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por Maria de Lurdes Duarte

 
Evolução… ou regressão?


Somos constantemente confrontados por esta questão, quer nas nossas reflexões pessoais, quer em conversas com amigos e conhecidos. São muitas as observações que vamos fazendo do mundo, e as interpretações dos acontecimentos que nos afligem e preocupam.

Perante o atual estado da situação mundial, não é, realmente, difícil ceder à tentação de pôr em causa a crença de que o mundo e a humanidade estejam a progredir. São as guerras intermináveis entre povos, que parecem suceder-se umas às outras, sem que se estabeleça uma paz duradoura… São o racismo e a xenofobia, que levam os países a fechar fronteiras e erguer muros… São as lutas por um pedaço de chão que, enganosamente, achamos pertencer-nos por direito… são os crimes de violência doméstica e maus-tratos contra crianças, a entrar-nos pela casa a dentro através dos meios de comunicação social… É escravatura negra ou branca… O desrespeito pelos direitos dos outros… A miséria ao lado do luxo extremo… A prepotência das maiores potências mundiais, indiferentes à miséria que grassa mesmo ao lado… Os desastres ambientais e a destruição do planeta, devido à busca incessante de lucros desenfreados… As tecnologias modernas ao serviço da destruição das relações humanas, em vez de ser foco de aproximação… As redes sociais ao serviço da maledicência e do exibicionismo, quando poderiam e deveriam ser recurso para a partilha saudável…

 Poderíamos ficar, interminavelmente, a desfiar o rol de sinais que nos fazem perder alguma fé no mundo, e perguntar: Mas em que está o Homem a transformar-se? É isto o progresso?

Poderá a Doutrina Espírita, de alguma forma, ajudar-nos a manter a esperança e a compreender o mundo tal como hoje se nos apresenta? Certamente que sim. Se aprofundarmos o seu estudo, encontraremos na Codificação valiosos recursos que auxiliarão a análise dos acontecimentos e ideias atuais e orientarão a necessária reflexão.

 Sim, porque é reflexão que está a fazer falta, em muitos setores da Sociedade. Estamos, de certa forma, a habituar-nos a agir por impulso, sem refletirmos nas consequências dos nossos atos. Vivemos esquecidos do que verdadeiramente nos trouxe a este mundo, nesta vida. Digo “esquecidos”. Esta é a palavra certa. Ninguém, sejam quais forem as suas crenças, ou falta delas, tem a desculpa de “não saber”. Todos já nascemos, morremos e renascemos neste mundo, vezes incontáveis. Não é, para nenhum de nós, a primeira vez. Todos assumimos, mais uma vez, como tantas outras, tarefas, missões, compromissos, de vária ordem, em função do que teríamos de aprender, saldar, emendar, nas nossas personalidades tendenciosamente afeitas mais ao Mal do que ao Bem. Todos, ao voltar, mais uma vez, à vida terrena, buscávamos corrigir e aperfeiçoar a nossa personalidade e aprender a viver de acordo com as Leis de Deus, por reconhecermos que só elas nos facultarão uma vida plena e feliz. Todos estudamos e aprendemos, antes do regresso, todos nos preparamos para o mundo que iríamos encontrar e para as tarefas que teríamos de desempenhar. Se falhamos, mais uma vez, é porque nos deixamos cegar pela matéria e preferimos o esquecimento. É sempre mais fácil dizer “Se eu soubesse! Se tivesse sido esclarecido!” Mas não somos marinheiros de primeira maré.

Perdemos tempo precioso e, com isso, estacionamos, contribuindo para o progresso tão lento desta Humanidade a que pertencemos, e que poderia estar já numa posição melhor, se nos empenhássemos nesse propósito. Todos, sem exceção, já que, se estamos aqui e agora, é porque pertencemos a esta ordem de coisas e dela necessitamos para a nossa própria evolução.

Façamos, então, uma breve reflexão, tomando como recurso o capítulo VIII, Lei do Progresso, no seu ponto II, Marcha do Progresso.

779. O homem tira de si mesmo a energia progressiva ou o progresso não é mais do que o resultado de um ensinamento?

- O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma maneira; é então que os mais adiantados ajudam os outros a progredir pelo contato social.

