Por quem os sinos dobram
Recente pesquisa do Instituto de Pesquisas Datafolha demonstrou
que parcela expressiva da população brasileira é
contrária ao porte e à posse de armas. Antes de se
refletir sobre os resultados dessa investigação, é
importante apresentar o método da pesquisa.
Foram realizadas 2.086 entrevistas em todo o Brasil,
distribuídas em 130 municípios. A margem de erro máxima
para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para
mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
A pesquisa de cunho quantitativa e questionário
estruturado durou cerca de 25 minutos. Ocorreu nos dias
04 e 05 de julho do ano corrente, em universo etário
igual ou superior a 16 anos.
Cumpre considerar também que posse de arma é o direito
que se tem de tê-la na residência. E o porte é o direito
em transitar com o objeto na via pública, em qualquer
lugar.
A despeito do lobby em favor do armamento promovido pelo
atual mandatário da nação e seu partido político, o
estudo demonstrou que 70% da população é contrária ao
porte de armas. Enquanto que 28% é favorável; 1%
indiferente e 2% não souberam responder.
Quando se faz um recorte com relação ao gênero, a
rejeição é ainda maior entre as mulheres, 78% contrárias
e 20% favoráveis. Isso decorre de vários motivos/fatores
quais sejam a maternidade, visto que nenhuma mãe deseja
que seu(sua) filho(a) detenha arma de fogo e/ou seja
vítima da violência; na questão da autodefesa, há um
sentimento inerente ao gênero feminino de menor
violência se comparada ao homem. Logo, o discurso de se
ter armas para se defender da agressão do marido
abusivo, por exemplo, parece não ter sido bem aceita. E,
por fim, a própria natureza da mulher não é de
violência; é da sua ontologia o consenso, a paz, a busca
pelo diálogo.
Quando se avaliam certos extratos, como pobres, negros e
indígenas, a rejeição é acachapante! Apesar de serem
vilipendiados a todo momento por um sistema político,
econômico e social perversos, e sofrerem muitas
injustiças, esses grupos são refratários à ideia de
porte e posse de arma para autodefesa ou dos seus.
Este processo de conscientização da população
brasileira, apesar de todo o lobby governamental
(inclusive com gestos com a mão), me remeteu ao poema de
John Donne, poeta inglês, chamado “Por quem os sinos
dobram”.
Em última instância, ter uma arma eleva a incidência de
ocorrências com armas de fogo. Creio que não seja
difícil de se perceber isso. Elevando-se a incidência, a
letalidade será maior, ou as sequelas, em quem for
alvejado pelos artefatos. Tudo isso é contrário ao
pensamento cristão. É contrário ao mandamento do
decálogo. É contrário ao nível de informações,
tecnologia e mesmo moral que a humanidade atingiu.
Portanto, defender posse ou porte de arma é incompatível
com o Espiritismo. A paz é conquista de dentro para fora
e não o contrário. O sujeito pacífico contagia
positivamente as pessoas que o cercam, porque estas não
terão como ser violentas, bravas, ignorantes,
inconsequentes com o manso, o pacífico. O exercício é
interior!
A arma que devemos utilizar é a da brandura, da
paciência, da compaixão, do amor ao próximo. Afinal,
como diria John Donne: “A morte de cada homem
diminui-me, porque sou parte da humanidade. Portanto,
nunca procure saber por quem os sinos dobram; eles
dobram por ti”. Não há que se comemorar, tampouco
fomentar que objetos criados especificamente para matar
sejam compartilhados livremente na sociedade.
Não há que se evocar legítima defesa; não há que se
evocar proteção do patrimônio; nada disso. O que está em
jogo é a vida; é a paz; é a convivência em sociedade.
A pesquisa, portanto, reflete felizmente um avanço do
pensamento mais humanista e pacífico. Oxalá, consigamos
consubstanciar em ações do bem.
Referência:
DataFolha – Instituto de Pesquisas.
Disponível em <folha
Uol>. Acesso em 12/07/2019.
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