Múltiplos
olhares
Algumas pessoas têm
visão cerebral. Outras
veem com o coração.
Ainda outras sabem dosar
a visão de um jeito que
enxergam com o cérebro e
o coração ao mesmo
tempo. Creio que essa
forma conjunta de ver é
a ideal, pois, em muitas
situações na vida,
enxergar se mistura com
sentir.
Parece complicado isso,
porque ver não é o mesmo
que enxergar, e muito
menos sentir. Que
mecanismo curioso é esse
que faz umas pessoas
apenas ver, enquanto
outras enxergam com
sentimento?
Como as nossas decisões
e atitudes dependem
desse mecanismo, ou
seja, da maneira como
conhecemos ou entendemos
as coisas, os fatos, os
seres, enfim, do modo
como olhamos a vida e o
mundo, acho que essa
reflexão parece ser
pertinente.
Vou ser mais claro dando
exemplos através de
algumas cenas.
1 - Os olhos enlameados
de sangue e pó de um
touro arrojado ao chão
de uma arena. O pouco
que ainda resta da sua
visão, voltada para a
câmera fotográfica, roga
piedade. Sobre suas
costas há fincadas
várias lanças
mortíferas. O público
aplaude de pé.
2 - O oportunismo
profissional de um
fotógrafo flagra, dentro
também de uma arena, o
dorso curvado e partido
de um bezerro
recém-derrubado pelo
peão vencedor de
rodeios. A galera
possivelmente delira.
3 - Uma cena chocante:
em avenida movimentada
de uma grande cidade, um
condutor abre a porta do
seu carro e lança fora
um cãozinho –
provavelmente
considerado inútil – que
se desespera. Os
motoristas desviam seus
veículos.
4 - Ainda numa arena
(por que sempre ela?),
dois homens se batem com
fúria, cercados por
câmeras de TV que cobrem
a peleja esportiva. Uma
plateia torce aos
gritos. O piso manchado
de sangue, os rostos
vermelhos, deformados
pela violência dos
golpes e a exaustão das
forças, determinam o fim
da luta. Apesar de
tudo, parece ter havido
entre eles um
vitorioso!!!
5 - Uma história
inesquecível, narrada
por Jesus: um homem
desce de Jerusalém para
Jericó, a estrada é
longa e perigosa.
Assaltantes tomam-lhe os
pertences e o deixam
semimorto. Dois
religiosos passam pelo
caminho, olhando, e não
se importam. Um terceiro
passante, samaritano
herético, se aproxima e
enxerga as feridas
expostas, e sente
compaixão. Por amor ao
próximo, socorre o
infeliz.
Há uma infinidade de
outras ações cotidianas
que expressam a forma de
olhar das criaturas,
traduzindo superioridade
ou inferioridade. Vamos
ficar apenas com as
citadas.
Quem são, na verdade,
esses protagonistas? O
que há por trás das suas
escolhas? Com o que se
interessam, e por quê?
De que se servem para
viver? O que os faz
acatar ou descartar,
acolher ou rejeitar, ser
dóceis ou indiferentes,
pacíficos ou agressivos?
Estudando a “Escala
espírita” em “O Livro
dos Espíritos”, colhemos
com Allan Kardec alguns
subsídios que podem
lançar luz sobre essas
questões, ou até mesmo
resolvê-las. Os
Espíritos não são todos
iguais, pertencendo a
diferentes ordens,
conforme o grau de
perfeição a que
chegaram. O número
dessas ordens é
ilimitado em função
mesmo da variação de
progresso entre eles.
Para efeito de estudo,
os Espíritos Superiores
organizaram tudo em três
grupos, levando em conta
as características
gerais dos Espíritos: os
Espíritos puros, que
atingiram a perfeição;
os que chegaram ao meio
da escala, em que o
desejo do bem é a sua
preocupação; e os
Espíritos imperfeitos,
que se caracterizam pela
ignorância, o desejo do
mal e todas as más
paixões que lhes
retardam o
desenvolvimento.
Todas essas referências
dizem respeito aos que
habitam o mundo
espiritual e também aos
que estão encarnados,
pois são parte da mesma
humanidade, ora lá, ora
cá.
Já que as ideias, a
linguagem, o
comportamento e as ações
dos indivíduos revelam
suas condições íntimas,
a “Escala Espírita” bem
estudada possibilita
identificar “o grau de
confiança e estima que
eles merecem” de nossa
parte em todo e qualquer
cometimento.
A humanidade se
desenvolveu em muitos
aspectos ao longo do
tempo, e dá mostras de
ter suavizado hábitos e
costumes. Porém, restam
ainda em seu espírito
cicatrizes e feridas que
ainda sangram, de um
passado violento e
odioso, e que precisam
ser curadas. Os homens
ainda não isolaram
completamente de si os
vírus da barbárie e da
ignorância, responsáveis
pela sua dor, sofrimento
e loucura.
Há muita gente lutando
surdamente contra a
própria escuridão
interior, e as lições
psicológicas sobre a
natureza humana,
colhidas nas doutrinas
espiritualistas de todos
os tempos e lugares,
pedem compreensão e
tolerância para com
todos os que ainda não
acharam um caminho.
Nossa atuação no mundo
está vinculada ao grau
da nossa maturidade
espiritual. Isso precisa
ser meditado e
compreendido.
Os Espíritos afirmam que
todos progridem
gradualmente e que
ninguém permanecerá para
sempre na mesma faixa de
experiências. Isso é
natural e parece ser bem
coerente.
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