Artigos

por Temi Mary Faccio Simionato

 

Oração, filha do Amor


“Os outros rezavam a Deus. Ele rezava a Deus. Ia fazendo dele as Suas palavras
.” (Mia Couto)


“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias.”
(Atos,19:11). “Quem pode delimitar a extensão das bênçãos que dimanam da Altura? Ao orarmos identificamo-nos com a maior fonte de poder de todo o Universo, absorvendo-lhe as reservas e retratando as leis de renovação permanente que governam os fundamentos da vida. É o divino movimento do espelho de nossa alma no rumo da esfera Superior, para refletir-lhe a grandeza. Reportamo-nos aqui ao apelo vivo do Espírito às potências celestes, quer vestido na fórmula verbal, quer absolutamente sem ela, na silenciosa mensagem de vibração.” (Pensamento e Vida, lição 26.)

Os efeitos da oração são maravilhosos quando há fé, o que nos faz lembrar de Khalil Gibran em um pensamento: “Fé é um salto no escuro para os braços de Deus, quem não tem fé nem salta, nem abraça, mas fica no escuro”. Isso nos traz a certeza de que o supremo Senhor está em toda parte e fala-nos na intimidade de nossas almas, e é ali que devemos buscá-Lo, fazendo calar o som estridente dos interesses imediatistas, das preocupações do dia a dia para que possamos ouvi-Lo: é o filho a conversar com o Pai.

A oração, filha do amor, não é apenas súplica, mas comunhão entre o Criador e a criatura, constituindo o mais poderoso influxo magnético que conhecemos. Por isso, a necessidade da fé guardando no coração a luminosa certeza em Deus, fazendo-o repousar numa energia constante de realização Divina, alcançando a possibilidade de não mais dizer eu creio, mas afirmar: eu sei, com todos os valores da razão, tocados pela luz do sentimento. Traduzindo a segurança na assistência de Deus, exprimindo a confiança que sabe enfrentar todas as lutas com a luz Divina no coração; é a humildade redentora que edifica o íntimo do Espírito, a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor”.

Assim, para que possamos movimentar a fé no plano exterior, é imprescindível venhamos a possuí-la, ainda mesmo, na diminuta proporção de uma semente de mostarda que, em pleno crescimento, através da elevação pelo trabalho incessante, converte-se no Reino Divino, onde a alma passa a viver.

Deus semeou em nossos corações a justiça e a bondade para que possamos desenvolvê-las, isto porque Ele trabalha incessantemente em favor da sensibilização de nossa alma para os valores do bem. Por isso, a importância de cultivar a reflexão, reconhecendo nossas limitações, para que possamos superá-las.

Clamamos pela proteção de Deus, mas, não raro, admitimos que semelhante cobertura unicamente aparece nos dias de caminho claro e céu azul, no entanto, o amparo Divino nos envolve em todos os climas da existência. O apóstolo Mateus, no capítulo 6, versículo 7, afirma: “E orando, não useis de vãs repetições...”. O Mestre esclarece que devemos orar com plena consciência daquilo que falamos, para que a nossa oração não seja uma repetição emocional de uma fórmula decorada, ao contrário, que seja uma mensagem conscientemente elaborada dirigida ao Alto.

A fé que o Espiritismo preconiza não é uma fé contemplativa, capaz de levar a imobilidade para aquele que fica aguardando providências de Deus a seu favor, longe disso, é uma fé dinâmica, edificada vagarosa e conscientemente, à medida que evoluímos, conforme ensina Emmanuel, através da psicografia de Francisco Xavier, no livro Vinha de Luz, lição 40: “A árvore da fé viva não cresce no coração miraculosamente. A conquista da crença edificante não é serviço de menor esforço. A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns Espíritos privilegiados pelo favor Divino. Isso, contudo, é um equívoco de lamentáveis consequências (...) Ninguém pode, pois, em sã consciência, transferir, de modo integral, a vibração da fé ao Espírito alheio, porque isso é tarefa que compete a cada um”.

Temos aprendido com os amigos Espirituais que o cumprimento do dever assegura a paz da consciência, pois sentimos Deus em nós, através da serenidade adquirida e das alegrias íntimas que nada turva. E mesmo que a alma ainda esteja ligada aos impositivos da carne, ela sabe sofrer para elevar-se e encontrar essa paz. A oração é, certamente, um dos mais importantes instrumentos que o Pai coloca à nossa disposição para que essa conquista aconteça.

O apóstolo Paulo de Tarso insiste para que não desistamos de orar, seja para velar as nossas tarefas, seja para louvarmos a Deus, seja para nos alegrarmos frente aos combates pela vitória do bem ou para adorarmos o Pai misericordioso e justo. Orar é pensar, é aproximar-se, é comunicar-se com Ele, repetindo com Jesus: “Pai nosso que estais nos céus...”

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo 27, itens 11 a 16, Kardec destaca que seria ilógico concluir desta máxima “Seja o que for que peçais na prece, crede vos será concedido”, que basta pedir para obter, como seria injusto acusar a Providência de não atender a toda súplica que lhe é feita, uma vez que Ele sabe, melhor do que nós, o que é para o nosso bem. O que Deus concederá se pedirmos com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. Abraçando o trabalho e a prece como sendo a embarcação e a bússola do caminho, refletindo o conjunto das nossas atitudes ante a vida.

Podemos, assim, relembrar de Santo Agostinho, no livro Confissões, 1º livro, capítulos 1 e 2: “Fizeste-me, Senhor, para Ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”. É a nossa busca por Deus que a realidade humana não preenche, não supre, pois nosso coração aponta para o infinito, para o encontro de Deus em nós, em um trabalho individual e intransferível onde somente o coração enobrecido no grande entendimento pode distribuir as bênçãos santificantes.

Ele, ainda, continua aclarando: “Deus está no homem e este em Deus (...) Eu nada seria, meu Deus, nada seria em absoluto se não estivesses em mim, talvez seria melhor dizer que eu não existiria de modo algum se não estivesse em Ti (...) Assim, poderemos ter a certeza de que, se devemos esperar por Deus, onde nos encontramos, Deus igualmente espera por nós em todos os ângulos do caminho, porque Nele nos movemos e existimos, orando em perfeita comunhão com a Sua bondade, amando-O com toda a alma, com todo o coração e com todo o entendimento.

Concluímos com a doce Meimei, através do médium Francisco C. Xavier, no livro Pai Nosso, lição 40: “Senhor, ensina-nos a oferecer-te o coração puro e o pensamento elevado na oração. Ajuda-nos a pedir, em Teu nome, para que a força de nossos desejos não perturbe a execução dos Teus desígnios. Ampara-nos, a fim de que o nosso sentimento se harmonize com a Tua vontade e que possamos, a cada dia, ser instrumentos vivos e operosos da paz e do amor, do aperfeiçoamento e da alegria, de acordo com a Tua Lei”.

Tenhamos a plena convicção de que mediante a fé, a oração, as obras no bem e a pureza de coração, conseguidas aos poucos, por meio de nossos esforços e de nossa transformação moral, poderemos dizer, um dia, como o bíblico Jó o fez, no capítulo 42, versículo 5, ao Senhor: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem”.


Bibliografia
:

XAVIER, C. Francisco – Os Mensageiros – ditado pelo Espírito Emmanuel – 47ª edição – Brasília/DF/ Editora FEB – 2017 – página 136.

XAVIER, C. Francisco – O Consolador – ditado pelo Espírito Emmanuel – 29ª edição – Brasília/DF/ Editora FEB – 2013 – questão 354.

KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo - 365ª edição – Araras/SP/ Editora IDE -2009 – capítulo 17, item 7.

KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos -182ª edição – Araras/SP/ Editora IDE – 2009 – questões 658 e 659.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita