Saúde preventiva
Uso excessivo de remédios:
suicídio inconsciente?
Ana Cláudia acordou indisposta, com o nariz
congestionado e com dores de cabeça, logo no dia em que
completa 18 anos. Não se trata de crise aguda, como uma
gripe. Há tempos esse quadro vem se repetindo e toda a
família já opina sobre ele. A mãe afirma que o culpado é
o celular, usado em demasia. A avó não concorda. Diz que
Ana “entrou para o clube da enxaqueca”, mal que tortura
as três últimas gerações da família. O pai, mais
reservado, prefere debitar o desconforto ao excesso de
estudos da filha, de mãos dadas a uma provável TPM. Na
dúvida, Ana tem feito uso de fluoxetina pra atenuar a
ansiedade. Também ingere Tonopan, para atacar a possível
enxaqueca, além de um descongestionante nasal, seu velho
companheiro. Como no último mês o estômago também vem
acenando, uma amiga lhe recomendou um inibidor
da bomba de prótons (Omeprazol 20mg), em
jejum, pela manhã. Aos 18 anos de idade, Ana Cláudia já
não consegue passar uma semana sem visitar uma drogaria.
A experiência da jovem repete-se, à exaustão, nos lares
brasileiros. Estamos presenciando um terrível cenário de
farmacodependência coletiva que cresce em progressão
geométrica. Na aparência, tudo parece ter início no
próprio paciente. Acossadas por um desconforto físico ou
psíquico e sedentas por soluções instantâneas, as
pessoas se automedicam (aconselhadas pelo Dr. Google)
ou procuram os centros médicos com o propósito de obter
a receita mágica, uma espécie de salvo-conduto que as
habilite a se refugiar na drogaria mais próxima. O
desejo pelo consumo desenfreado e irracional de
medicamentos recebe a resposta imediata do mercado.
Centenas de novas farmácias e drogarias são inauguradas
todos os dias. São terminais lucrativos de uma indústria
que não para de crescer, não se contenta com ganhos
módicos e faz publicidade maciça de seus produtos, sem
revelar os males que provocam. Os espaços por onde
circula o cliente trazem produtos ao alcance das mãos,
como se fossem alimentos. O pessoal do setor de vendas
tem metas a cumprir. O profissional da saúde, com raras
exceções, sai da escola treinado para prescrever
remédios e desconsiderar o resto. Na sua rotina, muitos
serão visitados e premiados pelos grandes laboratórios,
com quem atuarão como verdadeiros parceiros. No
ambulatório, rapidez é sinal de eficiência. O doente,
por sua vez, não tem formação ou informação suficiente
para avaliar que está apenas atacando os efeitos de sua
possível doença (ou nem isso), sem combater-lhe a causa.
Fará uso ritualístico do fármaco, pródigo em produzir
efeitos colaterais. E ao eclodir o próximo mal-estar, o
ciclo irá se repetir, talvez pelas mãos de outros
médicos e com novas drogas. Alguns pacientes irão
progredir para quadros mais complicados, em variáveis
que podem derivar para as internações, diálises,
intervenções cirúrgicas e óbitos.
Quem, afinal, é o verdadeiro vilão dessa história? É o
consumidor de remédios que faz girar a ciranda
milionária da indústria farmacêutica ou é esse modelo de
negócios que leva a população a consumir sem pensar?
Sem pretender identificar culpados (o que nos obrigaria
mergulhar as narinas em terrenos pantanosos de
insuportável odor), o uso da razão nos impele a começar
pela revisão da atitude pessoal, tal qual nos ensina a
doutrina espírita. O homem de bem deve passar em
revista todas as suas atitudes, sem deixar de fora
aquelas que tangem o próprio corpo e a própria saúde. Os
abusos da medicação constituem a nova modalidade de
suicídio inconsciente, em expansão. Uma onda de dor e
sofrimento avança, volumosa, impulsionada por nosso
comodismo e pela nossa invigilância farmacológica. Os
produtos alopáticos nos cativam pelo fácil acesso e
praticidade. Podem espantar dores em minutos, como se
detivessem um poder mágico aprisionado numa cápsula.
Todavia, ocultam os males que transportam. Certos
analgésicos, como os opioides (derivados da papoula,
muito populares), por exemplo, explicam 48 mil mortes
nos EUA, só em 2017, segundo o CDC (Centro de Controle e
Prevenção de Doenças Americano).
É hora de rever comportamentos e conhecer alternativas
eficientes de prevenção de doenças e de recuperação da
saúde. Antes de remediar os efeitos, pergunte-se sobre
as causas dos males que lhe afligem. Faça uma análise
cuidadosa da real necessidade dos remédios que você
compra e consome. Indague-se sobre a possibilidade de
conseguir os mesmos resultados por meios naturais e,
principalmente, por uma mudança de vida!
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