Vou
cair!!!
Imagine você que está num barco, na corrente forte de um
rio, em direção a uma grande queda de água.
Uma imagem um pouco assustadora que nos leva a perceber
facilmente como as nossas hipóteses de sobrevivência são
complicadas.
Todos nós nos encontramos nesta posição mais vezes do
que podemos imaginar: uma imagem criada para muitas das
situações que ocorrem no desenrolar da existência
terrena.
Troquemos o rio pela vida, a corrente pelos problemas, o
barco pelo Ego, a pessoa pela nossa consciência - o
nosso ser mais puro que, embora não seja o espírito, é
influenciado diretamente e moralmente por este - e a
cascata é fácil de perceber que é a nossa queda diante
do problema.
O rio é a vida e todo o seu fluxo é o que vamos nos
deparando de bom e de mau, onde vamos pescando e nos
alimentando, por vezes mais atarefados, outras com um
leito mais calmo onde podemos aproveitar e descansar,
mas nunca parado. Este fluxo mistura-se com o
crescimento do ser tornando-se num só, é de um movimento
bidirecional, sendo influenciado por nós, pelos nossos
atos, mas também nos influenciando e ajudando a crescer.
O barco que vai dentro do rio, influenciado e
movimentado diretamente por este e pelas suas correntes,
é o Ego.
O que é o Ego? O Ego é aquele ser que nasceu na Terra,
tem toda a influência do seu crescimento, do seu
aprendizado, da sua família, da sua escola, profissão
etc…; é onde se faz toda a movimentação terrena,
incluindo a da tentação que Jesus nos alerta em “Vigiai
e Orai para que não entreis em tentação”. Uns afirmam
que é o corpo mental, outros que é o cérebro; a
Psicologia o chama de Ego.
A pessoa que vai no barco é a consciência profunda,
porque todos nós que estamos reencarnados temos em nós o
“ser” em sua essência, que normalmente se revela em
forma de consciência. Quando paramos e nos permitimos,
dá-se um fluxo de movimento saudável e restaurador entre
esta nossa essência e o ser que construímos na Terra.
Conforme vamos permitindo o desenvolvimento deste fluxo
e aumentando-o através da sabedoria, do
autoconhecimento, o Ego vai se reestruturando e
harmonizando, e, como “consequência”, o aumento do
fluxo, a compreensão, e o desenvolvimento das virtudes
latentes em todos nós, como filhos de Deus, não fosse o
“Reino de Deus“ existente dentro de nós. As “virtudes”
alicerçadas no Ego, construídas pelo conhecimento das
palavras, são temporárias e fúteis, aumentando o
autovalor quando cavalga em direção ao Orgulho e, por
isso, há os doutores da Lei que continuam a viver entre
nós cheios de uma “sabedoria” que só eles conseguem ver,
por não alcançarem um pouco mais que suas palavras,
vivendo com ações miseráveis.
Quanto ao fluxo do rio que é problema quando aumenta e
nos deixa embaralhados, sendo mais difícil raciocinar
quanto maior nos parecer a tribulação.
E quanto maior a agitação, mais o barco se abana e mais
difícil é controlá-lo; o barqueiro vai deixando de o ter
sob controle, perdendo a capacidade de raciocínio ou de
ver claramente a situação.
Parece-me que esta imagem é comum na vida, ocorrendo
repetidamente ao longo dos dias, principalmente nas
alturas mais tenebrosas da vida.
O que vai acontecendo com o barco ao longo da vida?
Esta é a parte mais interessante. Embora muitas das
vezes tudo nos pareça escuro, na verdade, o que tanto
nos assusta é a completa destruição - apenas uma imagem
ilusória, como a do Papão. O pior que nos pode acontecer
é a desencarnação, e aí se dará a libertação do
barqueiro e a hora da revisão da viagem. É claro que
nenhum de nós quer “abandonar” a família, a vida terrena
e o que nos prende aqui, mas a boa noticia é que, em
cada vida terrena, isso só acontece uma vez.
Então, colocando de lado a total destruição, que será
uma raridade, sobra, na pior das hipóteses, umas
mazelas. Assim, por que ficamos tão maltratados?
Nós não ficamos maltratados pelas quedas que damos, mas
pelo sofrimento que nos infligimos. É como a criança que
vai tomar uma vacina: chora 30 minutos antes, com medo
de sofrer, não percebendo que este é o próprio
sofrimento. Entra em pânico, tem que ser segurada pelos
pais e tudo termina em segundos. No final, fala consigo
mesma: “afinal, doeu pouco”, “na próxima vou ser mais
forte”. E o que acontece na próxima vez?
Por falta de atenção, só nos apercebemos dos problemas
quando sentimos a água a puxar-nos; nossa cabeça começa
a trabalhar incessantemente, e, tal como o barco que não
para de mexer, tentamos fazer de tudo para virá-lo,
entramos em pânico, batemos nas rochas, maltratamos o
casco, sofremos antecipadamente como a criança da
vacina, até que chegamos à queda. Aí já não se vê
solução, sentamo-nos no barco e oramos. O barco cai e
continua seu caminho, dia após dia, anos após anos.
Podemos perceber isto facilmente quando nos viramos para
trás e vemos o caminho percorrido - o nosso passado -,
compreendendo que não poderíamos ter tido uma outra
forma de passar pela tribulação, sendo que muitas delas
foram criadas ou aumentadas por nós.
O maior problema deste barco é que nós o carregamos com
orgulho, egoísmo, raiva, ódio, e vamos ficando sem
espaço para o barqueiro; tantas vezes quase que o
anulamos. Só não o fazemos porque não nos é permitido,
uma vez que faz parte de um ser eterno. Às vezes
sentimos que nos chamam a atenção e, à semelhança dos
bons conselhos que não queremos ouvir, simplesmente
desaparecem, não se impondo nem em tom, nem com
insistência. Esta surdez traz-nos complicações no
presente, estamos constantemente envolvidos em problemas
psicológicos criados por nós e, no futuro, surgem as
consequências mais graves, onde se inclui a reparação
daquilo que estragamos, seja nas relações familiares ou
de amizade, seja em nós próprios. Na altura do
desencarne passaremos a viagem em revista e eu acredito
que a maior frustração será ao percebermos que fomos
vencidos por nós mesmos, pelas nossas más tendências, e
que poderíamos ter feito algo diferente, sem um grande
esforço.
Como podemos tornar a nossa viagem mais agradável?
Jesus pediu-nos para amarmos uns aos outros e ter Fé, e
é fácil perceber que o Amor e a Fé são os medicamentos
indicados para não sofrermos tanto agora, nem nos
frustrarmos no futuro.
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