Ressignificando
a
solidão
A ascensão espiritual se dá de modo solitário. Cada ser
tem o seu próprio ritmo; sua própria passada; e aprende
a realidade de forma muito específica. De modo que, se
hoje estamos com determinadas pessoas, amanhã, a
depender do nosso ritmo (e delas) de ascensão, não
poderemos estar.
Ascender espiritualmente significa viver em solidão. Mas
não desassistido. Implica em estar no convívio social,
mas com a mente voltada para o Alto. A solidão,
portanto, não tem um sentido negativo. Mas um sentido de
comunhão com o Divino.
Há que se considerar que não significa que os laços
afetivos se rompam. Apenas que os interesses se
modificam e as faixas vibratórias se alteram. Logo, a
solidão é a comunhão intrínseca com o próprio Criador,
porque Ele está em tudo. E nos fala na acústica d´alma.
À medida que se ascende, ficam para trás coisas e
pessoas. As primeiras em decorrência do natural
desprendimento dos bens materiais, que passam a ser
insignificantes diante da realidade espiritual.
Já as pessoas, porque elas não conseguem compreender
ainda o Divino na solidão (e por terem seus próprios
ritmos de marcha evolutiva), muitas ainda estão presas
às situações que as infelicitam ou lhes dão prazeres
momentâneos.
A habitualidade no bem separa, naturalmente, as pessoas
que se comprazem com essas práticas daquelas que não se
sentem atraídas.
E, infelizmente, muitos não se sentem bem em fazer o
bem.
Reconhecem a importância, acham interessante, até
desejam auxiliar, mas não se sentem realmente felizes
porque avocam para si outros eventos que julgam mais
relevantes (e prazerosos).
Logo, aqueles que buscam o caminho da “porta estreita”
experimentam a solidão, mas não são desassistidos. A
presença do Criador no íntimo do coração dá-lhes uma paz
que não conseguimos compreender.
Assim, auxiliar uma creche, um orfanato, um asilo;
dedicar-se a alguém ou a uma causa; fazer gestos de
caridade; aparar as próprias arestas; realizar uma
cirurgia moral profunda, entre outros aspectos, tornam o
caminhar de cardos e espinhos e solidão.
A solidão não implica em se alijar do convívio social.
Mas estar no mundo sem se deixar levar por ilusões. É
ter os pés no chão. Mas o pensamento a vibrar em faixas
mais evoluídas. É compreender as dificuldades dos outros
e respeitar-lhes o ritmo. É não violentar consciências.
É, em síntese, aparar as próprias inclinações negativas
e ir se despojando de coisas e pessoas (é não ter
dependência emocional) rumo ao Sempiterno.
Pode parecer egoísmo numa leitura desatenta, mas só
podemos auxiliar de fato o outro se estivermos bem
espiritualmente, equilibrados, saudáveis.
A solidão é parar alguns minutos do dia frenético que
vivemos para sentir/conversar com as Forças Superiores.
É não viver às apalpadelas no mundo. Mas ter os olhos
abertos para a realidade espiritual.
Pouquíssimos têm os olhos para ver, os ouvidos para
ouvir, o coração para sentir a realidade espiritual.
Pouquíssimos são os que vivem na solidão, porque
pouquíssimos compreendem a importância do mergulho na
matéria (reencarnação) e a realidade do Espírito
imortal.
A solidão, portanto, não é estar longe das pessoas.
Porque mesmo nestes casos as companhias mentais podem
ser variadas. A solidão é estar no meio de várias
pessoas a enfrentar os desafios do cotidiano, mas ter o
pensamento, o coração e a alma inclinados para o
Criador, para faixas superiores. Este é um exercício
difícil e demorado.