Naturismo
ou
retrocesso?!
A
civilização
é
incompatível
com o
estado
de
natureza
“(...)
Os
Espíritos
foram
criados
simples
e
ignorantes.
Deus
deixa
que o
homem
escolha
o
caminho.
Tanto
pior
para
ele, se
toma o
caminho
mau:
mais
longa
será a
sua
peregrinação.” O
Livro
dos
Espíritos –
q. 634.
Proliferam
tanto no
Brasil
como no
estrangeiro
alguns
bolsões
do
naturismo,
cuja
filosofia
de vida
é, entre
outras
coisas,
a volta
ao
nudismo
primitivo
da taba.
(?!)
Seus
defensores
agarram-se
aos mais
deslavados
sofismas
para se
justificarem
perante
a
atônita
e
perplexa
sociedade
civilizada...
Um
desses
bolsões,
incompreensivelmente
criado
por um
ex-sacerdote
católico,
localiza-se
numa
região
serrana
do
Estado
do Rio
Grande
do Sul,
atraindo
aficionados
das mais
longínquas
regiões
do país,
inclusive
(pasmem!)
famílias
inteiras.
Em
entrevista
dada a
um
sensacionalista
programa
de
televisão,
o
ex-sacerdote,
atingindo
o zênite
do
paralogismo,
inverte
a
situação
perguntando
ao
repórter: “o
senhor
já viu
por aí
um boi,
uma
vaca, ou
qualquer
outro
animal
usando
roupas?
Seria
ridículo,
não?
Pois se
os
animais
andam
nus, sem
chamar a
atenção
de
ninguém
que mal
há em
que o
ser
humano
também o
faça?”
Vejamos
se na
Codificação
encontramos
respaldo
para
esse
disparate!
Segundo
Allan
Kardec,“as
condições
de
existência
do homem
mudam de
acordo
com os
tempos e
os
lugares,
do que
lhe
resultam
necessidades
diferentes
e
posições
sociais
apropriadas
a essas
necessidades.
À razão
cabe
distinguir
as
necessidades
reais
das
factícias
ou
convencionais.
(...) A
responsabilidade
do homem
é
proporcional
aos
meios de
que ele
dispõe
para
compreender
o bem e
o mal”.
Reflitamos
em torno
das
questões
776 a
778 de “O
Livro
dos
Espíritos”:
776.
Serão
coisas
idênticas
o estado
de
natureza
e a lei
natural?
“Não. O
estado
de
natureza
é o
estado
primitivo.
A
civilização
é
incompatível
com o
estado
de
natureza,
ao passo
que a
lei
natural
contribui
para o
progresso
da
humanidade.
O
estado
de
natureza
é a
infância
da
humanidade
e o
ponto de
partida
do seu
desenvolvimento
intelectual
e moral.
Sendo
perfectível
e
trazendo
em si o
gérmen
do seu
aperfeiçoamento,
o homem
não foi
destinado
a viver
perpetuamente
no
estado
de
natureza,
como não
o foi a
viver
eternamente
na
infância.
Aquele
estado é
transitório
para o
homem,
que dele
sai por
virtude
do
progresso
e da
civilização.
A lei
natural,
ao
contrário,
rege a
humanidade
inteira
e o
homem se
melhora
à medida
que
melhor a
compreende
e
pratica.”
777.
Tendo o
homem,
no
estado
de
natureza,
menos
necessidades,
isento
se acha
das
tribulações
que para
si mesmo
cria,
quando
num
estado
de maior
adiantamento.
Diante
disso,
que se
deve
pensar
da
opinião
dos que
consideram
aquele
estado
como o
da mais
perfeita
felicidade
na
Terra?
“Que
queres!
é a
felicidade
do
bruto!
Há
pessoas
que não
compreendem
outra. É
ser
feliz à
maneira
dos
animais.
As
crianças
também
são mais
felizes
do que
os
homens
feitos”.
778.
Pode o
homem
retrogradar
para o
estado
de
natureza?
“Não. O
homem
tem que
progredir
incessantemente
e não
pode
volver
ao
estado
de
infância.
Desde
que
progride,
é porque
Deus
assim o
quer.
Pensar
que
possa
retrogradar
à sua
primitiva
condição
fora
negar a
lei do
progresso.”
779. A
força
para
progredir,
haure-a
o homem
em si
mesmo,
ou o
progresso
é apenas
fruto de
um
ensinamento?
“O homem
se
desenvolve
por si
mesmo,
naturalmente.
Mas, nem
todos
progridem
simultaneamente
e do
mesmo
modo.
Dá-se
então
que os
mais
adiantados
auxiliam
o
progresso
dos
outros,
por meio
do
contato
social.”
Concluímos,
assim,
com os
Espíritos
Amigos
que –
paradoxalmente
– o
naturismo
não tem
nada de
natural,
constituindo-se
para o
homem
civilizado
tão
somente
um
retrocesso,
uma
marcha
às
avessas,
ao tempo
da
barbárie,
um
retorno
à
infância...
É bom
notar
que
ainda
existe
aqui
outra
agravante
nesta
questão:
a
atuação
dos
obsessores,
pois,
sem
dúvida,
a única
explicação
racional
que
conseguimos
vislumbrar
para um
sacerdote
despir a
sua
batina e
adotar o
nudismo
como
opção de
vida só
mesmo
debitando
isso a
uma
arrebatadora
e soez
obsessão.
Façamos
agora um
giro
pela
área da
psicologia
junto
com José
Bleger,
para que
não nos
acoimem
de
espírita
fanático,
puritano,
retrógrado
e
misoneísta.
Eis o
extrato
que
tiramos
de seu
livro
que
estuda a
conduta
do homem:
O MITO
DO HOMEM
NATURAL
Postula-se,
nesse
tipo de
concepção,
a
existência
de um
estado
ou
essência
originária
do ser
humano,
que se
corrompeu
ou
distorceu
pela
influência
da
civilização;
em
choque
com o
socialmente
adquirido,
que
constitui
o
artificial.
O estado
natural
do homem
é,
então,
sustentado
como o
genuíno
ou
ideal.
Daqui
inferiu-se,
em
algumas
ocasiões,
que o
caminho
correto
é o da “volta
à
natureza”,
o
retorno
ao
estado
originário,
natural,
desfazendo
ou
apartando
todo o
culturalmente
adquirido
e
condicionado
no ser
humano...
Nesse
tipo de
postulação,
implica-se
que o
homem
natural
é bom e
tem
qualidades
que se
perdem
ou
perturbam
por
influência
da
organização
social;
de tal
maneira
chegou-se
a
construir
uma
imagem
desse
tipo
ideal de
ser
humano
ou a
supô-lo
existente
em
culturas
ou
populações
de
organização
primitiva.
O
desenvolvimento
da
cultura
dá,
assim,
um
verniz
superficial
ao ser
humano,
mas, por
debaixo
desse,
acha-se
sua
natureza
originária,
que,
dessa
maneira,
é
irremovível
e fixa,
e pode
ser
reencontrada
ou posta
novamente
em
primeiro
plano.
Nesse
aspecto,
sustentaram
posições
semelhantes
autores
tão
diversos
como
Rousseau,
Klages e
Lessing.
No
século
dezessete,
Hobbes,
Spinoza
e Locke
postulavam
um “estado
natural” anterior
à
civilização
e isso
implicava
considerar
essa
última
como
artificial
e
convencional.
Para
Rousseau,
as artes
e as
ciências
produziram
uma
decadência
do ser
primitivo,
essencialmente
bom, que
assim
corrompeu-se
pela
influência
cultural,
afastando-se
de sua
relação
direta e
imediata
da
Natureza
e de sua
bondade
originária;
a
cultura
é algo
artificioso
e por
ser
antinatural
provoca
a
decadência
do ser
humano.
Lessing
desenvolveu
também
um “naturalismo” como
a fonte
autêntica
da vida,
distorcida
pela
ação dos
homens.
