O filme Kardec e seus desafios
O filme “Kardec” desde meados de maio tem sido exibido
em cinemas do país.
Trata-se de película produzida por Eliana Soárez,
dirigida por Wagner de Assis, que também atuou como um
dos roteiristas, e se fundamenta no livro Kardec,
de autoria de Marcel Souto Maior (Editora Record, 1ª
edição em 2013)1. Em páginas preliminares, o
autor já dedicava a obra: “A Canuto Abreu, pioneiro na
pesquisa e na divulgação da obra de Kardec no Brasil; a
Wagner de Assis, aliado fundamental neste projeto, que
enfrenta o desafio de transformar esta história em
filme...”
Wagner de Assis enfrentou o desafio e seis anos após o
lançamento do livro de Souto Maior, disponibiliza um
filme considerado pela crítica em geral como
tecnicamente muito bem elaborado. É a oportunidade de
se levar ao público em geral as informações sobre Kardec
e suas lutas nos momentos iniciais de seu trabalho como
Codificador. Tivemos muitos contatos com Wagner em
momentos da filmagem do lançamento de “Nosso Lar”;
depois em encontros no movimento espírita e assinatura
do contrato para a filmagem de “Os Mensageiros”, quando
estávamos na presidência da FEB.
O enredo do filme não atinge todo o conteúdo do livro de
Souto Maior e isso nem seria possível. Avança-se até o
lançamento de O livro dos médiuns e o Auto de Fé
de Barcelona. Aliás, o livro de Souto Maior, num estilo
jornalístico, focaliza toda a trajetória do Codificador
e comenta detalhes interessantes sobre traições ao
Codificador e algumas deturpações doutrinárias que ele
comenta em Revista Espírita.
Para espíritas atentos, surgem algumas dúvidas sobre até
que ponto foram “licenças poéticas”, ou melhor,
“dramáticas” ou “cinematográficas”, algumas cenas que
não condizem com o texto do livro de Souto Maior, e que
não são conhecidas, como: alguns contatos de Kardec com
prelados católicos; a prisão, como foi encenada; as
manifestações defronte à casa da família Baudin; uma
impactante cena de suicídio, e, as cenas dos
“perseguidores” acompanhando Kardec. A questão de
conceito de Espiritismo como filosofia ou religião,
tratada no livro, e focalizada no filme, talvez
merecesse uma análise na linha do tempo das obras do
Codificador, até as reflexões contidas na Revista
Espírita, do mês de dezembro de 1868.
Na atualidade, muitas das tradicionais biografias de
Kardec, ficam na faixa de superficiais ou muito
focalizadas em determinados aspectos. Com a
disponibilização de documentos e obras digitalizadas nas
Bibliotecas e órgãos públicos franceses têm surgido
muitas informações e registros significativos dos tempos
de ação do Codificador e dos momentos seguintes à sua
desencarnação.
Assim, face a eventuais dúvidas que o filme possa gerar,
nada melhor do que se aprofundar em pesquisas sobre a
vida e obra de Allan Kardec, a começar pelo exame das
edições da Revista Espírita do período em que foi
dirigida pelo Codificador. Muita atenção em torno dos
documentos que agora estão vindo à tona e, sem dúvida,
com o arsenal de manuscritos e cartas que estavam em
poder da família de Canuto Abreu. Estes recentemente
foram passados para a Fundação Espírita André Luiz, de
São Paulo, que já desenvolve o Projeto “Cartas de
Kardec” e deverá divulgar muitos fatos documentais sobre
a vida e obra do Codificador.
Durante a exibição do filme foi lançado o livro Kardec.
A história por trás do filme2, onde
Wagner de Assis e Marcel Souto Maior fazem
significativos depoimentos sobre o projeto e a execução
do filme e apresentam suas visões sobre o Codificador.
Wagner relata vários momentos da filmagem, mas não
comenta as cenas que anotamos acima e que geram algumas
dúvidas no meio espírita.
O filme “Kardec” deve provocar nos espíritas o desafio
de se estudar mais o Codificador!
Referências:
1) Souto
Maior, Marcel. Kardec. 1.ed. Rio de Janeiro:
Record. 2013. 363p.
2) Assis,
Wagner; Souto Maior, Marcel. Kardec. A
história por trás do filme. 1.ed. Rio de Janeiro:
Record. 2019. 138p.
Antonio Cesar Perri de Carvalho, ex-presidente da USE-SP
e da FEB, foi membro da Comissão Executiva do CEI -
Conselho Espírita Internacional.
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