Mediunidade, obsessão e Jesus
Para o esclarecimento sobre a cura da obsessão,
o Espiritismo é, sem dúvida, a chave mestra. Foi
o Espiritismo que veio revelar a existência dos
Espíritos, visto que estes existiam desde toda a
eternidade. A mediunidade foi a grande
responsável por essa descoberta. Foi por ela que
os inimigos ocultos traíram a sua presença. Ela
fez com eles o que o microscópio fez com os
infinitamente pequenos: revelou um mundo novo.
O Espiritismo não atrai os maus Espíritos, como
imaginam algumas criaturas. Ele descobriu-os e
nos forneceu os meios de lhe combatermos a ação
e, por conseguinte, de os afastarmos. Não trouxe
o mal, mas trouxe-nos, sim, o remédio ao mal,
apontando-nos a causa dele. Na Doutrina Espírita
encontramos os recursos que neutralizam a ação
perniciosa que tenta invadir-nos a casa mental.
É uma das abençoadas tarefas do Espiritismo
Cristão: libertar irmãos invigilantes que caíram
nas malhas difíceis da influenciação espiritual,
em seu aspecto negativo.
As reuniões espíritas, doutrinárias e mediúnicas
cooperam, eficazmente, para a cura da obsessão,
pelo esclarecimento, beneficiando perseguidos e
perseguidores, vítimas e algozes. É um dos
serviços mais nobres a que se dedicam os
médiuns, em toda parte. Companheiros se
organizam em núcleos adequados de intercâmbio e
assistência, para a cura desse mal que exige
grande esforço dos amigos espirituais e dos
auxiliares encarnados.
Quem, hoje, ironiza a mediunidade em nome do
Cristo, esquece-se, naturalmente, de que Jesus
foi quem mais a honrou nesse mundo, erguendo-se
ao mais alto nível de aprimoramento e revelação,
para alicerçar a sua eterna Doutrina entre os
homens. É assim que começa o apostolado divino,
santificando-lhe os valores na clariaudiência e
na clarividência, no estabelecimento da Boa
Nova. Honorificando-a nas atividades da cura,
transmitindo passes de socorro aos cegos e
paralíticos desalentados e aflitos,
restituindo-lhes a saúde, dignificando-a nas
tarefas de desobsessão, ao instruir e consolar
os desencarnados sofredores, por intermédio dos
alienados mentais, que lhe surgem à frente.
Jesus Cristo foi o iniciador da desobsessão
sobre a Terra.
Dessa forma, não nos agastemos contra aqueles
que perseguem a mediunidade, através do
achincalhe – tristes negadores da realidade
cristã, ainda mesmo quando se escondem sob os
veneráveis distintivos da autoridade humana –
porquanto os talentos medianímicos estiveram,
incessantemente, nas mãos de Jesus. Ele não era
um médium curador, pois o Cristo não tinha
necessidade de assistência, ele que assistia e
auxiliava os demais, agia por si mesmo, em vista
do seu poder pessoal. Se ele recebesse um
influxo não poderia ser senão de Deus.
Compadecendo da nossa ignorância, a Divina
Providência deliberou enviar Jesus, como
governador do Planeta Terrestre, para que nos
instruísse nos caminhos da elevação. Ele veio em
pessoa e preocupou-se, acima de tudo, em
proporcionar a cada alma uma visão mais ampla da
vida, em aquinhoar cada Espírito com eficientes
recursos de renovação para o bem, a fim de
evitar a ação dos efeitos perniciosos da
obsessão. Por esse motivo, nos aconselha a não
condenar o próximo porque nele observemos a
inferioridade e a imperfeição, mas ajudar o
quanto pudermos; não perdermos tempo em procurar
o mal, porém, empregar atenção em socorrer as
vítimas.
Reforça o objetivo de sua vinda: “Sou o
grande médico das almas e venho trazer-vos o
remédio que vos há de curar. Vinde a mim, vós
que sofreis e vos achais oprimidos e sereis
aliviados e consolados. Extirpados sejam de
vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o
erro, a incredulidade; são monstros que sugam o
vosso mais puro sangue e vos abrem chagas, quase
sempre mortais”. (O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. VI, item 7.) O médico
divino curava para ensinar pelo exemplo as Leis
de Deus, sintetizadas nesta sábia sentença: amar
a Deus e ao próximo, fazendo ao vosso semelhante
o que quereríeis que ele vos fizesse.
Assim é que seu grande conhecimento das Leis que
regem o Universo e dos fluidos nele existentes,
a sua força para a dominação e transformação
desses fluidos, a sua vontade soberana de fazer
realçar a Lei de Deus, o seu amor imenso pelos
sofredores, pelos deserdados da sorte, o auxílio
constante que recebia de Deus, a enorme milícia
celeste e a multidão de Espíritos que se achavam
sob as suas ordens, o seu magnetismo, tudo
concorria para que Ele cumprisse a sua tarefa. O
restabelecimento dos enfermos seguiu-se logo
após as ordens dadas por Jesus aos Espíritos
maléficos, para que se afastassem dos
sofredores. E aquele cuja autoridade é
respeitada exerce com competência a sua tarefa.
A fama do moço nazareno corria por toda a
Galileia; a repercussão da sua palavra deveria
ter-se feito ao longe, pois inúmeros enfermos,
outros possuídos de Espíritos malignos, os que
estavam sob a obsessão buscavam o Médico Divino
onde Ele se encontrasse. Em algumas localidades
onde o Cristo nada operou, foi por causa da
incredulidade de seus habitantes. Ressaltando a
fé dos doentes beneficiados, Jesus deixava
implícito o estado de receptividade gerado pela
confiança no poder superior. Na ausência de tal
estado não haveria cura, pois não se pode dar a
quem não quer receber.
O “vigiai e orai” de Jesus é o roteiro seguro
para a preservação da integridade espiritual dos
seres humanos em todos os processos obsessivos,
uma vez que a obsessão, atingindo-lhe com mais
profundeza os escaninhos da mente, causar-lhe-á
graves transtornos, desequilíbrio. A oração é,
assim, o mais poderoso auxiliar para agir contra
o Espírito obsessor. Cessada a causa,
desapareceram os efeitos; expelidos os
Espíritos, cessou a loucura, e os homens se
restabeleciam.
Mas, como o Médico Divino conseguiu realizar
essas curas? Espírito puríssimo, de grande força
moral, que vale muito mais que a força material,
dominou Ele os Espíritos que tinham a força
física para se apoderarem dos outros, porém, não
tinham força moral para resistir às suas ordens.
Nunca, ao que parece, o estudo desse terrível
flagelo – a obsessão – que infelicita as
criaturas afastadas de Deus, a meditação sobre
suas ações e consequências, e o esforço para
combatê-la, foram mais necessários que na
atualidade.
Certos médiuns temem orar pelos obsessores a fim
de não atraí-los, quando, em verdade, devemos
amá-los e nos compadecermos deles, procurando
servi-los, pois a prece é, justamente, a defesa
que temos contra essas investidas, a par das
boas qualidades morais e mentais. Eles são, sim,
grandes sofredores que padeceram, quando
encarnados, injúrias, humilhações; muitos foram
vítimas de crimes, mas são também passíveis de
nos respeitar e estimar, se soubermos
compreendê-los e conquistá-los pelo amor, que
“tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo
sofre”, como ensina o venerável apóstolo do
amor, Paulo de Tarso, na Primeira Carta aos
Coríntios, capitulo 12.
Procurando aconselhá-los, mesmo através da
prece, pacientemente, conseguiremos atraí-los
para as coisas de Deus e mais uma ovelha poderá
ser recebida no apresso daquele amoroso Pastor
que afirmou “haver mais júbilo no céu por um
pecador que se arrepende do que por noventa e
nove justos que não necessitam de
arrependimento” (Lucas, XV: 3-7).
Bibliografia:
KARDEC, Allan. O Livro dos
Médiuns – Capítulo XXIII – Questão 237 – 59ª
edição – 1992 – FEB – Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
KARDEC, Allan. A Gênese –
Capítulo XIV – Obsessões e Possessões – item 45
– 17ª edição – 1990 – LAKE, SP, Brasil.
PEREIRA, Yvonne Amaral. À Luz
do Consolador – 3ª edição – 1998 – FEB – Rio
de Janeiro, RJ, Brasil.
SCHUTEL, Cairbar. O Espírito
do Cristianismo– 8ª edição – 2001- Gráfica
Editora O Clarim – Matão, SP, Brasil.
XAVIER, Francisco Cândido. Pelo
Espírito Emmanuel – Seara dos Médiuns –
lição 59 – 7ª edição – 1991 – FEB – Rio de
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