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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Espiritismo e humanismo


Léon Denis coloca no livro Síntese doutrinária e prática do Espiritismoque o estudo da doutrina espírita deveria iniciar-se por este problema objetivo: Que é o homem?

Buscar uma melhor compreensão sobre a natureza humana sob a ótica espírita deveria ser o passo primeiro no sentido de se identificar, com um melhor entendimento, os princípios espíritas.

Psiquiatras espíritas reunidos em Goiânia (GO) em 1990 definiram o Homem como sendo um ser biopsicossocioespiritual.

Bio porque se encontra sob profunda influência da matéria, porque existe enquanto um ser identificado com um cérebro, que possui circuitos específicos, pensa, sente e age, enquanto encarnado, através desse cérebro.

Psico porque se retrata através de uma mente, definida como um fluxo de experiências subjetivas, uma estrutura virtual que contém os pensamentos, sentimentos e emoções.

Sócio porque não existe isoladamente e sempre vai refletir em sua personalidade as influências histórias, sociais, culturais, familiares que sofre durante toda a vida.

Espiritual porque se constitui de uma consciência não física, que preexiste e sobrevive ao corpo, traz uma história, reflete suas experiências anteriores, através de facilidades, dificuldades etc. Sede do pensamento, do sentimento e da vontade, e dotado de uma força extraordinária denominada livre-arbítrio, que lhe dá responsabilidade sobre seus atos.

O foco no entendimento e valorização do homem é, também, a preocupação prioritária do pensamento humanista, apesar de seu notório ateísmo.

O humanismo, uma nova e revolucionária crença, conquistou grande parte do mundo, nos séculos recentes. Os humanistas, segundo comenta o historiador Yuval Harari, no livro Homo deus, cultuam a humanidade e esperam que a capacidade de superação e realização humanas possa conduzir o homem a um futuro melhor. Como não cogitam de Deus, da alma, ou da vida futura, acreditam que os homens devem extrair de suas experiências interiores o significado da própria vida. Os instrumentos para conseguir isso devem ser a retidão de caráter, a compaixão e o respeito pelos direitos dos outros, em outras palavras, uma ética universal da criatura humana.

Algumas mensagens humanistas:

Na política: o eleitor é quem decide.

Na economia: o cliente sempre tem razão.

Na estética: a beleza está nos olhos do espectador.

Na educação: pense por si mesmo.

Na ética: se é bom para você e não prejudica ninguém, então faça. O humanismo ensina a pensar que algo só pode ser ruim se fizer com que alguém se sinta mal. O roubo está errado não porque algum texto antigo tenha dito: “Não roubarás”! E sim porque, quando alguém perde algo que possui, sente-se mal com isso. E, se uma ação não faz com que alguém se sinta mal, não deve haver nada de errado com ela.

A grande virtude do humanismo, segundo Yuval Harari, é a fórmula que apresenta ao examinar o bem-estar humano. A fórmula é esta: conhecimento = experiência x sensibilidade.  Examinemos essa proposta, entendendo o que querem dizer com os vocábulos experiência esensibilidade.

O que são exatamente experiências? Harari comenta que os humanistas não se referem às experiências feitas pelos cientistas, quando são testadas hipóteses e construídas teorias. A experiência que propõe não é feita de átomos, proteínas ou números. Embora ela se dê em um contexto objetivo e concreto, a experiência proposta é um fenômeno subjetivo que inclui três ingredientes: sensações, emoções e pensamentos. Em cada momento, minha experiência abrange cada sensação que tenho (calor, prazer, tensão etc.), cada emoção que sinto (alegria, raiva, medo etc.) e quaisquer pensamentos que passem em minha cabeça.

E o que é sensibilidade? São duas coisas. Primeiro, prestar atenção a minhas sensações, emoções e pensamentos. Segundo, permitir que essas emoções, sensações e pensamentos exerçam influência sobre mim. Devo estar aberto a novas experiências e permitir que elas mudem minhas opiniões, meu comportamento e minhas crenças.

Experiências e sensibilidade se incrementam num ciclo interminável. Não sou capaz de experimentar nada se não tiver sensibilidade, e não sou capaz de desenvolver a sensibilidade a menos que passe por uma variedade de experiências. A sensibilidade não é uma aptidão abstrata que eu possa desenvolver lendo livros ou ouvindo palestras. É uma aptidão prática que só pode amadurecer e se consolidar quando aplicada na prática.

Concluindo, o mais alto objetivo de uma visão humanística é desenvolver completamente nosso conhecimento mediante uma grande variedade de experiências intelectuais, emocionais e físicas. Assim, o humanismo vê a vida como um processo gradual de mudança interior, que parte da ignorância e chega à iluminação por meio de experiências.

Nós acreditamos em grande parte do que dizem, com algumas diferenças. Uma delas: uma única existência física é muito pouco para se chegar à proposta humanista: a autoiluminação.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita