As duas escolas
Na minha infância o acesso às escolas se fazia apenas a
partir dos sete anos de idade. Não havia, como nos
tempos atuais, essa escolaridade para idades menores.
Eu morava numa casa muito pequena de apenas um quarto,
sala, cozinha e banheiro, que ficava do lado de fora.
Contudo, havia um quintal enorme, maravilhoso, repleto
de árvores frutíferas. Ali existia pé de caju amarelo e
vermelho. Três tipos de goiaba: branca, amarela e
vermelha. Muitas outras árvores frutíferas, tais como
figo, laranja, mamão e um grande e delicioso pé de
jabuticaba Sabará de frutos doces como o mel e que
produzia praticamente o ano todo, sendo esses frutos
distribuídos com grande prazer para a vizinhança
inteira. Isso tudo graças à boa mão de meu pai na lida
com o seu quintal. Era tão caprichoso que canalizou
artesanalmente a água que saía do velho tanque de lavar
roupas para o pé de jabuticaba, proporcionando a fartura
de produção a que me referi.
Diante desse paraíso, ir para escola e se ver privado
dessa beleza toda para quê? Aprender somar, dividir,
multiplicar e subtrair o quê? Ler e escrever? Mas não
bastava falar na hora da necessidade para pedir pelo
alimento, pela água, pelo cobertor e tudo o mais que
fosse necessário? E, depois, ficar dentro de uma sala de
aulas com tarefa e provas que me privavam do meu paraíso
que era aquele quintal? Compensaria o sacrifício?
Devido a essa ingenuidade toda é que os sonhos habitam
as mentes infantis!
Fiz essa pequena introdução para lembrar que muitos
Espíritos reencarnados, quando voltam à escola da Terra
por uma concessão da misericórdia divina, querem fazer
do planeta o paraíso perdido pelo folclórico casal Adão
e Eva. Sim, desejam da escola terráquea os prazeres que
são muitos para os pouco esclarecidos. Comer do bom e do
melhor. A bebida importada. As viagens de turismo para
conhecer todas as partes do mundo com suas belezas e
surpresas, morar bem, vestir-se com esmero, ter uma
profissão com excelente remuneração, esposa ou marido
exemplares, filhos que não proporcionem preocupações, e
vai por aí afora de acordo com a concepção de cada um.
Doutor José Carlos de Lucca em seu livro Na Luz da
Vitória faz algumas colocações importantíssimas para
esses “maus alunos” do orbe terrestre.
“O planeta Terra é nossa escola de desenvolvimento
espiritual, e em toda escola existem lições que
precisamos assimilar e testes de verificação do nosso
aprendizado. Quem foge da escola não aproveita os
benefícios de progresso e melhoria que o estudo
assimilado proporciona ao aluno aplicado.”
E segue o autor mais adiante: “A vida é uma sala de aula
e os obstáculos são os professores do nosso
aprimoramento.
Invariavelmente, cada problema traz em si uma mensagem
de renovação! A doença traz em si a lição da valorização
da saúde. A decepção é a mestra que nos ensina a
discernir o certo do errado. O parente difícil é o
professor rígido, que nos ensina antigas lições de amor
e paciência que, até o momento, não fomos capazes de
assimilar com eficiência. Os obstáculos sucessivos nos
induzem ao aprendizado da perseverança, sem a qual
nenhuma vitória se estabelece”.
Como podemos ver, tanto a escola da Terra com os
professores daqui, como a Escola da Vida com os mais
variados professores com os quais nos deparamos de
acordo com as nossas necessidades, são indispensáveis à
evolução para a qual estamos destinados pelo Criador
desde o instante indetectável quando fomos criados para
a imortalidade.
Por mais bonito que seja o seu “quintal” deste mundo,
como era o meu na minha infância, a melhor decisão será
sempre a de frequentar as “aulas” que essa abençoada
escola está preparada para nos oferecer.
Se na escola da sua vida existem momentos que lembram um
pé de limão galego, com certeza a Providência Divina
permite também que alguns pés de jabuticaba Sabará
existam para suavizar o nosso “paladar”!
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