A ideia de Deus
Parte 2 – Lei de Reencarnação, imprescindível acreditar
Na sequência do artigo publicado anteriormente,
intitulado “A ideia de Deus, Parte 1 – Impossível não
acreditar”, foram desenvolvidas algumas reflexões
conducentes à importância de, livres de dogmas e
conceitos estabelecidos por uma fé cega, irmos ao
encontro da ideia de Deus, e abrirmos o coração e o
entendimento à impossibilidade da sua inexistência.
Posto isto, e fazendo jus à fé raciocinada que se impõe
como única válida, importa percebermos que Deus é este
em que efetivamente acreditamos. Mais uma vez, vamos
apelar aos critérios de análise apresentados n’O Livro
dos Espíritos, obra esteio da Codificação Espírita e de
toda a crença fundamentada na Doutrina dos Espíritos.
Dizem-nos os Espíritos que os atributos que, por
enquanto, estão ao alcance do nosso entendimento são os
inerentes a um Deus eterno, infinito, imutável,
imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e
bom, todos eles em grau supremo, já que, de outro modo,
sempre haveria a possibilidade de uma outra entidade os
possuir em grau superior e essa, sim, seria Deus.
É nesse Deus de infinita sabedoria, soberanamente justo
e bom que acreditamos. Nem de outro modo poderia ser.
Permanecem, entretanto, algumas questões não
solucionáveis pelas religiões e filosofias tradicionais.
Partindo do princípio de que fomos criados no momento do
nosso nascimento ou, quando muito, no momento da
concepção, como pode ser entendida a Justiça Divina? São
tantas e inumeráveis as situações mais díspares com que
nos deparamos ao longo da vida, se lançarmos um olhar
medianamente atento em nosso redor! Guerra, fome, dor,
sofrimento, mortalidade infantil e juvenil, violência
doméstica, toxicodependência, assédio, doença, suicídio,
desemprego, emigração ilegal, fuga dos países de origem
com riscos da vida, crime, pobreza extrema,
discriminação, trabalho e exploração infantil,
desrespeito pelos direitos humanos, cataclismos
naturais…
Todo este rol de situações desesperantes coabita, às
vezes, mesmo ao lado, com a riqueza, a suntuosidade, o
luxo, o orgulho racial, a alegria, a saúde, a
prosperidade, a realização de sonhos e projetos, a
tecnologia, os avanços na saúde que a investigação
científica faculta, as facilidades no estudo, os avanços
da intelectualidade, as mais belas produções literárias
e artísticas a atestar apuramento da sensibilidade
humana…
Percebemos facilmente que algumas destas situações têm a
mão direta de quem sofre os reveses, ou seja, evidenciam
a colheita inerente aos erros cometidos ao longo da
vida. Mas nem sempre é assim, como facilmente se
constata. Quantas pessoas cuidadosas com a sua saúde,
comedidas na alimentação e sem vícios evidentes são as
mais doentes… Quantas pessoas bondosas e possuidoras de
visível virtude são as mais sofredoras e vítimas das
maiores injustiças. Pelo menos, no que nos é dado ver e
perceber… E, como dizia o poeta português, Augusto Gil,
“Mas as crianças, Senhor, por que lhes dais tanta
dor?!”…
Poderemos, de algum modo, sem pôr em causa os
reconhecidos atributos de Deus, aceitar que tudo fica
exclusivamente dependente do lugar, da família, do meio
social, da época, que nos serviu de berço? Por outras
palavras, atribuir tudo exclusivamente à sorte/azar?
Por outro lado, perante idênticas dificuldades e
reveses, encontramos pessoas que de tudo colhem as
maiores lições, amadurecendo diante dos problemas que
enfrentam com coragem, fé, resignação, sabedoria,
valorizando as pequenas coisas boas e pequenas
felicidades que encontram ao longo da vida, evidenciando
uma sabedoria de vida que deixa transparecer
aprendizagens anteriores. Encontramos, a par dessas,
pessoas para quem o mais pequeno entrave às suas
intenções e projetos constitui uma tragédia, pessoas que
não encontram em si nem na fé que dizem possuir a força
necessária ao prosseguimento da caminhada, às vezes
diante de pequenos contratempos, e se deixam absorver
pelo desespero e até pela desistência da vida.
