Joias da poesia
contemporânea

Espírito: Leandro Gomes de Barros

 

Confissão de cantador


Sou convidado a dizer

Com toda a satisfação

Da paz que o povo encontrava

Na alegria do sertão.

 

Olhando a Terra de hoje

Com tanto aviso de lei,

Não sei se o mundo mudou

Ou se foi eu que mudei.

 

Conversa da noite antiga

Era encharcada de lua,

Mas hoje o tempo da noite

É a buzinança de rua.

 

A gente via na estrada

Céu bonito e flor de cheiro,

Agora, é gente apressada

Na procura do dinheiro.

 

Menino quando nascia

Vinha em bacia enfeitada,

Agora, é barriga aberta

E a criança numerada.

 

Uma cabocla passante,

Se alguém atrevia a olhar,

Via a morena vestida

Da cabeça ao calcanhar.

 

Hoje em dia, moça fina,

Sem diferença de hora,

Anda sem medo na rua,

Mostrando as pernas de fora.

 

Há dias, olhando o mar

De um monte de samambaia,

Perguntei qual era a tribo

Que estava em banho na praia.

 

Quis ver o quadro das ondas

Na dança de “traz e leva”,

Mas fiquei de pensamento

No tempo de Adão e Eva.

 

Vi tanto gajo nadando

E tanta moça faceira

Que ali se a serpente andasse

Era simples brincadeira.

 

Quando vi a tentação

Na cabeça como eu pus,

Rezei o “credo” três vezes

E fiz o sinal da cruz.

 

Renovei o pensamento,

Levei meus olhos ao céu,

Depois, voltei para o campo,

Rezando no mataréu.

 

Mesa de vida moderna

É papo de gente rica,

Pouca gente sabe o gosto

Da pamonha e da canjica.

 

Das frutas de minha terra,

Quantas delas conhecia!…

Ata, acari, jenipapo,

Axixá e melancia.

 

Manga doce vinha aos montes

Descendo de muro e rampa;

Hoje é fruta embalsamada

Em muita lata de tampa.

 

O santo quando saía

Em procissão benfazeja,

Todo o povo ajoelhava

Dizendo: “bendito seja”!…

 

Quem fala hoje na fé

A fim de salvar ateus

Já sabe que em qualquer praça

É pouca gente com Deus.

 

Negocião de hoje em dia,

Mostrando riqueza aberta,

É conversa clandestina,

Com ladroagem na certa.

 

Cantador tem seu limite,

Falar muito não me cabe,

Se a Terra ainda tem conserto

Só Deus, no Céu, é que sabe.

 

Do livro Assembleia de Luz, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita