O menos
que é
sempre
mais
André Luiz, no livro Recados da Vida, psicografia
de Chico Xavier, na página intitulada Querer e Poder,inicia
seus ensinamentos com a seguinte frase: “Quando você não
possua o que deseja, você pode valorizar aquilo que
tem”.
Ficamos meditando na verdade desse primeiro parágrafo.
Muitas vezes a pessoa tem um carro que não é novo, mas
que serve para atender às necessidades da família.
Entretanto, quando passa diante de uma agência e
contempla os atrativos dos veículos zero quilômetro,
fica a sonhar com o carro novo. Nessa atitude mental,
acaba não dando o devido valor ao meio de transporte que
possui, esquecendo-se de que muitos se locomovem a pé,
ou nas perigosas motos ou em bicicletas precárias
dirigindo-se ao trabalho ou para o local aonde precisam
chegar.
Dentro desse mesmo raciocínio de não valorizarmos o que
temos, podemos citar o exemplo daqueles que, ao passarem
diante de um restaurante requintado, ficam a imaginar as
iguarias exóticas que ali são servidas a preço elevado e
esquecem-se de agradecer o alimento simples, porém
limpo, que lhes abençoa a mesa enquanto muitos existem
que vasculham lixeiras em busca de algo para mitigar a
fome.
Outro exemplo também se nos apresentou ao raciocínio
quando nos lembramos das pessoas que se detêm diante de
uma vitrine de lojas famosas a contemplar a roupa da
moda e a sonhar com elas. Nessa atitude, numa espécie de
auto-hipnose em que a frustração pode estar presente,
meditam em como seria bom poder vestir-se mais de acordo
com o que dita a moda, esquecendo-se da roupa limpa que
lhe cobre a nudez enquanto tantos se arrastam pela
existência cobertos de trapos malcheirosos.
Mas a página de André Luiz, na medida em que caminhamos
na leitura, nos apresenta um outro aspecto ainda mais
importante quando ele afirma o seguinte: “Se não dispõe
de recursos para colaborar com o muito com que estimaria
brindar a essa ou aquela realização de beneficência,
oferte a migalha ao seu alcance”.
Infelizmente muitas pessoas ainda sob o domínio do
orgulho e da vaidade incidem nesse erro. Porque não
possuem dinheiro para construir um asilo e amparar a
velhice, esquecem-se de que podem muito bem visitar uma
pessoa idosa e doar a ela alguns minutos da sua atenção
para aquele que se despede da existência física
mergulhado no esquecimento da insensibilidade humana.
Outros, porque não possuem dinheiro para construir um
orfanato e amparar um grande número de órfãos, se
imobilizam diante de uma criança necessitada de alimento
ou agasalho e que poderia ser socorrida individualmente.
Outros ainda, porque não podem fornecer alimentação para
todos os carentes da sua cidade, tornam-se indiferentes
quando alguém pede no portão da sua casa por um prato de
comida.
E é novamente André Luiz quem nos apresenta a solução
para essas situações quando afirma que o essencial
não é o tamanho do bem que se queira e, sim, o tamanho
do amor que você coloque no bem que se decida a fazer.
Nosso exemplo maior é sempre a figura de Jesus que,
nascendo numa gruta e partindo da existência numa cruz
infamante, sempre se posicionou entre homens de má
índole, perdoou a prostitutas, curou a tantos enfermos
do corpo com apelo para cura moral de muitos, amparou
Pedro e Judas nos seus momentos de fraqueza humana,
conviveu com cobradores de impostos e com fariseus! Foi
Jesus, que nada possuindo materialmente falando, colocou
tamanha dose de amor no período em que se dignou estar
entre nós, que pediu ao Pai perdão para tremenda
ingratidão com que O tratamos!
Para que possamos transformar a nossa pequena atitude em
algo de grande importância àquele a quem nos dirigimos,
é necessário que o amor caminhe na frente daquilo que
possamos ofertar.
Para que o menos que possamos depositar na vida
seja sempre maispara aquele que necessita e
recebe, é indispensável que a dose de amor contida no
pequeno benefício, que podemos e devemos proporcionar
àquele que caminha conosco, extrapole as aparências do muitoque
o orgulho existente em cada ser humano possa estar a
exigir, esquecendo-se de que a mão esquerda não deve
saber o que a mão direita faz.