atingimos o exagero, expressando-nos:
“filho é sempre filho, não importa a idade!”. Apegados a
tal chavão, ignoramos que eles se tornaram adultos e
possuem suas próprias expectativas. Quando deveríamos
considerar-nos felizes por nos presentearem com os
netos, “indolores, gratuitos”, tal qual um combustível,
gracioso em tempos de gasolina, álcool e diesel caros.
Mantemos expectativas até sobre nossos feitos; e aqui
talvez a moeda mais vil que possa se nos apresentar: a
do reconhecimento.
Quando o melhor dos
amigos, dos trabalhadores, do cônjuge, dos filhos nos
decepciona – desaponta-nos –, quando não reconhecem
nosso esforço, vem-nos à mente logo a traição e, não,
um trabalho de
seleção do Senhor em nosso benefício.
Se nos decepcionam, ou se não satisfazem nossas
expectativas, é possível que não se constituam, ainda,
nosso melhor amigo, trabalhador, parceiro, cônjuge,
filho. Ou que nosso “dever tenha deixado a dever!”.
Porque há muita disparidade entre o patamar evolucional
dos Espíritos, alguns afinarão conosco; outros nem
tanto! Afinal, somos 7,6 bi de almas diferentes nesta
Escola chamada Planeta Terra.
Precisamos, então, de uma fervorosa coragem para
entender tais desapontamentos aqui estudados como
expectativas.
E essa fervorosa compreensão - e coragem -
é o entendimento do livre-arbítrio daqueles que nos
cercam; mesmo se constituindo eles em amigos,
trabalhadores, cônjuges, filhos... e mesmo que no
cumprimento de nossas obrigações estejamos, apenas,
saldando débitos.
Tais criaturas, porque muito próximas a nós, passam-nos
ainda despercebidas como “indivíduos individuais”.
* * *
“Qual o pai de
entre vós que, se o filho lhe pedir pão lhe dará uma
pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma
serpente? (Lucas, 11, 11). Também no sentido das
expectativas, nosso Pai que está nos Céus estará realizando
a nosso favor esse trabalho de seleção.
Se a moeda expectativa nos cega, quem dela
não for um escravo, que veja!
(Sintonia: Xavier, Francisco Cândido, Fonte Viva, ditado
por Emmanuel, Cap. 141,Renova-te sempre, 1ª
edição da FEB.)
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