Na
teoria
do “homem
natural” é
necessário
reconhecer,
segundo
o
estabelece
corretamente
Bidney,
duas
coisas
diferentes:
por um
lado, a
suposição
de um
estado
natural
pré-histórico
originário,
do qual
emergiu
o homem
atual, e
– em
segundo
lugar e
por
outra
parte –
um
estado
universal
presente,
pelo
qual o
homem,
em todos
os
lugares
e em
todos os
tempos,
é o
mesmo;
não se
trata,
nesse
último
caso, de
uma
condição
genética
pretérita
e sim de
uma
condição
universal
do ser
humano
que
subsiste
como tal
por
debaixo
das
modificações
culturais
que são,
assim,
meramente
superficiais...
Sabemos,
na
atualidade,
que não
existe
tal “homem
natural” e
que essa
teoria é
a
prolongação,
no campo
científico,
de uma
fantasia
de
caráter
religioso,
que
supõe o
homem
engendrado
de forma
pura
pelas
mãos de
Deus,
para
logo
sofrer
uma
decadência
ou “queda”no
pecado e
na
culpa.
As
investigações
antropológicas
demonstraram,
de forma
incontroversa,
que os
indivíduos
de
culturas
primitivas
não são
seres
naturais
e que
sua
personalidade
está
funcionalmente
correlacionada
com a
estrutura
total de
sua
respectiva
organização
social,
que
tampouco
é
simples
e
singela
e sim
altamente
complexa...
Sabemos
que o
homem é
um
produto
histórico,
transforma
a
Natureza
e, nesse
processo,
cria a
cultura
e
transforma
a sua
própria
natureza.
Com o
homem
aparece
uma nova
maneira
de se
adaptar:
a de
criar
novas
condições
ambientais,
transformando
o meio
natural,
e esse
processo
o pode
realizar,
em
parte,
prevendo
os
resultados
e os
objetivos.
O
próprio
homem é
também
produto
de um
desenvolvimento
histórico
e se
torna
uma nova
natureza:
“a
humana”.
(...) O
homem é
o único
dos
seres
vivos
que pode
pensar a
si mesmo
como
objeto,
utilizar
o
pensamento,
conceber
símbolos
universais,
criar
uma
linguagem,
prever e
planificar
sua
ação,
utilizar
instrumentos
e
técnicas
que
modificam
a sua
própria
natureza.
Ainda
que
formando
parte da
Natureza,
pode, em
certa
medida,
ser
independente
dela.
Segundo
informes
dos
Espíritos
Superiores, “(...)
há entre
a alma
dos
animais
e a do
homem
distância
equivalente
à que
medeia
entre a
alma do
homem e
Deus”.
Vemos,
assim,
tanto
com os
ensinamentos
dos
Maiores
da
Espiritualidade
quanto
com os
dos
estudiosos
encarnados,
que nada
justifica
a
comparação
infeliz
do
ex-sacerdote
travestido
de
troglodita,
que
menos
mal
faria
pregando
os
ancilosados
dogmas
católicos
do que
revivescendo
o
romântico,
mas
irreal
mito de
Adão e
Eva no
Paraíso.
Por
essas e
outras é
que não
têm
faltado
a
paciência
e a
misericórdia
dos
Espíritos
Superiores,
entre
Eles o
Espírito
de
Verdade,
que
declarou: “(...)
sinto-me
por
demais
tomado
de
compaixão
pelas
vossas
misérias,
pela
vossa
fraqueza
imensa,
para
deixar
de
estender
mão
socorredora
aos
infelizes
transviados
que,
vendo o
céu,
caem nos
abismos
do erro.
Crede,
amai,
meditai
sobre as
coisas
que vos
são
reveladas;
não
mistureis
o joio
com a
boa
semente,
as
utopias
com as
verdades”.
[1] -
KARDEC,
Allan. O
Livro
dos
Espíritos.
88. ed.
Rio: FEB,
2006,
questões
635 e
637
(Notas
de
Kardec).
[2] -
José
Bleger. “Psicologia
da
Conduta” –
Capítulo
1 –
Editora
Artes
Médicas
Sul
Ltda.
[3] -
KARDEC,
Allan. O
Livro
dos
Espíritos.
88. ed.
Rio [de
Janeiro]:
FEB,
2006, q.
597a.
[4] -
KARDEC,
Allan. O
Evangelho
segundo
o
Espiritismo. 125.ed.
Rio: FEB,
2006,
cap. VI,
item 5,
§ 4º. |