778. O progresso moral segue sempre o progresso intelectual?

- É a sua consequência, mas não segue sempre imediatamente.

780-a. Como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral’

- Dando a compreensão do bem e do mal, pois então o homem pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos.

780-b. Como se explica, então, que os povos mais esclarecidos sejam frequentemente os mais pervertidos?

- O progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os indivíduos, não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o senso moral eles podem servir-se da inteligência para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo.

Vemos, pelas respostas dos Espíritos às questões colocadas por Allan Kardec, a necessidade de sublinhar o fato de inteligência e moral dificilmente andarem a par. A inteligência precede à moral. É necessário que assim seja para que o Homem tenha a capacidade de discernimento que o leve a bem usar o livre-arbítrio e consiga compreender e tirar conclusões a partir das consequências dos seus atos. Vemos que atualmente as nossas sociedades estão a atingir culminâncias intelectuais, em que o conhecimento, a tecnologia, a ciência evoluem a passos largos. Falta-nos aprender a usar todo esse conhecimento de forma a beneficiar e melhorar as condições de todos, em vez de nos guerrearmos. Colaborar em vez de competir. Amparar em vez de discriminar. Em suma, falta-nos vencer o orgulho e o egoísmo que nos separam e entravam o progresso pessoal e social.

Outro aspecto que chama a atenção nas respostas dos Espíritos é o que se refere à colaboração dos mais adiantados em relação aos menos evoluídos. É o real motivo para nascermos e vivermos em sociedade: partilha, colaboração, necessidade de aprendermos uns com os outros, quer colhendo os bons exemplos, quer pela observação dos erros e suas consequências que nos ensinam, levando-nos a evitar o que não serve porque provoca sofrimento. Para toda essa aprendizagem, precisamos da ação do tempo, que levará ao equilíbrio entre inteligência e moral.

781. É permitido ao homem deter a marcha do progresso?

- Não, mas pode entravá-la algumas vezes.

783. O aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta?

- Há o progresso regular que resulta da força das circunstâncias, mas quando um povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos a tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.

O que é dito sobre a marcha do progresso dos povos aplica-se igualmente à marcha individual. Temos a escolha nas nossas mãos. Podemos progredir pelo estudo, pela prática do bem, ou seja, pelo conhecimento e o amor, ou podemos necessitar dos abalos que a vida nos coloca no caminho, como chamada de atenção, ou seja, pela dor. Somos os artífices do progresso, quer pessoal quer da Humanidade terrena da qual fazemos parte.

A Lei de Progresso não permite regressões. O que conquistamos é nosso. Mas… por quanto tempo mais estacionaremos num patamar de expiação e prova, quando a estrada evolutiva é longa e se estende à nossa frente com as promessas de felicidade e bem-aventurança apresentadas pelo Mestre Jesus? A escolha é nossa. Quando o mérito exceder a necessidade de expiação, quer a Terra, na sua generalidade, tenha avançado ou não, Deus nos colocará no lugar adequado ao nosso estágio evolutivo. Mas, pelo contrário, a Terra poderá avançar sem nós. Se assim for, seremos nós a ser afastados para mundos menos evoluídos onde a nossa consciência continuará a ser trabalhada, pelo contato com aqueles com quem nos afinizamos e com quem deveremos colher experiências enquanto colaboramos com os conhecimentos e qualidades que porventura tenhamos já adquirido.

Como diz Léon Denis, no seu livro “O porquê da vida”, “É conforme seus atos com as leis superiores que o homem trabalhará eficazmente pelo seu próprio melhoramento e pelo da sociedade… Quando se compenetrar da grandeza da sua missão, o ser humano saberá desprender-se melhor daquilo que o rebaixa e abate; saberá governar-se criteriosamente, preparar pelos seus esforços a união fecunda dos homens numa grande família de irmãos”. Que bom será quando nos compenetrarmos disso!

Mais uma vez, a escolha é nossa. Estudemos, trabalhemos, afinizemo-nos com o Bem, enquanto estamos a caminho. Para isso, temos os ensinamentos do Mestre. Para isso, temos a Doutrina dos Espíritos. Não deixemos de aproveitar tão valiosos recursos!


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita