Diante do sofrimento
Jesus desceu sem pressa os degraus da casa de Pedro
enquanto nova manhã começava a espalhar seus primeiros
raios de luz entre as casas vizinhas.
Olhando mansamente um grupo de sofredores que clama por
suas bênçãos, Ele não tem dúvidas, estão ali em busca de
uma profecia, de um milagre.
É suave seu olhar, sua firmeza e a confiança no que pode
fazer em nome do seu Deus.
Sua simples presença parece dominar a todos irradiando
paz. Por onde passa, hipnotiza os que chegam mais
perto.
Ele nunca demonstrou cansaço ou impaciência. E suas
primeiras palavras afetam a todos com a sensação de
forças renovadas inexplicáveis: "A Paz seja convosco".
Ele caminha na direção de cada sofredor estendendo suas
mãos e ordenando benevolente:
“Ergue-te e anda. Abre os olhos e vê a Luz do Criador.
Tem Fé, pois a perturbação que domina tua mente vai
clarear ainda hoje. Aguarda um pouco mais que os
Espíritos imundos, presos à ignorância, irão se
afastar. Ora comigo, pediremos ao nosso Pai que limpe
suas feridas. Tem paciência, a febre cederá em pouco
tempo. Nem tudo está perdido. Aos olhares de Deus tudo
se resolve ao seu tempo. Abandona a ilusão do dinheiro
porque seu peso te impede caminhar ao Céu. Aprende a
dividir com quem tem menos posses que tu tens. Esses
pequeninos que nos buscam o colo têm o coração puro que
precisa de muita proteção. Não sejas orgulhoso diante
dos mais fracos, só os mansos possuirão a Terra. Para
vir a ter comigo é preciso abandonar o Mundo."
As horas passam, e a tarde inicia seu colorido
avermelhado no poente.
Pedro afasta Jesus daquele povo necessitado para lhe dar
o direito do descanso merecido.
À noite, recostados nos bancos rígidos da sala, Jesus
fala com Pedro:
“Não exijas soluções imediatas para ninguém.
Esse mesmo povo que acaba de receber as dádivas
abençoadas de Deus, ainda terá de percorrer a estrada
amarga da dor que a pouco e pouco irá conduzi-lo à total
redenção de suas necessidades.
Os paralíticos curados, hoje, ainda usarão as pernas
para fugir de compromissos sociais.
Os cegos que agora veem, permanecerão julgando o erro
que enxergam nos outros.
O peito limpo das feridas curadas, hoje, estará amanhã
na mesma promiscuidade dos meretrícios onde adoeceram.
Os loucos e os epiléticos, que agora estão em paz,
amanhã voltarão a mandar e destruir famílias inocentes.
Os endinheirados, atormentados pela consciência, amanhã
voltarão a disputar a posse material que prometeram
abandonar.”
Lição de casa: Vamos aceitar o tempo de cada um.
A jornada é longa e cada qual andará com sua própria
sandália para atingir a redenção.
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