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por Leda Maria Flaborea

 

Perante Jesus


No livro Palavras de Vida Eterna, lição 12, psicografado por Francisco Cândido Xavier, o benfeitor espiritual, Emmanuel, reporta-se à última ceia que Jesus fez com seus discípulos, durante a qual avisa que alguém, entre eles, o trairia. A história de Judas nos incomoda tanto, a ponto de rapidamente condená-lo, incriminando-o, senão por gestos e atos de violência, comuns nas festividades de Páscoa, ao menos em pensamentos. Mas por que esse fato nos incomoda?

A psicologia moderna o explica e uma pequena história poderá ilustrar isso, buscando, através dela, responder à nossa questão: Uma mulher vai ao seu terapeuta, que a atende semanalmente, e entra queixando-se das agressões verbais recebidas do marido, censurando-a por ser péssima mãe e péssima esposa. Dizia ela sentir-se muito agredida e humilhada porque sabia ser ótima mãe e esposa devotada. O médico a ouve atentamente e, quando encerra as reclamações, ele diz:

- Eu não me importaria com isso, mas, sim, com a mancha que você tem no rosto.

- Eu não tenho mancha no rosto - retrucou ela.

- Tem, sim, eu estou vendo - afirma o médico.

- Não, eu não tenho - contesta a paciente convicta.

A conversa continua com os queixumes dela. Depois de algum tempo ele pergunta à mulher:

- Por que você não se incomodou com a minha afirmação de que tinha uma mancha no rosto?

- Porque sei que não tenho - responde ela.

- Eis aí, diz o médico, a resposta que precisava para suas lamentações. Se as agressões do seu marido lhe fazem tanto mal e a incomodam muito, é porque você própria não tem certeza de ser boa mãe e boa esposa. A agressão atingiu-a porque refletiu sua própria realidade interior.

Certamente, é isso que acontece conosco quando julgamos e condenamos o discípulo leviano e os nossos semelhantes.

Emmanuel traz, nesta mensagem, a essência do ensinamento evangélico do “não julgar para não serdes julgados” por nós mesmos, e a advertência tem razão de ser na medida em que nos conclama à prática do Evangelho, como forma de proteção contra nós próprios, nos permitindo sair desse círculo de sofrimentos em que nos colocamos, pela nossa ignorância das coisas divinas.

O conhecimento e a prática dos ensinamentos do Mestre nos fazem, lentamente, perceber que somos todos discípulos Dele, e não mestres, aprendendo vigilância dos próprios atos, para não fracassarmos mais, e discípulos em testemunho, a fim de aprendermos a exemplificar, compreendendo, agindo e perdoando, como Jesus sempre fez.

Estamos caminhando, ainda, com bastante dificuldade, mas, através da escola bendita da reencarnação, vamos combatendo a vaidade e o orgulho; vamos sendo menos exigentes nos prazeres egoístas, pois já percebemos as necessidades do outro; já conseguimos ter alguma consciência da necessidade de cuidar também da vida espiritual e não ir somente à caça dos bens materiais.

Jesus sabe das nossas limitações e não desconhece nossas fragilidades, e por isso nos conclama, através do Seu Amor, refletido em todos os seus ensinamentos, a desenvolver a humildade para que, não apenas Ele, mas nós próprios também reconheçamos nossos limites.

Este é, sem sombra de dúvida, o primeiro passo para conseguirmos superar essas limitações e iniciarmos a construção do edifício íntimo do Reino de Deus em nossos corações. Dia virá em que, revestidos de poder e força, não mais julgaremos nossos semelhantes, pois teremos compreendido que quanto mais força moral e poder tivermos, mais nos compadeceremos das fragilidades humanas e mais estenderemos as nossas mãos amorosas para socorrer, elevar e amparar, exatamente como Jesus faz conosco hoje.

 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita