Com ardente amor
“Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns com os
outros.” -Pedro
(I Pedro, 4:8.)
Na carta acima citada, o apóstolo Pedro envia aos novos
cristãos da Ásia, convertidos do paganismo, palavras de
esperança, convidando-os a permanecerem firmes na sua
fé, pois estavam sofrendo perseguições por parte dos
seus vizinhos pagãos. O apóstolo recomenda que mantenham
uma vida exemplar dentro dos ensinamentos de Jesus, para
que essa nova jornada se dignifique pelas suas ações.
Mas que, também, sejam constantemente caridosos uns com
os outros; que contem aos companheiros as graças
recebidas, para que todos saibam que cada um estará
recebendo de Deus aquilo que realmente for necessário,
porque o Pai não abandona nenhuma de suas criaturas.
Quando Pedro nos chama a todos, e não somente o povo
asiático, à prática da caridade, não deixa nenhuma
dúvida a respeito do que pretendia Jesus quando ensinava
o amor aos Seus discípulos, porque não basta dizer onde
está o Cristo ou onde estão suas palavras. É
indispensável mostrá-Lo na própria exemplificação.
Quantos de nós, em busca de Jesus, percorrem diferentes
templos e altares, mudam de crença imaginando que em
outros caminhos O encontrarão... Mais adiante, nessas
caminhadas, entendemos que não basta mudar o trajeto
porque a perturbação, o medo, a angústia, que tomam
conta de nós, permanecem ali, conosco, assombrando nossa
existência, sem que qualquer alívio nós tenhamos
conseguido. Demoramos no problema sem encontrarmos a
solução.
O que fazer então? Onde está o Cristo? Emmanuel,
estimado benfeitor espiritual, nos recorda que é
necessário buscá-Lo no santuário interior; é
imprescindível que, individualmente, ouçamos o aviso do
apóstolo Pedro e nos plenifiquemos com ardente caridade
uns com os outros.
Muitos de nós não entendem, ainda, a caridade a não ser
aquela de ordem material; todavia, essa dádiva precisa
ser tão extensa quanto a sublimidade na qual ela vem
envolta. É o apóstolo Paulo de Tarso que afirma a
necessidade de o ato caridoso abranger todas as
manifestações de nossa existência. Entendemos assim que
distribuir o conforto material é tão somente o início
dessa tarefa que nos levará a encontrar o Excelso amigo
em nós.
Sob este ponto de vista, tudo que fazemos ao outro de
bom e de bem pode ser compreendido como caridade. Por
exemplo: quando falamos com doçura e espírito fraterno
palavras que toquem o coração, estamos sendo caridosos;
ao procurarmos ouvir com interesse o que o outro fala,
quando é só do que ele necessita, sem dizermos palavra
alguma, estamos sendo caridosos; ao impedir com
tranquilidade que almas atormentadas cometam desatinos,
estamos sendo caridosos.
Assim é, todas as vezes que estimulamos a iniciativa de
trabalho evolutivo na aquisição de valores morais, não
importa qual seja ele, ou quando esquecemos a ofensa
sofrida para que não perturbemos nossa saúde mental e
física, estamos sendo caridosos conosco e com o irmão em
desequilíbrio. Mas, principalmente, recordar sempre que
necessitamos da caridade de companheiros para nos
auxiliarem, pois nunca estamos sozinhos no trabalho com
Jesus.
Falar com desenvoltura sobre o Mestre, ensinar seu
Evangelho com acerto e honestidade, crendo sinceramente
nos ensinamentos Dele não basta. É preciso ir além. É
necessário vigiar constantemente nossos pensamentos,
porque será através dessa vigilância que nos
protegeremos de nós mesmos pelas vibrações pessimistas
contínuas de doenças, queixumes, lamentações e derrotas
que emitimos – muitas vezes sem percebermos –, que nos
enfraquecem e nos tornam alvos fáceis para o domínio de
outras mentes, tão enfermiças quanto as nossas e que
transitam nas mesmas faixas vibratórias. Só nos
blindaremos se criarmos ao nosso redor um escudo
protetor contra esses ataques.
A oração que fazemos chamando sempre por Deus, por Jesus
ou por Seus emissários amorosos é importante porque nos
fortalece, mas é na prática do amar a Deus sobre todas
as coisas e ao próximo como a nós mesmos que nos
aprimoraremos, buscando ser pessoas melhores e mais
fraternas. Precisamos “cristianizar” nossa existência
presente e isto não significa mudanças externas, mas
reformarmo-nos para o bem no campo do Espírito.
Todos nós que buscamos essa transformação interior
sabemos o quanto é difícil revelar, pela prática diária,
os propósitos do Divino Amigo: fazer o bem antes de
ensiná-lo a outrem, ser fraterno, antes de aconselhar o
outro. Buscar alcançar a essência dos seus ensinamentos,
longe da superficialidade da letra, examinando seu
conteúdo espiritual, e a partir daí colocar em prática
no esforço diário, vai requerer de cada um de nós
grandes sacrifícios. Será que estamos dispostos a tantas
renúncias?
A caridade teórica existe e por isso é necessário buscar
o amor fraterno, espontâneo, ardente e puro ao qual nos
conclama o apóstolo Pedro. Procurar e encontrar o
Mestre em nós é realizar com afinco o serviço ao qual
fomos chamados a executar nesta existência, por mais
humilde nos pareça, porque é nela, nessa tarefa, que
poderemos pôr em prática os ensinamentos que Jesus nos
transmitiu. Se não nos entenderem, paciência. Deus nos
acompanha em nosso trabalho de devotamento.
Bibliografia:
XAVIER, F. C. Caminho, Verdade e Vida.
Ditado pelo Espírito Emmanuel – 17ª edição, FEB –
Brasília / DF - lição 19 – 1997.
Idem – Pão
Nosso. Ditado pelo Espírito Emmanuel – 17ª edição,
FEB – Brasília / DF – lição 31.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo – Capítulo 13, item 11 e Capítulo 15,
item 10.
Idem – O
Livro dos Espíritos – questão 886.
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