Bailarina
Lembro-me agora, sim… O crepúsculo entorna
Tons veludíneos de ouro entre nuvens de opala.
Entontece-te o vinho, a música te embala
E ofereces na dança a taça doce e morna.
Quantos caem no sonho em trágica madorna!
Arrastas sob os pés os corações sem fala…
Imperas, soberana; e obedeces, vassala;
Ninfa, volves da estrela e a lama te suborna.
Flor de gaze e cetim, na ribalta de Roma,
Hoje, trazes no peito horrendo carcinoma,
Em cujo lodo triste o pretérito arrasas.
No entanto, pela dor, hás de reerguer-te, um dia,
E bailarás, no Céu, por vestal da alegria,
Exaltando o amor puro, ao sol das próprias asas!…
Do livro Poetas redivivos, obra mediúnica
psicografada por Francisco Cândido Xavier.