Joias da poesia
contemporânea

Espírito: Cornélio Pires

 

Obsessão no Além


Deseja você saber,

Meu caro Amarílio Sá,

O que há na obsessão

Vista do lado de cá.

 

Posso informar a você

Que estes casos tais quais são,

Seja na Terra ou no Além,

São assuntos de paixão.

 

O ódio é amor selvagem,

No que exige e não alcança,

Afeto quando egoísta

Insatisfeito é vingança.

 

Orgulho é amor a si mesmo,

De maneira desastrada.

Ciúme — amor possessivo

Que fere a pessoa amada.

 

Vaidade — amor ao poder,

Na indiferença ante o bem,

Opinião que domina

E não atende a ninguém.

 

Desencarnando na Terra

Estamos por dentro a sós,

Por isto, a morte revela

O que trazemos em nós.

 

Espírito libertado

Sem dúvida e sem talvez,

De imediato no Além,

Está naquilo que fez.

 

Em razão disto, meu caro,

Céu ou luz, algema ou lama,

Desencarnando, a pessoa

Tem aquilo que mais ama.

 

Há quem se agarre com gente,

Com sítios, nomes, partidos,

Empresas, casas, remorsos

E sombras de tempos idos.

 

São muitos os casos tristes

Nessa larga desventura,

Porque a lei manda se ache

Aquilo que se procura.

 

Você recorda João Nico:

Envenenou Maristela;

Morreu mas vive na roça,

Chorando na casa dela.

 

Perfurado por Toninho,

Finou-se Joaquim da Torra,

Mas Joaquim desesperado

Vive atolado em desforra.

 

Caçava como ninguém

Nosso amigo Merengueiro.

Largando o corpo na Terra,

Anda atrás do perdigueiro.

 

Nicósio viveu colado

A grande barril de pinga.

Morreu e bebe sem pausa,

E grita, blasfema e xinga.

 

Sempre agarrada a conforto,

Faleceu Joaquina Fraza,

Mas vive atrelada à cama

E espanta o povo da casa.

 

Escravizado à fazenda,

Quintino de Maritacas,

Sem corpo, vive no campo,

Cuidando de bois e vacas.

 

Presa às tarefas de granja,

Desencarnou Mariquinhas…

De tanto gostar de frangos

Vive assombrando as galinhas.

 

Ligado às antiguidades,

Lá se foi Marcos Dirceu.

Hoje encontrei-o na sombra:

É um fantasma de museu.

 

Obsessão, meu amigo,

Traçada em linhas gerais,

É sempre desequilíbrio

No apego quando é demais.

 

No assunto, lembre Jesus

Na luminosa lição:

— “Onde se guarda um tesouro,

Tem-se aí o coração”.

 
 

Do livro Conversa firme, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita