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por Rogério Coelho

 

Apropriação


A Doutrina Espírita é a chave que nos faculta tudo compreender de modo fácil


“Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial?” 
- Mateus, 22: 12.


Segundo Allan Kardec[1], à exceção do ensino moral, as demais partes em que se divide o Evangelho sempre deram azo a polêmicas. O invariável corolário disso é um infindável nascedouro de novas doutrinas que reciprocamente se anatematizam, vez que cada uma, querendo possuir a exclusividade absoluta sobre a verdade, interpreta com as lentes distorcidas da ignorância, a bel-prazer, o conteúdo do Evangelho...

Mais preocupadas em anatematizar e escravizar mentes, em combater os antípodas que propriamente proclamar a verdade, permanecem em constante estado de beligerância, podando ciosa e impiedosamente todo broto que saia de seu tronco dogmático.

Dentre as doutrinas mais visadas, por seu alto conteúdo emancipador, destaca-se a Doutrina Espírita como “saco de pancadas” de seitas diversas que se acumpliciam para combater o inimigo comum. Dentre as condenações especiosas de que lançam mão, convocando inclusive os préstimos do “diabo” para auxiliar-lhes nesse mister, a mais comum de todas está em invectivar contra o intercâmbio com os chamados “mortos”. 

Uma determinada seita, para justificar a proibição e pretensamente invalidar o fenômeno mediúnico, cita a passagem do rico e Lázaro[2]“está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá”;  e, com base nisso, acharam ferir de golpe mortal o intercâmbio mediúnico, ainda mais quando Pai Abraão afirma:[3] “se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que alguns dos mortos ressuscite”. (“Nec plus ultra!...”.)

A Doutrina Espírita reage contra esses superlativos insultos à inteligência, trazendo à peregrina luz da razão os ensinamentos de Jesus não mais segundo a letra que mata, mas segundo o Espírito que vivifica.

Ensina Kardec que Deus sempre apropria o meio aos seres que o vão habitar[4]“os peixes, na água; os seres terrestres, no ar; os seres espirituais no fluido espiritual ou etéreo, mesmo que estejam na Terra. O fluido etéreo está para as necessidades do Espírito, como a atmosfera para a dos encarnados. Ora, do mesmo modo que os peixes não podem viver no ar; que os animais terrestres não podem viver numa atmosfera muito rarefeita para seus pulmões, os Espíritos inferiores não podem suportar o brilho e a impressão dos fluidos, porque o Espírito morrer não morre, mas uma força instintiva os mantém afastados dali, como a criatura terrena se afasta do fogo. Eis aí por que não podem sair do meio que lhes é apropriado à natureza.   Para mudarem de meio, precisam antes mudar de natureza, despojar-se dos instintos materiais que os retêm nos meios materiais; numa palavra, que se depurem e moralmente se transformem. Então, gradualmente se identificam com um meio mais depurado, que se lhes torna uma necessidade, como os olhos, para quem viveu longo tempo nas trevas, insensivelmente se habitua à luz do dia e ao fulgor do Sol”.

Por extensão e analogia, compreendemos, assim, por que aquele homem indesejável foi retirado do salão do banquete, no registro de Mateus[5]. O motivo não era outro senão a sua inadequação para estar ali, vez que não possuía a “veste nupcial”, isto é, o ambiente psíquico estava muito depurado para as suas vibrações grosseiras. Mas o rejeitado não ficaria para sempre na região de “choros e ranger de dentes”. Tão logo conseguisse confeccionar a “túnica nupcial”, tecendo-a com os fios do amor e do conhecimento superior, seria readmitido na festa, festa essa que outra não é senão o Reino dos Céus.

Não falece a menor dúvida: a Doutrina Espírita é a chave que nos faculta compreender todas as coisas de modo fácil e lógico... Sem as abençoadas luzes proporcionadas pelo Espiritismo, giraríamos em círculos criando utopias e sofismas, permanecendo com a inteligência em profunda hibernação, anestesiada...

A ferrenha agressividade dos detratores da Doutrina Espírita repousa na insuficiência dos próprios argumentos e respondem com primaríssimos e falsos raciocínios o que não conseguem alcançar em seus estreitos horizontes, obscurecidos que estão por superlativo apoucamento mental e ilhados em suas inúteis e danosas vaidades do que acham ser as suas “intelectualidades”, a exemplo de Nicodemos, que, não obstante ser mestre em Israel, não conseguia vislumbrar as extensas e ilimitadas planícies do Mais Além que Jesus lhe descortinara.   

 

[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, Introdução.

[2] - Lc., 16: 26.

[3] - Lc., 16: 31.

[4] - KARDEC, Allan. A Gênese. 43. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap.  XIV, item 11.

[5] - Mt., 22: 13.



 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita