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por Altamirando Carneiro

 
A escola da vida


Seu Natal foi um aluno esforçado. Sua vontade de aprender era tanta, que estava matriculado na classe de terça-feira, às 9 horas, do Curso de Alfabetização da Federação Espírita do Estado de São Paulo (ano 2000), mas não se contentava com tão pouco – segundo ele mesmo dizia. Por isso, frequentava também as aulas da classe de domingo, às 15 horas, e planejava frequentar as aulas da classe de quinta-feira, às 15 horas.

Sua especialidade era tirar a prova real das operações, com firmeza absoluta. Recusava-se terminantemente, se a conta estava certa pela prova dos nove, e dizia em alto e bom som que a prova dos nove não era confiável. Estufava o peito e proclamava-se “perito absoluto em tirar a prova real”.

Resolução de problemas, ele “tirava de letra”. Geralmente, enquanto a maioria dos alunos fazia as operações, ele já apresentava a solução. Acostumado desde menino a comprar e a vender, informava-nos que sempre foi “bamba” em negociar, e que mexer com dinheiro, passar troco, era com ele mesmo.

Extrovertido, alegre e brincalhão, constituía-se numa singularíssima figura, estimada por todos. Quando não contávamos com a sua presença, os alunos perguntavam, inquietos: “E o Seu Natal? Cadê o Seu Natal?”

Certa vez, precisava mudar-se de Guarulhos para São Paulo, onde conseguira uma vaga, num abrigo. E me procurou, pois queria um carro para transportar os seus pertences. Informado de que eu não possuía carro, ele não acreditou: “Mas como? Um professor da Federação não tem carro?”

Bem diz o velho ditado: “Mais vale ter amigos na praça, do que dinheiro na Caixa”. Graças às minhas amizades, foi possível fazer a mudança do Seu Natal, nada além de algumas roupas, livros, fotografias de família, o que foi possível acomodar no automóvel – um velho fusca – de um colega.

Quando eu soube que Seu Natal havia desencarnado (ano 2000) de ataque cardíaco, fiquei sentido pela perda material do aluno e amigo, mas consciente do retorno à espiritualidade de uma alma boa que, se por diversas razões não teve a oportunidade de frequentar escolas, diplomou-se, com todas as letras na maior de todas elas: a escola da vida. 


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita