Artigos

por Ricardo Orestes Forni

 

As duas escolas


Na minha infância o acesso às escolas se fazia apenas a partir dos sete anos de idade. Não havia, como nos tempos atuais, essa escolaridade para idades menores.

Eu morava numa casa muito pequena de apenas um quarto, sala, cozinha e banheiro, que ficava do lado de fora. Contudo, havia um quintal enorme, maravilhoso, repleto de árvores frutíferas. Ali existia pé de caju amarelo e vermelho. Três tipos de goiaba: branca, amarela e vermelha. Muitas outras árvores frutíferas, tais como figo, laranja, mamão e um grande e delicioso pé de jabuticaba Sabará de frutos doces como o mel e que produzia praticamente o ano todo, sendo esses frutos distribuídos com grande prazer para a vizinhança inteira. Isso tudo graças à boa mão de meu pai na lida com o seu quintal. Era tão caprichoso que canalizou artesanalmente a água que saía do velho tanque de lavar roupas para o pé de jabuticaba, proporcionando a fartura de produção a que me referi.

Diante desse paraíso, ir para escola e se ver privado dessa beleza toda para quê? Aprender somar, dividir, multiplicar e subtrair o quê? Ler e escrever? Mas não bastava falar na hora da necessidade para pedir pelo alimento, pela água, pelo cobertor e tudo o mais que fosse necessário? E, depois, ficar dentro de uma sala de aulas com tarefa e provas que me privavam do meu paraíso que era aquele quintal? Compensaria o sacrifício?

Devido a essa ingenuidade toda é que os sonhos habitam as mentes infantis!

Fiz essa pequena introdução para lembrar que muitos Espíritos reencarnados, quando voltam à escola da Terra por uma concessão da misericórdia divina, querem fazer do planeta o paraíso perdido pelo folclórico casal Adão e Eva. Sim, desejam da escola terráquea os prazeres que são muitos para os pouco esclarecidos. Comer do bom e do melhor. A bebida importada. As viagens de turismo para conhecer todas as partes do mundo com suas belezas e surpresas, morar bem, vestir-se com esmero, ter uma profissão com excelente remuneração, esposa ou marido exemplares, filhos que não proporcionem preocupações, e vai por aí afora de acordo com a concepção de cada um.

Doutor José Carlos de Lucca em seu livro Na Luz da Vitória faz algumas colocações importantíssimas para esses “maus alunos” do orbe terrestre.

“O planeta Terra é nossa escola de desenvolvimento espiritual, e em toda escola existem lições que precisamos assimilar e testes de verificação do nosso aprendizado. Quem foge da escola não aproveita os benefícios de progresso e melhoria que o estudo assimilado proporciona ao aluno aplicado.”

E segue o autor mais adiante: “A vida é uma sala de aula e os obstáculos são os professores do nosso aprimoramento.

Invariavelmente, cada problema traz em si uma mensagem de renovação! A doença traz em si a lição da valorização da saúde. A decepção é a mestra que nos ensina a discernir o certo do errado. O parente difícil é o professor rígido, que nos ensina antigas lições de amor e paciência que, até o momento, não fomos capazes de assimilar com eficiência. Os obstáculos sucessivos nos induzem ao aprendizado da perseverança, sem a qual nenhuma vitória se estabelece”.

Como podemos ver, tanto a escola da Terra com os professores daqui, como a Escola da Vida com os mais variados professores com os quais nos deparamos de acordo com as nossas necessidades, são indispensáveis à evolução para a qual estamos destinados pelo Criador desde o instante indetectável quando fomos criados para a imortalidade.

Por mais bonito que seja o seu “quintal” deste mundo, como era o meu na minha infância, a melhor decisão será sempre a de frequentar as “aulas” que essa abençoada escola está preparada para nos oferecer.

Se na escola da sua vida existem momentos que lembram um pé de limão galego, com certeza a Providência Divina permite também que alguns pés de jabuticaba Sabará existam para suavizar o nosso “paladar”!


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita