Ressonância progressiva da aprendizagem
Os seres humanos deveriam ser capazes de aprender mais
facilmente o que outros já aprenderam? Aplicada a certos
animais – ratos, pelo menos – esta indagação poderia ter
uma resposta afirmativa. Estudos bem fundamentados
mostraram que se ratos aprendem um novo truque em algum
lugar, então ratos do mundo todo deverão ser capazes de
aprender o mesmo truque mais rapidamente. Uma das mais
longas séries de experimentos realizados na história da
psicologia revelou evidências de que os ratos realmente
parecem aprender mais rápido aquilo que outros ratos já
aprenderam.
Quanto mais ratos aprendiam a escapar de um labirinto de
água, mais fácil ficava para outros ratos fazerem o
mesmo. Esses experimentos, realizados primeiramente na
Harvard University e depois nas universidades de
Edimburgo e Melbourne, mostraram que ratos escoceses e
australianos começaram mais ou menos de onde os ratos de
Harvard haviam terminado, e seus descendentes aprenderam
ainda mais rápido. Alguns se saíram bem da primeira vez,
sem necessidade de aprendizagem alguma.
Tal fenômeno poderia ser encontrado em seres humanos?
Rupert Sheldrake, biólogo e bioquímico inglês, acredita
que sim. Em seu livro Ciência sem dogmas, ele
levanta essa possibilidade e lança mão dela para
explicar o denominado Efeito Flynn, a evidência
de que o QI (coeficiente de inteligência) vem aumentando
através das décadas.
James Flynn, filósofo norte-americano, examinou a
evolução do QI durante grande parte do século XX, em 30
países do mundo. Estudos mostram um aumento do QI de
três pontos a cada dez anos. Calculou-se que um cidadão
de inteligência mediana no ano de 1920 se hoje fizesse
um teste comum de QI teria na faixa de 70 pontos, quando
a média é 100. 70 pontos no QI colocam-no no limite do
retardo mental. Flynn acredita que respondemos melhor
que nossos ancestrais às mesmas perguntas. Alguns
fatores têm sido relacionados ao Efeito Flynn: um
ambiente crescentemente tecnológico, uma vida muito rica
em símbolos e a popularização da ciência, levando o
raciocínio abstrato dos centros acadêmicos de pesquisa
para as ruas. As pessoas tornaram-se mais habituadas à
abstração mental e ao raciocínio lógico.
Sheldrake, no entanto, levanta a possibilidade de que as
pontuações dos testes se elevaram não porque as pessoas
estão ficando mais inteligentes, mas porque está ficando
mais fácil fazer os testes, na medida em que outras
fizeram antes. A explicação de Sheldrake se baseia na
ideia de que cada um de nós cria em torno de sua
individualidade um campo vibratório, que se irmana aos
campos vibratórios de todos os seres da mesma espécie,
construindo um imenso campo magnético
espécie/específica, onde permutamos ideias, impressões,
comportamentos e habilidades.
Tal pensamento parece ter sido apresentado por Kardec,
já em sua época. Em dois textos produzidos pelo
codificador, em que estuda a fotografia e telegrafia do
pensamento. Apresentados em Obras póstumas, nosso
codificador, antecipando-se à proposta de Sheldrake,
colocou que existem relações ocultas que ligam, de
maneira inconsciente, os pensamentos dos homens.
Denominou esse fenômeno de telegrafia espiritual.
Através desse processo, comenta Kardec, o homem exerce
ação direta sobre as coisas, assim como sobre as pessoas
que o cercam e se pode atuar sobre o espírito dos
homens, à revelia deles. Um pensamento superior,
fortemente pensado, pode, conforme a sua força e a sua
elevação, tocar de perto ou de longe homens que não
fazem a mínima ideia da maneira por que ele lhes chega,
da mesma maneira que aquele que o emite não faz ideia do
efeito produzido pela sua emissão.
Acrescenta Kardec que aí se encontra um jogo constante
das inteligências humanas e da ação recíproca de umas
sobre as outras: Juntai-lhe a ação das inteligências
dos desencarnados e imaginai o poder incalculável dessa
força composta de tantas forças reunidas.
E ainda Kardec:
Se se pudesse suspeitar do imenso mecanismo que o
pensamento aciona e dos efeitos que ele produz de um
indivíduo a outro, de um grupo de seres a outro grupo e,
afinal, da ação universal dos pensamentos das criaturas
umas sobre as outras, o homem ficaria assombrado.
E conclui:
Não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuoso, ou
de outro gênero, que não tenha ação real sobre o
conjunto dos pensamentos humanos e sobre cada um deles.
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