Ampliando o capital
espiritual através das
lições de Paulo de Tarso
Uma das pérolas da
sabedoria paulina,
certamente digna de
menção honrosa no
estatutário celestial, é
a 3ª carta aos
Colossenses. Na referida
epístola, um primor de
espiritualidade,
diga-se, o apóstolo da
gentilidade emite uma
série de recomendações
aos cristãos de Colossas.
O seu conteúdo, além de
atualizado, é
particularmente especial
aos que já perceberam a
relevância da construção
do seu capital
espiritual. Afinal,
através dela Paulo
destila conselhos,
ponderações e
advertências altamente
providenciais. Paulo
pode ser visto – cumpre
ressaltar – como
sinônimo de
transformação humana.
Aliás, muito raros, na
história humana, foram
os que empreenderam tão
radical mudança interior
como ele o fez. Paulo
não apenas abraçou o
ideal cristão, mas
incorporou-o no imo da
alma. Com efeito, ao
perceber o clamoroso
erro em que incorria,
abandona os rotos
pensamentos e valores
interiores, e se dedica
cabalmente à implantação
da luz na Terra.
Como sabemos, tal
mudança muito lhe custou
pessoalmente em termos
de sofrimento e
abnegação. No entanto, o
seu legado é
indiscutivelmente
referencial. Posto isto,
nos dois primeiros
versículos da citada
epístola, ele observa: “Portanto,
se já ressuscitastes com
Cristo, buscai as coisas
que são de cima, onde
Cristo está assentado à
destra de Deus. Pensai
nas coisas que são de
cima, e não nas que são
da Terra”. Vemos aí
neste trecho uma clara
alusão à necessidade de
meditação em torno das
coisas espirituais. De
fato, a criatura humana,
apesar de aturdida pela
volúpia dos
acontecimentos e
tragédias, ainda reluta
em abraçar a
responsabilidade de
autoiluminar-se. Já até
aceita a existência de
algo além dos limites da
matéria perecível, mas,
por assustar-se diante
do que pode estar
embutido no
“desconhecido”, teima em
não agir. Falta-lhe,
enfim, a necessária
coragem para reformular
os interesses de vida,
não obstante a
fragilidade ética e
moral dos mesmos.
Tendo-se em vista o
objetivo proposto, Paulo
faz recomendações
incisivas: “Mas
agora, despojai-vos
também de tudo: da ira,
da cólera, da malícia,
da maledicência, das
palavras torpes da vossa
boca. Não mintais uns
aos outros, pois que já
vos despistes do velho
homem com os seus
feitos, e vos vestistes
do novo, que se renova
para o conhecimento,
segundo a imagem daquele
que o criou” (Colossenses
3, 8-9).
O sábio apóstolo traça
aí um roteiro virtuoso,
luminoso e desafiador.
Na essência, implica uma
profunda mudança íntima
da criatura humana.
Afinal de contas,
despojar-se das sombras
da personalidade, do
desenfreado culto ao ego
e do indesejável
comportamento rude e
negativo demanda esforço
considerável. Mais
ainda: eleger a luz como
roteiro de vida é
deveras desgastante e
dificultoso. Mas,
convenhamos, também não
é impossível, desde que
haja tal disposição. Por
isso, a vida de Paulo é
um raro exemplo de tal
realização.
A sua luta interior e a
coragem demonstrada ao
enfrentar as trevas do
seu tempo custaram-lhe
muito. Mas ele não
recuou, e nos instantes
mais delicados da
existência desafiou a
morte nefanda - pela via
da decapitação - com
extrema dignidade. A sua
recompensa, relatada na
extraordinária obra Paulo
e Estêvão, de
autoria do Espírito
Emmanuel (psicografia de
Francisco Cândido
Xavier), foi à altura de
quem muito fez e
conquistou no campo da
espiritualidade.
Os versículos 12-14 são
claros delineamentos a
respeito do que nos
compete realizar a fim
de obtermos semelhante
conquista: “Revesti-vos,
pois, como eleitos de
Deus, santos e amados,
de entranhas de
misericórdia, de
benignidade, humildade,
mansidão, longanimidade;
suportando-vos uns aos
outros, e perdoando-vos
uns aos outros, se
alguém tiver queixa
contra outro; assim como
Cristo vos perdoou,
assim fazei vós também.
E sobretudo isto,
revesti-vos de amor, que
é o vínculo da
perfeição”. Paulo
não nos incita a
imitá-lo. O Criador
também não nos faz tal
demanda. Mas a mensagem
é transparente e
objetiva: seja um ser
melhor em todos os
sentidos. Paulo tinha
plena consciência a
respeito do que nos
recomendara. O amor,
nesse contexto, é
ressaltado como a
principal meta humana a
ser alcançada na esfera
dos sentimentos. No
entanto, é deveras
decepcionante observar a
escassez no uso de tão
poderoso antídoto às
maldades humanas, apesar
de seu extraordinário
valor intrínseco.
Os versículos 18-21 são
endereçados à
necessidade do
equilíbrio familiar –
instância central às
grandes realizações
humanas no campo do
afeto e das relações. Os
versículos 23-24 são um
hino ao exercício da
responsabilidade
adornada pelo amor: “E
tudo quanto fizerdes,
fazei-o de todo o
coração, como ao Senhor,
e não aos homens,
sabendo que recebereis
do Senhor o galardão da
herança, porque a
Cristo, o Senhor, servis”.
Note uma vez mais que o
amor está no centro de
tudo. Diante de tão
grave recomendação, não
deveríamos abdicar de
nos empenhar em sempre
fazer o melhor. A
advertência enfoca
claramente que o nosso
esforço e dedicação não
serão em vão. Haveremos
de receber o “galardão”
(o prêmio) no momento
oportuno. O apóstolo
também não se refere à
nossa ocupação, pois aos
olhos de Deus todos nós
somos importantes. O que
conta efetivamente é o
nosso comprometimento
com a tarefa posta
diante de nós.
Embora Paulo não use
exatamente esses termos,
mas podemos subentender
que “o galardão da
herança” simboliza o
capital espiritual de
cada um. Nessa
perspectiva, portanto,
Paulo colheu o seu de
maneira justa, conforme
relata a obra acima. Em
outras palavras, Paulo
deixou a vida corpórea
vitimado por torpe
vilania, mas, em
contrapartida,
absolutamente rico em
espiritualidade. O seu
capital espiritual é,
por conseguinte,
admirável. Desse modo,
através do
autoaperfeiçoamento e do
amor podemos ampliar
igualmente o nosso.
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