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por Ricardo Orestes Forni

 

O menos que é sempre mais


André Luiz, no livro Recados da Vida, psicografia de Chico Xavier, na página intitulada Querer e Poder,inicia seus ensinamentos com a seguinte frase: “Quando você não possua o que deseja, você pode valorizar aquilo que tem”.

Ficamos meditando na verdade desse primeiro parágrafo. Muitas vezes a pessoa tem um carro que não é novo, mas que serve para atender às necessidades da família. Entretanto, quando passa diante de uma agência e contempla os atrativos dos veículos zero quilômetro, fica a sonhar com o carro novo. Nessa atitude mental, acaba não dando o devido valor ao meio de transporte que possui, esquecendo-se de que muitos se locomovem a pé, ou nas perigosas motos ou em bicicletas precárias dirigindo-se ao trabalho ou para o local aonde precisam chegar.

Dentro desse mesmo raciocínio de não valorizarmos o que temos, podemos citar o exemplo daqueles que, ao passarem diante de um restaurante requintado, ficam a imaginar as iguarias exóticas que ali são servidas a preço elevado e esquecem-se de agradecer o alimento simples, porém limpo, que lhes abençoa a mesa enquanto muitos existem que vasculham lixeiras em busca de algo para mitigar a fome.

Outro exemplo também se nos apresentou ao raciocínio quando nos lembramos das pessoas que se detêm diante de uma vitrine de lojas famosas a contemplar a roupa da moda e a sonhar com elas. Nessa atitude, numa espécie de auto-hipnose em que a frustração pode estar presente, meditam em como seria bom poder vestir-se mais de acordo com o que dita a moda, esquecendo-se da roupa limpa que lhe cobre a nudez enquanto tantos se arrastam pela existência cobertos de trapos malcheirosos.

Mas a página de André Luiz, na medida em que caminhamos na leitura, nos apresenta um outro aspecto ainda mais importante quando ele afirma o seguinte: “Se não dispõe de recursos para colaborar com o muito com que estimaria brindar a essa ou aquela realização de beneficência, oferte a migalha ao seu alcance”.

Infelizmente muitas pessoas ainda sob o domínio do orgulho e da vaidade incidem nesse erro. Porque não possuem dinheiro para construir um asilo e amparar a velhice, esquecem-se de que podem muito bem visitar uma pessoa idosa e doar a ela alguns minutos da sua atenção para aquele que se despede da existência física mergulhado no esquecimento da insensibilidade humana.

Outros, porque não possuem dinheiro para construir um orfanato e amparar um grande número de órfãos, se imobilizam diante de uma criança necessitada de alimento ou agasalho e que poderia ser socorrida individualmente.

Outros ainda, porque não podem fornecer alimentação para todos os carentes da sua cidade, tornam-se indiferentes quando alguém pede no portão da sua casa por um prato de comida.

E é novamente André Luiz quem nos apresenta a solução para essas situações quando afirma que o essencial não é o tamanho do bem que se queira e, sim, o tamanho do amor que você coloque no bem que se decida a fazer.

Nosso exemplo maior é sempre a figura de Jesus que, nascendo numa gruta e partindo da existência numa cruz infamante, sempre se posicionou entre homens de má índole, perdoou a prostitutas, curou a tantos enfermos do corpo com apelo para cura moral de muitos, amparou Pedro e Judas nos seus momentos de fraqueza humana, conviveu com cobradores de impostos e com fariseus! Foi Jesus, que nada possuindo materialmente falando, colocou tamanha dose de amor no período em que se dignou estar entre nós, que pediu ao Pai perdão para tremenda ingratidão com que O tratamos!

Para que possamos transformar a nossa pequena atitude em algo de grande importância àquele a quem nos dirigimos, é necessário que o amor caminhe na frente daquilo que possamos ofertar.

Para que o menos que possamos depositar na vida seja sempre maispara aquele que necessita e recebe, é indispensável que a dose de amor contida no pequeno benefício, que podemos e devemos proporcionar àquele que caminha conosco, extrapole as aparências do muitoque o orgulho existente em cada ser humano possa estar a exigir, esquecendo-se de que  a mão esquerda não deve saber o que a mão direita faz.

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita