Concurso de samba
Foi num concurso de samba.
O nosso amigo Ribeiro,
Entre os demais concorrentes,
Estava sendo o primeiro.
Moças e moços de fama,
Após ligeira merenda,
Afastavam-se da festa
Largando-se da contenda.
Ribeiro continuava
E, escorado na moringa,
De hora em hora, reclamava
Um grande copo de pinga.
A equipe dos musicistas,
Composta de gente amiga,
Doava substitutos
A quem mostrasse fadiga.
Ribeiro continuava
Tomando conta da praça,
Dançando e gesticulando,
Alimentado à cachaça.
Decorridas vinte horas,
Num grito desabalado,
Ribeiro caiu no chão…
Estava desencarnado.
Um médico trazido a exame,
Discreto, falou à parte,
Explicando a conhecidos,
Quanto à suspeita de enfarte.
O morto, de nosso lado,
Olhando o corpo no chão,
Clamava: “Jesus me valha.
Mártir São Sebastião.”
Depois, conheceu conosco
Um colega, seu amigo…
Chorando, exclamou: “Manoel,
O samba acabou comigo!…”
Manoel, que lhe fora par
No Roçado do Vai Vem,
Falou a ele: “Ribeiro,
Samba não fere a ninguém…
Quem te roubou vida e força,
Não foi samba, nem foi ginga.
Dança e música são nossas,
Quem te matou foi a pinga.”
Do livro Agência de Notícias, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.