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por Cláudio Bueno da Silva

 
Trate de fazer alguma luz


“Brasil, um país do futuro” é uma expressão do escritor austríaco de origem judaica Stefan Zweig, que se transferiu para cá fugindo da expansão da barbárie nazista na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Zweig formou essa opinião viajando pelo país e observando as características dos brasileiros, e sua frase acabou se transformando num slogan muito citado desde 1941, ano em que seu famoso livro foi editado com aquele título.

Passados setenta e oito anos, com as marchas e contramarchas, avanços e recuos que a nação brasileira tem vivido nesse longo período, talvez ainda se possa usar a mesma frase carregada de otimismo, traduzindo a esperança que ela incutiu nos brasileiros de que esse “futuro” possa um dia chegar.

Quando falamos do futuro do Brasil estamos nos referindo ao futuro do seu povo, naturalmente, pois o que constitui uma nação é o seu povo. Os princípios naturais de justiça, amor e caridade que vigoram numa nação refletem exatamente o estágio que ocupa a sua população na escala de evolução espiritual, o que equivale dizer, a maneira como ela consegue compreender e viver esses princípios.

Nosso país atravessa atualmente um período difícil caracterizado pela erupção generalizada de conteúdos emocionais de baixo teor em todos os setores da atividade social, revelando uma anomalia do nosso povo de que não se suspeitava. Para muitos, vive-se agora uma crise de valores jamais vista, e que afeta em cheio pessoas e instituições.

Sob análise simplificada, as crises aparecem em função de desequilíbrios vários – sempre de fundo moral – que a sociedade em geral entretece. Por trás das crises há sempre o desrespeito, a negligência, a violação daqueles princípios citados acima. E o combustível desses males é fundamentalmente o orgulho, o egoísmo e a ambição.

O Brasil é considerado um país religioso. A quase totalidade da sua população se diz adepta deste ou daquele credo. No entanto, grande parte desse contingente alimenta, por razões diversas, a face sombria desta crise, contradizendo com palavras e ações os preceitos morais que a verdadeira Religião recomenda. A religião praticada com sinceridade deveria, pois, regular em níveis amistosos e fraternos as relações em sociedade. Mas não é isso o que acontece. O problema não está com a religião, e sim com os “religiosos”, já disse.

Mas, independentemente de religião, os avanços da civilização propõem normas éticas consensuais de convivência. Intuitivamente, em maior ou menor grau, o cidadão sabe o que deve fazer e como se comportar em relação ao outro. Para isso, basta que se lembre de um aviso bem antigo e conhecido: “Não faça aos outros, o que não quer que lhe façam”. A força desse pensamento de Jesus, por si só, evitaria muitas mazelas humanas. Porém, falta disposição aos homens para refletir sobre o que poderá revolucionar a vida na Terra, tornando-os mais saudáveis e felizes.

Aos que têm no egoísmo e no orgulho a sua maior força; aos que pensam que dinheiro e poder são inesgotáveis; aos que acham que sua vilania e perversão são ignoradas; aos que creem que não precisam prestar contas dos seus atos a ninguém, sequer a Deus, saibam que, em relação ao Universo, a Terra é um povoado; a humanidade, uma tribo. Estamos muito longe do que pensamos ser e saber.

Quando menos esperarmos, estaremos com um espelho à nossa frente e, refletida nele, a nossa consciência cobrando de nós mesmos o que devemos aos outros.

Mais que “passar o Brasil a limpo”, é preciso que cada brasileiro assuma sua parcela de responsabilidade na recomposição das energias esgotadas por ele mesmo. Que cada brasileiro limpe a própria alma com o exercício do respeito, da tolerância e da indulgência. Enfim, que cada brasileiro modifique seu padrão mental, compreendendo que pensamentos, palavras e ações desajustados envenenam a sua cabeça e o meio onde vive. Imagine-se esse processo ocorrendo com toda uma população...

Portanto, agora é tempo de pensar o bem, de usar boas práticas. Ser melhor para evitar o pior. Agindo assim, não demora e essa névoa soturna que nos envolve começará a se diluir. Quem não gosta ou não quer viver na escuridão trate de fazer alguma luz. Somos chamados a colaborar. Trata-se de construir o futuro do Brasil, o nosso futuro.

  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita