Hábitos
insalubres
As criaturas têm despendido largos tributos à ignorância
e ao desgoverno das emoções
“Endireitai o caminho.” - João,
1:23.
Segundo Emmanuel [1], “(...)
para que alguém sinta a influência santificadora do
Cristo, é preciso retificar a estrada em que tem
vivido”, abandonando as veredas dos vícios, dos
crimes, dos costumes dissolutos e os resvaladouros dos
erros. Ao longo de nossa caminhada evolutiva temos
despendido largos tributos à ignorância, à impaciência e
ao desgoverno das emoções em variegados
destrambelhamentos...
Não estaremos livres de toda sorte de dificuldades
enquanto não alcançarmos o ápice da evolução, o zênite
de nossa escala ascensional. Cumpre, assim, resguardamos
o Espírito na calma ante os acontecimentos infelizes que
fogem ao nosso controle. Todas as vezes que uma situação
se der de forma diferente da que desejáramos,
insculpindo as marcas da aflição nas carnes de
noss’alma, ao invés de nos deixarmos comburir pela
irritação e pela rebeldia, destemperando-nos em revolta,
agressividade e palavrões, devemos estender a alcatifa
da calma à nossa frente, pois tudo muda constantemente,
inclusive o momento aziago...
Joanna de Ângelis[2] aconselha: “(...)
em todos os passos da vida, a calma é convidada a estar
presente. Aqui, é uma pessoa tresvariada que te agride;
acolá é uma ameaça de insucesso na atividade programada;
adiante, é uma incompreensão urdindo males contra os
teus esforços. É necessário ter calma sempre... Ela é
filha dileta da confiança em Deus e na sua justiça, a
expressar-se numa conduta reta que responde por uma
atitude mental harmonizada.
Quando não se age com incorreção, não há por que
temer-se acontecimento infeliz. A irritação, alma gêmea
da instabilidade emocional, é responsável por danos,
ainda não avaliados, na conduta moral e emocional da
criatura.
A calma inspira a melhor maneira de agir, e sabe
aguardar o momento próprio para atuar, propiciando os
meios para a ação correta. Não antecipa nem
retarda. Soluciona os desafios, beneficiando aqueles que
se desequilibram e sofrem”.
Em outra oportuna página, esclarece a mesma Mentora
Amiga [3]: “(...)
o homem que se candidata a uma existência feliz tem a
obrigação de vigiar as suas emoções perturbadoras, a fim
de que sejam evitadas desarmonias perfeitamente
dispensáveis, na economia do seu processo de evolução.
As emoções perturbadoras decorrem do excesso de
autoestima, do apego aos bens materiais e às pessoas, e
do orgulho, entre outros fatores negativos. O excesso de
consideração que o indivíduo concede, leva-o à
irritação, ao ciúme, à agressividade, toda vez que os
acontecimentos se dão diferentes do que ele espera e
supõe merecer.
O grande desafio do homem da atualidade é, pois, superar
os despautérios que têm raízes no seu passado
espiritual. A liberação das emoções perturbadoras é
resultado dos hábitos insalubres de entregar-se-lhes sem
resistência. Tão comum se faz ao indivíduo a liberação
dos instintos perniciosos geradores deles, que este se
não dá conta do desequilíbrio em que vive. Adaptando-se
ao autocontrole, eliminará, a pouco e pouco, a explosão
dessas emoções perturbadoras”.
Emmanuel esclarece [4]: “(...)
o mundo interior é a fonte de todos os princípios bons
ou maus e todas as expressões exteriores guardam aí os
seus fundamentos. Em regra geral, todos somos portadores
de graves deficiências íntimas, necessitadas de
retificação. Será muito fácil ao homem confessar a
aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal
a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é
realizar a obra de elevação de si mesmo, valendo-se da
autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito
de sacrifício.
O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do
assunto e aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos,
isto é, retificassem as atividades do plano exterior,
renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para
que se efetuasse, igualmente, a purificação do
sentimento, no recinto sagrado da consciência, apenas
conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de
seus pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo,
contudo, não se esqueceu de afirmar que isso é trabalho
para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação
jamais se fará tão somente à custa de palavras
brilhantes”.
A nobre Mentora Joanna de Ângelis3 elaborou
um pequeno código de conduta para facilitar-nos a
assimilação de outros hábitos saudáveis e felicitadores.
Vejamos o que ensina a Mentora de nosso Divaldo Franco: “(...)
considera a própria fragilidade que te não faz diferente
das demais pessoas; observa o esforço do teu próximo e
valoriza-o; treina a paciência ante as ocorrências
desagradáveis; reflexiona quanto à transitoriedade da
posse; medita sobre a necessidade de ser solidário;
propõe-te a adaptação ao dever, por mais desagradável se
te apresente; aprende a repartir, mesmo quando a
escassez caracterizar as tuas horas...
Um treinamento íntimo criará novos condicionamentos que
te ajudarão na formação de uma conduta ditosa e
tranquila.
Foram as emoções perturbadoras que levaram Pedro,
temeroso, a negar o Amigo, e Judas, o ambicioso, a
vendê-lO aos inimigos da verdade.
O controle delas, sob a luz da humildade e da fé,
proporcionou à humanidade o estoicismo de Estêvão, a
dedicação até o sacrifício de Paulo – que as venceram –
e toda a saga de amor e grandeza do homem abnegado de
todos os tempos”.
Santo Agostinho desenvolve de forma magistral o axioma
encontrado por Sócrates no Templo de Delfos na Grécia,
de autoria do também filósofo grego Sólon: “conhece-te
a ti mesmo”, na sequência da questão número 919 de “O
Livro dos Espíritos”, d’onde podemos
pinçar valiosos subsídios para implementar o código de
conduta elaborado pela lúcida Mentora de Divaldo Franco.
E é ainda ela quem nos aconselha2: “(...) preserva-te
em calma, aconteça o que acontecer. Aprendendo a
agir com amor e misericórdia em favor do outro, o teu
próximo, ou da circunstância aziaga, possuirás a calma
inspiradora da paz e do êxito”.
[1] -
XAVIER, F. Cândido. Caminho, verdade e vida. 26.
ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. 16.
[2] -
FRANCO, Divaldo. Episódios diários. Salvador:
LEAL, 1986, cap.16.
[3] -
FRANCO, Divaldo. Momentos de felicidade. Salvador:
LEAL, 1991, cap. 18.
[4] -
XAVIER, F. Cândido. Caminho, verdade e vida. 26.
ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. 18.