Comunicação por aparelhos
Vivemos um tempo em que se quer falar, mas não se quer
ouvir. Alguns falam compulsivamente e, estando com
alguém, parecem estar sozinhos. Não apenas estes, mas
praticamente nós todos estamos com uma premente
necessidade de expor o que pensamos e sentimos, pois
achamos que os outros precisam saber. É como se a
ansiedade moderna estivesse nos cobrando alguma coisa.
Com o advento da Internet e das mídias sociais, o
instrumento da fala deixou de ser a boca e passou a ser
um teclado, fixo ou móvel. E as pessoas passaram a se
comunicar basicamente por aparelhos, o que tem encurtado
muito as distâncias, às vezes tão curtas.
Isso é ruim, pois deteriora a convivência, afastando-nos
uns dos outros. Tudo esfria, nos acomodamos com o
distanciamento, e vão diminuindo entre nós as
oportunidades de se aprender com a experiência das
relações presenciais. Não percebemos a solidão chegar
devagarinho.
Uma pessoa junto a um teclado se desinibe. Fala (digo,
escreve) o que talvez não ousasse exprimir diante de um
interlocutor. Sente-se investida de um poder qualquer
que quase a obriga, nas redes sociais, por exemplo, a
emitir a sua opinião sobre tudo e todo assunto, mesmo
não conhecendo nada sobre tantas coisas. Passa grande
parte do dia, cabeça baixa, olhos numa tela. Não
controla a vontade de dizer (digo, mostrar) onde esteve,
está, aonde vai, guardando a certeza de que ninguém irá
duvidar da felicidade estampada “naquele sorriso”. Ela
não percebe que essa prestação de conta pública pode
esconder um sentimento caprichoso de vaidade.
Mas sejamos justos, nesses tempos acelerados, fazer
visitas, puxar a cadeira para conversar, contar ou ouvir
um segredo ao pé do ouvido fica bem difícil. Há tanta
coisa para “ver”, que o dia é curto. Sabe? Eu acho que,
bem compreendido, esse comportamento quase generalizado
não é assim tão censurável. Ele faz parte do processo um
tanto infantil que demonstramos diante das grandes
novidades, ainda mais as novidades tecnológicas que nos
fazem sentir empoderamento assim que as dominamos.
Esse fascínio pelas tecnologias frias, assim como a
volúpia juvenil de ser o primeiro a reagir e o último a
falar, desaparecerá. Esse desperdício de energias, essa
postura alienante, o descuido com o espaço, que a
verdade e a justiça precisam ter, irão se transformar na
proporção em que formos descobrindo os reais valores e
finalidades da vida em família e em sociedade.
Sou daqueles que acreditam que Deus não nos fez para dar
errado. Há uma lei universal que impulsiona tudo e todos
ao progresso. Mesmo sem que muitos percebam, nós,
Espíritos, passamos da infância para a juventude, daí
avançamos para a maturidade, ansiando a tudo quanto Deus
nos permita alcançar para o nosso bem.
Então as frivolidades, as mesquinharias a que hoje damos
tanta importância, não significarão mais nada.
Ah! meu Deus, o progresso tecnológico é muito bem-vindo,
mas acaba trazendo junto algumas dificuldades novas,
dando tratos à bola!*
*Dar tratos à bola: 1 – Empenhar-se,
esforçar-se intelectualmente para obter determinado
resultado; 2 – Resolver problema. (Dicionário informal:
Dicionário Online.)
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