De onde vêm tão diferentes olhares sobre o mundo e a
vida, tão diferentes perspectivas sobre um mesmo
problema, forças tão opostas na forma de encarar e
resolver? Apenas da educação, do meio em que se vive? E
o que define as condições e o meio em que se nasce, se
fomos todos criados para uma única vida, com início no
nascimento e termo na morte do corpo? À personalidade?
Mas como se desenvolveram essas diferenças de
personalidade? Por que vemos crianças de tenra idade
detentoras de uma força interior que não vemos em certos
adultos, sendo quantas vezes, elas mesmas que fortalecem
e animam os familiares perante doenças graves que as
acometem? Onde vão buscar essa força? Se é Deus quem
lhas dá, por que não a dá a todos?
Como poderemos entender um Deus Sábio e Justo que cria
as Suas criaturas sabendo de antemão que elas estarão
sujeitas a todo o tipo de sofrimentos, de que não têm
culpa, e mesmo assim lança-as num mundo, tempo, lugar…
que lhes são completamente adversos? E que, ainda mais
grave, não dá a todas as mesmas oportunidades de vencer?
E mesmo assim, espera que essas mesmas criaturas
emanadas do seu Amor creiam Nele incondicionalmente, e
depositem nele toda a esperança de um mundo e um tempo
em que a felicidade surgirá?
Este tipo de fé cega, em que nada é explicado e que não
admite ser questionada, levou a um estado de descrença
que está a alastrar pela Terra. A humanidade aflita e
sem respostas, não podendo mais continuar a acreditar
num Deus que não entende, e que lhe parece parcial,
desumano e injusto, lamentavelmente começa a optar pela
conclusão de que não existe Deus nem ninguém responsável
pela nossa existência ou a quem dar contas. A partir
desse pressuposto, é um “salve-se quem puder; estamos
aqui é para aproveitar; este mundo são dois dias”.
Não podemos deixar de responsabilizar as religiões
tradicionais, com os seus dogmas, mistérios e,
principalmente, com a imposição da ideia de uma
existência única, após a qual se colhe o castigo ou o
prêmio, num céu ou inferno em que, na verdade, também já
ninguém acredita.
Apenas uma crença baseada no conhecimento e no perfeito
entendimento da Lei de Reencarnação, tal como nos é
apresentada em O Livro dos Espíritos, nos incute a
verdadeira responsabilidade dos nossos atos,
responsabilidade essa que se perpetua muito para além
dos anos, mais ou menos longos, desta existência atual.
E em que todo o conhecimento e virtude adquiridos numa
etapa existencial contribuem para a identidade e
personalidade do Ser Espiritual e imortal que somos.
Perante o entendimento desta Lei Divina, a que não
podemos fugir jamais, porque não é uma questão de crença
(crendo ou não, todos estamos sujeitos a ela, como a
todas as Leis Divinas), compreendemos o peso que tem a
sementeira que hoje fazemos, pois tudo terá repercussão
na colheita futura. Perante isto, esvai-se a ideia de
injustiça, sorte, azar, já que todos estamos colhendo o
que semeamos. E todos estamos, simultaneamente a semear
e a cuidar da plantinha que há de germinar e dar frutos
no futuro. Diz o povo que “o futuro a Deus pertence”.
Mas, mais apropriadamente, deveremos tomar consciência
de que esse futuro, se realmente a Deus pertence, é
também construído por nós a cada passo da caminhada.
Caminhada que teve início em eras que só Deus conhece, e
que se prolongará pela eternidade, através das várias
reencarnações que, no seu todo, constituem a Vida.
Só deste modo é possível acreditar verdadeiramente, de
coração e entendimento, nesse Deus de Amor, e evoluir
através do cumprimento das Suas Leis Sábias e Justas.
Para aceitar e entender Deus é imprescindível aceitar e
entender a Lei de Reencarnação.
|