Artigos

por Leda Maria Flaborea

 

Com ardente amor


“Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns com os outros.” -
Pedro (I Pedro, 4:8.)


Na carta acima citada, o apóstolo Pedro envia aos novos cristãos da Ásia, convertidos do paganismo, palavras de esperança, convidando-os a permanecerem firmes na sua fé, pois estavam sofrendo perseguições por parte dos seus vizinhos pagãos. O apóstolo recomenda que mantenham uma vida exemplar dentro dos ensinamentos de Jesus, para que essa nova jornada se dignifique pelas suas ações. Mas que, também, sejam constantemente caridosos uns com os outros; que contem aos companheiros as graças recebidas, para que todos saibam que cada um estará recebendo de Deus aquilo que realmente for necessário, porque o Pai não abandona nenhuma de suas criaturas.

Quando Pedro nos chama a todos, e não somente o povo asiático, à prática da caridade, não deixa nenhuma dúvida a respeito do que pretendia Jesus quando ensinava o amor aos Seus discípulos, porque não basta dizer onde está o Cristo ou onde estão suas palavras. É indispensável mostrá-Lo na própria exemplificação. Quantos de nós, em busca de Jesus, percorrem diferentes templos e altares, mudam de crença imaginando que em outros caminhos O encontrarão... Mais adiante, nessas caminhadas, entendemos que não basta mudar o trajeto porque a perturbação, o medo, a angústia, que tomam conta de nós, permanecem ali, conosco, assombrando nossa existência, sem que qualquer alívio nós tenhamos conseguido. Demoramos no problema sem encontrarmos a solução.

O que fazer então? Onde está o Cristo? Emmanuel, estimado benfeitor espiritual, nos recorda que é necessário buscá-Lo no santuário interior; é imprescindível que, individualmente, ouçamos o aviso do apóstolo Pedro e nos plenifiquemos com ardente caridade uns com os outros.

Muitos de nós não entendem, ainda, a caridade a não ser aquela de ordem material; todavia, essa dádiva precisa ser tão extensa quanto a sublimidade na qual ela vem envolta. É o apóstolo Paulo de Tarso que afirma a necessidade de o ato caridoso abranger todas as manifestações de nossa existência. Entendemos assim que distribuir o conforto material é tão somente o início dessa tarefa que nos levará a encontrar o Excelso amigo em nós.

Sob este ponto de vista, tudo que fazemos ao outro de bom e de bem pode ser compreendido como caridade. Por exemplo: quando falamos com doçura e espírito fraterno palavras que toquem o coração, estamos sendo caridosos; ao procurarmos ouvir com interesse o que o outro fala, quando é só do que ele necessita, sem dizermos palavra alguma, estamos sendo caridosos; ao impedir com tranquilidade que almas atormentadas cometam desatinos, estamos sendo caridosos.

Assim é, todas as vezes que estimulamos a iniciativa de trabalho evolutivo na aquisição de valores morais, não importa qual seja ele, ou quando esquecemos a ofensa sofrida para que não perturbemos nossa saúde mental e física, estamos sendo caridosos conosco e com o irmão em desequilíbrio. Mas, principalmente, recordar sempre que necessitamos da caridade de companheiros para nos auxiliarem, pois nunca estamos sozinhos no trabalho com Jesus.

Falar com desenvoltura sobre o Mestre, ensinar seu Evangelho com acerto e honestidade, crendo sinceramente nos ensinamentos Dele não basta. É preciso ir além. É necessário vigiar constantemente nossos pensamentos, porque será através dessa vigilância que nos protegeremos de nós mesmos pelas vibrações pessimistas contínuas de doenças, queixumes, lamentações e derrotas que emitimos – muitas vezes sem percebermos –, que nos enfraquecem e nos tornam alvos fáceis para o domínio de outras mentes, tão enfermiças quanto as nossas e que transitam nas mesmas faixas vibratórias.  Só nos blindaremos se criarmos ao nosso redor um escudo protetor contra esses ataques.

A oração que fazemos chamando sempre por Deus, por Jesus ou por Seus emissários amorosos é importante porque nos fortalece, mas é na prática do amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos que nos aprimoraremos, buscando ser pessoas melhores e mais fraternas. Precisamos “cristianizar” nossa existência presente e isto não significa mudanças externas, mas reformarmo-nos para o bem no campo do Espírito.

Todos nós que buscamos essa transformação interior sabemos o quanto é difícil revelar, pela prática diária, os propósitos do Divino Amigo: fazer o bem antes de ensiná-lo a outrem, ser fraterno, antes de aconselhar o outro. Buscar alcançar a essência dos seus ensinamentos, longe da superficialidade da letra, examinando seu conteúdo espiritual, e a partir daí colocar em prática no esforço diário, vai requerer de cada um de nós grandes sacrifícios. Será que estamos dispostos a tantas renúncias?

A caridade teórica existe e por isso é necessário buscar o amor fraterno, espontâneo, ardente e puro ao qual nos conclama o apóstolo Pedro.  Procurar e encontrar o Mestre em nós é realizar com afinco o serviço ao qual fomos chamados a executar nesta existência, por mais humilde nos pareça, porque é nela, nessa tarefa, que poderemos pôr em prática os ensinamentos que Jesus nos transmitiu. Se não nos entenderem, paciência. Deus nos acompanha em nosso trabalho de devotamento.  


Bibliografia:

 XAVIER, F. C. Caminho, Verdade e Vida. Ditado pelo Espírito Emmanuel – 17ª edição, FEB – Brasília / DF - lição 19 – 1997.

Idem – Pão Nosso. Ditado pelo Espírito Emmanuel – 17ª edição, FEB – Brasília / DF – lição 31.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo – Capítulo 13, item 11 e Capítulo 15, item 10.

Idem – O Livro dos Espíritos – questão 886.
 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita