No deserto do silêncio
“E ele lhes disse: vinde vós aqui, à parte, a um lugar
deserto, e repousai um pouco.” (Marcos, 6:31.)
No livro Caminho, Verdade e Vida, psicografado
por Francisco Cândido Xavier, lição 168, o estimado
benfeitor Emmanuel adverte: “Nossa mente sofre sede
de paz, como a terra tem necessidade de água fria. Vem a
um lugar à parte, no país de ti mesmo, a fim de repousar
um pouco. Esquece as fronteiras sociais, os controles
domésticos, as incompreensões dos parentes, os assuntos
difíceis, os problemas inquietantes, as ideias
inferiores. Concentra-te, por alguns minutos, em
companhia do Cristo, no barco dos teus pensamentos mais
puros, sobre o mar das preocupações cotidianas... Basta
que te cales e Sua voz falará no sublime silêncio”.
Com este convite ele nos conclama à calma para a
reflexão: estamos cansados de fazer e desfazer caminhos?
As perturbações dos ambientes que frequentamos nos
angustiam? Sentimentos contraditórios que passeiam entre
a luz e a sombra atormentam nossos corações? Tudo isso é
natural se levarmos em conta o momento evolutivo pelo
qual todos nós, habitantes deste mundo de provas e
expiações, estamos passando. Em verdade, testemunhamos
dolorosas recapitulações por escolhas infelizes mal
conduzidas, em passado longínquo, ou nem tanto, sendo
muitas delas na atual experiência terrena, que nos
trazem tantas aflições.
Todavia, ante a lição, é preciso buscar o entendimento
sobre ela através da meditação. Se temos sofrimentos em
nossa existência, também temos luzes e é preciso
reconhecê-las pelo coração. O apóstolo Paulo de Tarso,
na II Carta a Timóteo, capítulo 2, versículo7, diz que é
preciso examinar, refletir sobre o que ele, Paulo, diz,
porque o Senhor nos dará entendimento em tudo, se
prestarmos atenção aos ensinamentos de Vida Eterna que
Ele nos envia, porque, em retribuição à nossa real
vontade de melhora pessoal, tudo entenderemos.
“Vinde vós aqui, à parte, a algum lugar deserto, e
repousai um pouco”,
asseverou o Mestre a todos os discípulos do Evangelho,
de todas as épocas. E cabe a cada um de nós,
individualmente, aprender o caminho para esse lugar onde
Jesus nos espera para o repouso devido ante as lutas
diárias.
Entretanto, se necessitamos encontrar o caminho para
esse refúgio, da mesma forma precisamos saber que “lugar
à parte é esse”. Sem dúvida, como todos os ensinos
evangélicos, esse também vem como símbolo precioso,
representando nosso coração, santuário íntimo, sempre
sequioso de amor e luz. Em momento algum se referiu
Jesus aos desertos do mundo ou a lugares comuns na
Natureza, que favoreçam a meditação. Ele vai além, muito
além. Refere-se ao lugar silencioso dentro de nós
mesmos, onde ouviremos Sua voz doce e amorosa para o
reconforto do nosso Espírito.
O convite para buscarmos esse lugar em nós é cada vez
mais oportuno nos dias que se seguem. Em todos os cantos
da Terra, sejam nas ruas, estradas, transportes
coletivos, existe uma multidão de seres que vão e vêm
angustiados, temerosos pelos interesses imediatistas,
sem tempo e sem vontade para a recepção do alimento
espiritual. Quantas pessoas atravessam a existência
terrena famintas pelas posses materiais, pelas aventuras
emocionais, voltando sempre desiludidas ou entediadas?
Nunca houve tantos templos de pedra para as
manifestações de religiosidade cujos dirigentes, muitas
vezes, só se preocupam com a manifestação externa, com
os ritos que atraem tantas criaturas ingênuas que, na
busca de soluções imediatistas para seus problemas,
deixam-se enredar pelas vilanices desses exploradores da
fé que deveriam levar o reconforto, o consolo e o
esclarecimento a elas.
O mundo moderno facilita a vida de todos nós com o
progresso que proporciona, porém, é verdade, também, que
nunca se viu tanto sofrimento, tanta desesperança,
discórdias, medos, guerras...
Os ensinamentos de Jesus não se fixam no mundo externo
e, sobre isso, Emmanuel afirma judiciosamente no livro Fonte
Viva, lição 147, o seguinte: “Como acontecia nos
tempos da permanência de Jesus no apostolado, a maioria
dos homens permanece no vaivém dos caminhos, entre a
procura desorientada e o achado falso, entre a mocidade
leviana e a velhice desiludida, entre a saúde
menosprezada e a moléstia sem proveito, entre a
encarnação perdida e a desencarnação em desespero”.
(...) “Refugia-te no templo à parte, dentro de tua alma,
porque somente aí encontrarás as verdadeiras noções da
paz e da justiça, do amor e da felicidade reais, a que o
Senhor te destinou”.
Todo discípulo do Evangelho precisa de coragem e de real
vontade para realizar os serviços de redenção em si
mesmo. Esse caminho é repleto de espinhos e a preparação
para essa caminhada vai requerer algumas renúncias e
alguns sacrifícios, e, por isso mesmo, a disciplina, o
estudo, o esforço e o próprio trabalho serão importantes
ferramentas para o sucesso da empreitada.
Essa carga, na maioria das vezes, assusta, e muitos
desistem antes mesmo de começarem. Por isso, muitos são
os escolhidos e poucos os que se apresentam. É um
trabalho diário para que aprendamos a nos renovar no
espírito do Mestre, compreender Seus ensinamentos e o
nosso semelhante. Para que isso aconteça, mister se faz
que o silêncio íntimo aconteça, na mente e nos lábios, a
fim de ouvirmos as sugestões de amor que emanam do Alto,
nos retemperando com as energias da misericórdia e da
bondade.
A nossa escolha em querer encontrar o caminho desse
lugar à parte, em nós, é absolutamente solitária, porque
o quando e o como Jesus entrará em nossas vidas será,
sempre, tarefa de cada um.
Bibliografia:
XAVIER, F. C. Vinha de Luz. Ditado
pelo Espírito Emmanuel – 31ª edição, FEB, Brasília/DF –
lição 4 – 2005.
Idem. Pão Nosso. Ditado pelo
Espírito Emmanuel – 17ª, FEB, Brasília/DF – lição 34 -
1996.
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