Espiritismo e humanismo
Léon Denis coloca no livro Síntese
doutrinária e prática do Espiritismoque
o estudo da doutrina espírita deveria iniciar-se por
este problema objetivo: Que é o homem?
Buscar uma melhor compreensão sobre a natureza humana
sob a ótica espírita deveria ser o passo primeiro no
sentido de se identificar, com um melhor entendimento,
os princípios espíritas.
Psiquiatras espíritas reunidos em Goiânia (GO) em 1990
definiram o Homem como sendo um ser biopsicossocioespiritual.
Bio porque
se encontra sob profunda influência da matéria, porque
existe enquanto um ser identificado com um cérebro, que
possui circuitos específicos, pensa, sente e age,
enquanto encarnado, através desse cérebro.
Psico porque
se retrata através de uma mente, definida como um fluxo
de experiências subjetivas, uma estrutura virtual que
contém os pensamentos, sentimentos e emoções.
Sócio porque
não existe isoladamente e sempre vai refletir em sua
personalidade as influências histórias, sociais,
culturais, familiares que sofre durante toda a vida.
Espiritual porque
se constitui de uma consciência não física, que
preexiste e sobrevive ao corpo, traz uma história,
reflete suas experiências anteriores, através de
facilidades, dificuldades etc. Sede do pensamento, do
sentimento e da vontade, e dotado de uma força
extraordinária denominada livre-arbítrio, que lhe dá
responsabilidade sobre seus atos.
O foco no entendimento e valorização do homem é, também,
a preocupação prioritária do pensamento humanista,
apesar de seu notório ateísmo.
O humanismo, uma nova e revolucionária crença,
conquistou grande parte do mundo, nos séculos recentes.
Os humanistas, segundo comenta o historiador Yuval
Harari, no livro Homo deus, cultuam a humanidade
e esperam que a capacidade de superação e realização
humanas possa conduzir o homem a um futuro melhor. Como
não cogitam de Deus, da alma, ou da vida futura,
acreditam que os homens devem extrair de suas
experiências interiores o significado da própria vida.
Os instrumentos para conseguir isso devem ser a retidão
de caráter, a compaixão e o respeito pelos direitos dos
outros, em outras palavras, uma ética universal da
criatura humana.
Algumas mensagens humanistas:
Na política: o eleitor é quem decide.
Na economia: o cliente sempre tem razão.
Na estética: a beleza está nos olhos do espectador.
Na educação: pense por si mesmo.
Na ética: se é bom para você e não prejudica ninguém,
então faça. O humanismo ensina a pensar que algo só
pode ser ruim se fizer com que alguém se sinta mal. O
roubo está errado não porque algum texto antigo tenha
dito: “Não roubarás”! E sim porque, quando alguém perde
algo que possui, sente-se mal com isso. E, se uma ação
não faz com que alguém se sinta mal, não deve haver nada
de errado com ela.
A grande virtude do humanismo, segundo Yuval Harari, é a
fórmula que apresenta ao examinar o bem-estar humano. A
fórmula é esta: conhecimento = experiência x
sensibilidade. Examinemos essa proposta, entendendo
o que querem dizer com os vocábulos experiência esensibilidade.
O que são exatamente experiências? Harari comenta
que os humanistas não se referem às experiências feitas
pelos cientistas, quando são testadas hipóteses e
construídas teorias. A experiência que propõe não é
feita de átomos, proteínas ou números. Embora ela se dê
em um contexto objetivo e concreto, a experiência
proposta é um fenômeno subjetivo que inclui três
ingredientes: sensações, emoções e pensamentos. Em cada
momento, minha experiência abrange cada sensação que
tenho (calor, prazer, tensão etc.), cada emoção que
sinto (alegria, raiva, medo etc.) e quaisquer
pensamentos que passem em minha cabeça.
E o que é sensibilidade? São duas coisas.
Primeiro, prestar atenção a minhas sensações, emoções e
pensamentos. Segundo, permitir que essas emoções,
sensações e pensamentos exerçam influência sobre mim.
Devo estar aberto a novas experiências e permitir que
elas mudem minhas opiniões, meu comportamento e minhas
crenças.
Experiências e sensibilidade se incrementam num ciclo
interminável. Não sou capaz de experimentar nada se não
tiver sensibilidade, e não sou capaz de desenvolver a
sensibilidade a menos que passe por uma variedade de
experiências. A sensibilidade não é uma aptidão abstrata
que eu possa desenvolver lendo livros ou ouvindo
palestras. É uma aptidão prática que só pode amadurecer
e se consolidar quando aplicada na prática.
Concluindo, o mais alto objetivo de uma visão
humanística é desenvolver completamente nosso
conhecimento mediante uma grande variedade de
experiências intelectuais, emocionais e físicas. Assim,
o humanismo vê a vida como um processo gradual de
mudança interior, que parte da ignorância e chega à
iluminação por meio de experiências.
Nós acreditamos em grande parte do que dizem, com
algumas diferenças. Uma delas: uma única existência
física é muito pouco para se chegar à proposta
humanista: a autoiluminação.
|