Necessitamos da oração
“Que me importa a
abundância das vítimas? Julgais que me contento com o
seu sangue e os seus holocaustos? Tenho em abominação os
vossos hinos, as vossas festas e as vossas orações.
Purificai os vossos corações; tirai das minhas vistas a
iniquidade dos vossos pensamentos; não continueis a
praticar obras perversas; aprendei a fazer o bem;
procurai adquirir o discernimento; socorrei o oprimido;
fazei justiça ao órfão e defendei o perseguido.” Isaías
1:15 a 17.
“Nem todo o que me
diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz vontade de meu pai que está nos céus.” -
Mt 7:21.
“Não estejais
falando com Deus e pensando noutra coisa, que isto é não
entender o que seja a oração mental.” Tereza de Jesus
(1515-1582).
Melhor orar menos, mas
despertos, conscientes. Oração exige concentração.
Melhor prece é eleger como objetivo da própria vida o
tornar os outros felizes.
Colhemos em ‘O Evangelho segundo o Espiritismo”1
preciosas orientações sobre o tema: primeira coisa ao
despertar é a prece, o pensamento em Deus; gratidão pelo
sono e pelo recomeço de novo dia.
É o que também nos recomendam os Espíritos: “Comece o
dia à luz da oração. O amor de Deus nunca falha”.
“Dai-me forças para não falir de novo e coragem para a
reparação da minha falta.”
Pedir a oportunidade de conquistar virtudes.
“Rogai-Lhe que vos conceda os bens mais preciosos da
paciência, da resignação, e da fé.”
Não cuidar de pedir coisas materiais.
“O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom
êxito para os vossos empreendimentos terrenos (...).”
“Buscai primeiro o reino dos Céus e a sua Justiça e o
mais vos será acrescentado.”
“Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e
vereis que torrente de graças e de consolações se
derramará sobre vós.”
E orar com humildade, sem impor condições ao Pai, com
submissão aos supremos desígnios, como nos ensina Jesus
na Oração Dominical: “Seja feita a vossa vontade...”.
Pedir o de que realmente necessitamos, eis que nos
iludimos quanto às nossas necessidades: não o fim das
provas, não a posse de riquezas e alegrias ainda
imerecidas; se possível a saúde física e mental, mas a
coragem e a serenidade de suportar expiações e provações
de toda ordem.
Convém-nos compreender que não se ora só com palavras,
mas na forma de viver; de cumprir as próprias tarefas;
de se relacionar com as pessoas; de pensar (cultivando
bons pensamentos); e, sobretudo, com a prática de boas
ações, incansavelmente, sem se preocupar com
recompensas.
“Oremos, meus irmãos, mas oremos servindo.” (Albino
Teixeira/Chico-Caminho Espírita.)
“Como vedes, a prece pode ser de todos os instantes, sem
nenhuma interrupção acarretar aos vossos trabalhos.”
Orar com pensamentos que partam do coração. Nada de
preces decoradas, recitadas automaticamente; mas, se for
o caso, fazê-las observando o sentido de cada frase,
para melhor compreendê-las. Quem passa por grandes
dores, quase sempre aprende a orar e valoriza a prece.
Orar em qualquer lugar: ao passar por Hospital, rogar
por enfermos, médicos, enfermeiras e demais
trabalhadores; ao cruzar com outras pessoas, emitir
pensamentos de paz para todas elas.
Envolver em ondas mentais de ternura:
– crianças;
– jovens;
– profissionais de todas as áreas;
– motorista do ônibus;
– lavradores, no campo;
– políticos; juízes; empresários;
– suicidas;
– viciosos;
– prisioneiros; policiais;
– enfim, a Humanidade inteira: encarnados e
desencarnados.
Conscientizarmo-nos de que a prece é compromisso que
exige contrapartida; que há a parte que nos compete
realizar – “Perdoa as nossas dívidas, assim como
perdoamos aos que nos devem” – e que requer mudanças de
conduta (“Ajuda-te, que o Céu te ajudará!”)
Perceber que não nos cabe só pedir, mas fazer nossa
parte; agradecer, louvar, estudar, trabalhar e servir ao
semelhante.
Pedir a Deus que dirija nossos passos, ações,
pensamentos e palavras, cumprindo nossos próprios
deveres, por menores que sejam, com alegria e gratidão.
Nossos sofrimentos originam-se de erros por nós
cometidos: pensamentos, palavras e ações, desta e de
outras reencarnações, os provocaram.
Quem bebe, ou fuma, ou come demais, ou se irrita, ou se
vinga, ou alimenta ódio no coração, acaba com a saúde
física e mental. Há que se eliminar tais vícios, eis que
acentuam as dores atuais e originam outras no futuro,
nesta ou nas próximas voltas às reencarnações.
Evangelizarmo-nos, eliminar maus hábitos físicos e
mentais: vícios, falhas morais etc.; adquirir virtudes a
pouco e pouco. A Deus não se engana: a reforma íntima é
também bela forma de orar.
Se alguém vai às escuras, em noite chuvosa, em caminho
pedregoso e acende uma luz, ainda que pequena, as
dificuldades não desaparecem, mas pode evitar tropeços
(seja a presença de serpentes, buracos ou quaisquer
outros).
Realizar o estudo de Evangelho no lar semanalmente; em
todos os dias ler obras edificantes, ouvir boa música e
atentar para o uso que fazemos de nossa língua, evitando
palavrões, zombarias e piadas de mau gosto. A maioria
desconhece as consequências desses maus hábitos e os
adotam como algo normal.
Esse processo diário de autoeducação desenvolve em nós
confiança crescente em Deus, nosso Pai, e nos dá
equilíbrio vida afora.
***
Assim é a prece: luz para
quem está em provações. Se oramos, nossas dificuldades
não desaparecem, mas nossos sofrimentos são amenizados.
Com ela iluminamos nossos caminhos.
Com ela deixamos de acrescentar às dores atuais, já de
si tão intensas às vezes, carga de aflições
desnecessárias, quando as provações nos chegam.
Cultivar religiosidade em todos os momentos, não apenas
quando frequentamos este ou aquele templo.
O Evangelho é para a vida toda e para todos os momentos.
Nossas dores resultam quase sempre desse
desconhecimento: saímos dos templos e voltamos às
equivocadas práticas.
Confiar serenamente em Deus: ele quer o melhor para
todos nós e sabe as causas desses sofrimentos.
A prática do bem desinteressadamente contribui para
diminuir a intensidade dos sofrimentos atuais, eis que
“O amor cobre a multidão de pecados”. (I Pe 4:8.)
Referência:
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1ª. impr. Brasília:
FEB, 2013. Cap. 27, it. 22, p. 323/4.
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