A Televisão na Sociedade
É bem sabido que os portugueses vêm sendo cada vez mais
solicitados à participação mais consciente e ativa na
vida social, pretendendo-se com a sua intervenção
clarividente, uma maior percepção dos problemas que a
todos preocupam, designadamente: os desníveis abismais
nos planos material, cultural e social, não sendo
conveniente nenhuma atitude passiva, ou de acomodação a
um qualquer estatuto adquirido, por um também qualquer
processo.
Em princípio, toda a pessoa deseja, efetivamente, uma
sociedade mais justa, edificada sobre os valores
primordiais que a regem, desde logo: saúde,
solidariedade, amor, lealdade, justiça, liberdade, paz,
felicidade e a Graça Divina, de resto, os valores que
fundamentam os direitos inalienáveis de toda a Pessoa
Humana.
O Homem não vive isolado, não consegue autonomizar-se,
carece de companhia, necessita de constituir-se em
família, por laços indissolúveis. A família é uma
instituição a preservar, a proteger, a apoiar na sua
formação e dignificação, ela é a célula primordial da
sociedade.
Os meios para a sua formação são variados, mais ou menos
acessíveis, mais ou menos eficazes, no entanto, qualquer
processo – qualquer meio – serve para a
consciencialização dos valores familiares, desde que se
queira e desde que tais processos, ou meios, se revistam
da moral necessária.
O problema reside, uma vez mais, no acesso a esses
meios, todavia, um existe que, não sendo perfeito, é,
indiscutivelmente, prático, de grande penetração na
sociedade em geral, e em cada pessoa em particular.
Neste enquadramento, a televisão é hoje um potente meio
para o bem e para o mal, defendendo-se aqui, em todo o
caso, desejavelmente, para o bem.
Este meio de comunicação, tão penetrante, quanto
moderno, permite, desde já, percepcionar uma ideia que
consiste no papel da televisão na família e, se se
meditar melhor, concluir-se-á que a televisão pode, de
fato, favorecer a unidade do lar, na medida em que à
volta do pequeno ecrã se consegue congregar todos os
membros da família, na visualização de um programa do
agrado geral, sendo, porém, fundamental que os
responsáveis pelo programa se preocupem com o conteúdo
moral, estético, espiritual, artístico e pedagógico do
mesmo.
É evidente que a televisão não pode substituir outros
meios indispensáveis de natureza espiritual e moral,
suscetíveis de criar e fortificar a coesão e os laços de
amor e de felicidade entre os membros da família.
No futuro, vai depender muito da programação televisiva,
da formação dos seus autores e será sempre discutível
qual dos aspectos positivos ou negativos prevalece, mas,
se se quiser aproveitar este poderoso meio da
Comunicação Social popular, no sentido da formação de
uma consciência nacional, fundada nos valores da
família, então a televisão será, efetivamente, um
instrumento positivo.
Na perspectiva positiva, pode-se, ainda assim, enumerar
alguns benefícios que a televisão permite desfrutar,
sendo vulgar apontar-se a possibilidade que ela concede
para se fugir da solidão, porquanto traz o som e a
imagem, quebrando, desta forma, o silêncio do
isolamento; ela torna as pessoas solidárias,
contestatárias, consensuais, tolerantes, diante de uma
determina situação.
Faz vibrar as pessoas perante acontecimentos longínquos
ou próximos; provoca emoção, alegria, tristeza,
indiferença relativamente a fatos que de outra forma não
haveria a possibilidade de viver; incute a ideia de que
efetivamente há, apenas, uma humanidade,
independentemente das raças, ideologias e credos
religiosos e, neste aspecto, todas as pessoas são
suscetíveis de envolvimento na desgraça e na fortuna e,
irremediavelmente, sujeitas à morte.
A televisão favorece (se os responsáveis assim o
desejarem) a cultura, o progresso, a ciência, porque ela
permite levar ao conhecimento dos interessados tudo
aquilo que de mais recente se vai criando,
experimentando e consolidando.
Finalmente, a televisão pode contribuir, poderosamente,
para a efetivação do direito à informação por parte do
indivíduo comum, porque aquele direito justifica a
necessidade de defender a coletividade, os cidadãos, os
grupos e os interesses gerais.
A defesa da coletividade, num Estado de direito
democrático, é a defesa do próprio Estado e até do
próprio regime, já que existe a necessidade de uma
estrutura estatal, sendo, por isso, natural que a
coletividade tome um certo número de preocupações para
se defender das mais variadas agressões e aqui entra, de
fato, o rigor, a isenção, a educação, em suma, a
informação que objetiva e, positivamente, a televisão
deve fornecer à sociedade, à família, à pessoa
individualmente considerada, qualquer que seja o seu
estatuto social.
Pretende-se, portanto, ficar com a ideia dos benefícios
que a televisão potencialmente pode dar, sem se
descurar, no entanto, o perigo que sempre espreita, que
os malefícios existem, tanto mais acutilantes quanto
maior for o jogo de interesses em confronto e o domínio
da televisão se acentuar desequilibradamente para um ou
outro lado.
A televisão como Órgão de Comunicação Social é,
portanto, um poderoso meio de formação, de união, de
bem-estar. Esta ideia basta, por agora, porque
efetivamente há que destacar as virtualidades,
aperfeiçoar o lado positivo das coisas. Precaver contra
os malefícios significa, afinal, melhorar os benefícios
que a televisão pode dar no dia a dia de cada pessoa.
A título de ideia principal poder-se-á dizer que: «Um
espetáculo, o visual, arrasta consigo uma aderência do
significante ao significado que torna impossível a sua
separação em qualquer momento» porque, em
contrapartida: «a imagem não precisa de ser
traduzida, é imediatamente universal» (cf. FAGES,
1976:111-120.)
Bibliografia:
FAGES, J. B., (1976). Para Entender o
Estruturalismo. Tradução M. C. Henriques. Lisboa: Moraes
Editores.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo é presidente do
Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal.
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