Perante
Jesus
No livro Palavras de Vida Eterna, lição 12,
psicografado por Francisco Cândido Xavier, o benfeitor
espiritual, Emmanuel, reporta-se à última ceia que Jesus
fez com seus discípulos, durante a qual avisa que
alguém, entre eles, o trairia. A história de Judas nos
incomoda tanto, a ponto de rapidamente condená-lo,
incriminando-o, senão por gestos e atos de violência,
comuns nas festividades de Páscoa, ao menos em
pensamentos. Mas por que esse fato nos incomoda?
A psicologia moderna o explica e uma pequena história
poderá ilustrar isso, buscando, através dela, responder
à nossa questão: Uma mulher vai ao seu terapeuta, que a
atende semanalmente, e entra queixando-se das agressões
verbais recebidas do marido, censurando-a por ser
péssima mãe e péssima esposa. Dizia ela sentir-se muito
agredida e humilhada porque sabia ser ótima mãe e esposa
devotada. O médico a ouve atentamente e, quando encerra
as reclamações, ele diz:
- Eu
não me importaria com isso, mas, sim, com a mancha que
você tem no rosto.
- Eu
não tenho mancha no rosto - retrucou ela.
- Tem,
sim, eu estou vendo - afirma o médico.
- Não,
eu não tenho - contesta a paciente convicta.
A conversa continua com os queixumes dela. Depois de
algum tempo ele pergunta à mulher:
- Por
que você não se incomodou com a minha afirmação de que
tinha uma mancha no rosto?
- Porque
sei que não tenho - responde ela.
- Eis
aí, diz o médico, a resposta que precisava para suas
lamentações. Se as agressões do seu marido lhe fazem
tanto mal e a incomodam muito, é porque você própria não
tem certeza de ser boa mãe e boa esposa. A agressão
atingiu-a porque refletiu sua própria realidade
interior.
Certamente, é isso que acontece conosco quando julgamos
e condenamos o discípulo leviano e os nossos
semelhantes.
Emmanuel traz, nesta mensagem, a essência do ensinamento
evangélico do “não julgar para não serdes julgados” por
nós mesmos, e a advertência tem razão de ser na medida
em que nos conclama à prática do Evangelho, como forma
de proteção contra nós próprios, nos permitindo sair
desse círculo de sofrimentos em que nos colocamos, pela
nossa ignorância das coisas divinas.
O conhecimento e a prática dos ensinamentos do Mestre
nos fazem, lentamente, perceber que somos todos
discípulos Dele, e não mestres, aprendendo vigilância
dos próprios atos, para não fracassarmos mais, e
discípulos em testemunho, a fim de aprendermos a
exemplificar, compreendendo, agindo e perdoando, como
Jesus sempre fez.
Estamos caminhando, ainda, com bastante dificuldade,
mas, através da escola bendita da reencarnação, vamos
combatendo a vaidade e o orgulho; vamos sendo menos
exigentes nos prazeres egoístas, pois já percebemos as
necessidades do outro; já conseguimos ter alguma
consciência da necessidade de cuidar também da vida
espiritual e não ir somente à caça dos bens materiais.
Jesus sabe das nossas limitações e não desconhece nossas
fragilidades, e por isso nos conclama, através do Seu
Amor, refletido em todos os seus ensinamentos, a
desenvolver a humildade para que, não apenas Ele, mas
nós próprios também reconheçamos nossos limites.
Este é, sem sombra de dúvida, o primeiro passo para
conseguirmos superar essas limitações e iniciarmos a
construção do edifício íntimo do Reino de Deus em nossos
corações. Dia virá em que, revestidos de poder e força,
não mais julgaremos nossos semelhantes, pois teremos
compreendido que quanto mais força moral e poder
tivermos, mais nos compadeceremos das fragilidades
humanas e mais estenderemos as nossas mãos amorosas para
socorrer, elevar e amparar, exatamente como Jesus faz
conosco hoje.