Funesta e destrutiva é a palavra na boca
do mexeriqueiro
Será que o veneno da língua [maledicência (1)]
aproxima as pessoas fuxiqueiras? Pesquisadores das
universidades de Oklahoma e do Texas (EUA) afiançam que
“amizades” mais duráveis partilham julgamentos negativos
(intrigas) sobre coisas e pessoas em comum, por isso
depreciam os outros ao redor. Há grupos de “amigos” que
tendem acolher as mesmas coisas e as mesmas pessoas
fofoqueiras e rejeitar as pessoas miradas pelo grupo. Se
alguém conhece um conluiado que faz restrições idênticas
(afinidade moral) sobre o comportamento de outrem, as
chances de se “gostarem” são grandes.
Quando se fala mal de algo ou de alguém para um cúmplice
e este concorda com o que é dito, ambos se sentem
“melhores” e “avigorados”, pois ambos legitimam aquele
sentimento ruim, e faz com que “percebam” mais força, e
ganhem uma imensa “autoconfiança” para o mal. O filósofo
Platão admoestou: “Calarei os maldizentes continuando a
viver bem; eis o melhor uso que podemos fazer da
maledicência” (2).
O “diz que diz” é um componente incrustado e inflexível
nas aglomerações sociais e nos ambientes profissionais.
Quando um boato é maliciosamente produzido, apresenta em
si cargas de perversidade, ausência de alteridade, falta
de indulgência, vingança, “olho gordo”, “dor de
cotovelo”. Uma vez impregnado, mais cedo ou mais tarde,
atingirá os ouvidos dos figurantes abrangidos,
provocando irreparáveis consequências que podem tanger a
tolas rupturas de velhas afeições e até a demissão por
justa causa, destruição de casamentos e de lares,
aparecimento de rancores ferrenhos, por vezes chegando a
culminar em assassinato ou suicídio de pessoas
emocionalmente frágeis.
Funesta e destrutiva é a palavra na boca de quem alista
falhas do próximo; tóxico perigoso é a demonstração
condenatória a escoar nos beiços de quem fuxica; barro
podre, exalando enxofre, é a oscilação desafinada das
cordas vocais de quem recrimina; braseiro tenebroso,
escondendo a verdade, é a intriga destrutiva. "Ai do
mundo por causa dos escândalos, porque é necessário que
venham os escândalos, mas, ai daquele homem por quem
venham os escândalos.”. (3)
A maledicência é plantio improfícuo em solo apodrentado.
Não há amparo se, por ensejo de ajuda, se ostentam as
feridas de outrem à indiferença de quem ouve. Paulo de
Tarso advertiu: “a sua garganta é um sepulcro aberto;
com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de
áspides está debaixo de seus lábios” (4).
Lutemos contra a maldição da fofoca supostamente
inofensiva, mas que arrasa todos os confins por onde se
propaga. As "palavras mal-intencionadas", maledicentes
têm, quase sempre, adicionadas à sua substância, uma
dose peculiar de condimento, de estilo estritamente
particular, cujo "cozinheiro-mor" é o próprio
responsável pelo seu repasse adiante.
Quem se afirme espírita não pode esquecer que os
críticos do comportamento alheio acabam, quase sempre,
praticando as mesmas ações recriminadas. Deploramos o
clima de comprovada invigilância admitida pelas
aventuras do entusiasmo desapiedado dos caluniadores,
com suas mentes doentias, sempre às voltas com a emissão
ardente do fuxico generalizado. Confrades que ficam
“felizes” ante as dificuldades e eventuais deslizes do
próximo. Assestam a volúpia da fofoca, com acusações
infames sobre fatos que ignoram, sempre em direção às
aflições e lutas íntimas de pessoas que tentam se erguer
de algum desacerto na caminhada.
Não é ficção! Há seres infaustos que se locupletam no
mexerico exultante de verem alguém sofrendo uma prova
mais difícil. Outros se valem do cansativo clichê "vamos
orar por eles!", para aguçar as substâncias de suas
falsidades. Esquece-se de que o falatório induz à
fascinação, secundando o desequilíbrio.
Aos fuxiqueiros contumazes e rabugentos críticos dos
erros de conduta do próximo recomendamos uma reflexão de
que na viagem de mil quilômetros, como dizia Chico
Xavier, não nos podemos considerar vitoriosos senão
depois de chegarmos à meta almejada, porque nos dez
últimos metros a ponte que nos liga ao ponto de
segurança pode estar caída e não atingiremos o local
para onde nos dirigimos.
Enfim, a palavra constrói ou destrói facilmente e, em
segundos, estabelece, por vezes, resultados gravíssimos
para séculos. Por essa razão, “o algodão do silêncio é
um dos melhores recursos para asfixiar a maledicência e
fazer calar acusações indébitas”. (5)
Referências bibliográficas:
(1) O termo maledicência significa
fuxico, mexerico, mordacidade; é o ato ou aptidão para
falar mal dos outros, cuja intenção é denegrir, difamar.
(2) Platão, disponível em https://bit.ly/2LG0ue2,
acessado em 6/5/2013.
(3) Mateus 18:7.
(4) Rom. 3:13.
(5) Franco, Divaldo Pereira. Lampadário
Espírita, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis,
Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1974.
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