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por Paulo da Silva Neto Sobrinho

 

Chico Xavier e o seu retorno por Joanna de Ângelis


“Como não há cego pior do que aquele que não quer ver, reconhecida a inutilidade de toda tentativa para abrir os olhos ao fascinado, o que se tem de melhor a fazer é deixá-lo com as suas ilusões.” (ALLAN KARDEC)


A revista Reformador, de agosto de 2002, em edição extra, dedicada ao médium Chico Xavier, apresenta a mensagem de Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo P. Franco, no dia 2 de julho de 2002, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, BA, sobre o seu retorno à pátria espiritual ([1]), que transcrevemos visando tecer alguns comentários:

O Retorno do Apóstolo Chico Xavier

Quando mergulhou no corpo físico, para o ministério que deveria desenvolver, tudo eram expectativas e promessas.

Aquinhoado com incomum patrimônio de bênçãos, especialmente na área da mediunidade, Mensageiros da Luz prometeram inspirá-lo e ampará-lo durante todo o tempo em que se encontrasse na trajetória física, advertindo-o dos perigos da travessia no mar encapelado das paixões, bem como das lutas que deveria travar para alcançar o porto de segurança.

O interessante é que a autora espiritual Joanna de Ângelis nada diz sobre Chico Xavier ter cumprido sua nova missão de completar a Doutrina dos Espíritos, o que nos coloca, inevitavelmente, na posição de concluir que o “Mineiro do Século XX” jamais foi o Codificador reencarnado, como querem alguns. Apenas foi ressaltada a sua missão na mediunidade, ou seja, de ser intermediário dos Espíritos, que por ele se manifestaram.

Orfandade, perseguições rudes na infância, solidão e amargura estabeleceram o cerco que lhe poderia ter dificultado o avanço, porém, as providências superiores auxiliaram-no a vencer esses desafios mais rudes e a crescer interiormente no rumo do objetivo de iluminação.

Entendemos que essas observações a respeito do médium dizem mais de um Espírito ainda com sérios compromissos quanto à sua evolução espiritual do que de um na condição de missionário. Assim, não faz sentido ele ter sido Kardec e tampouco Francisco de Assis, conforme se pensa por aí. Quanto ao último, sugerimos a pesquisa que publicamos no ebook Francisco de Assis e Chico Xavier seriam o mesmo Espírito? ([2])

 

Adversários do ontem que se haviam reencarnado também, crivaram-no de aflições e de crueldade durante toda a existência orgânica, mas ele conseguiu amá-los, jamais devolvendo as mesmas farpas, os espículos e o mal que lhe dirigiam.

Ora, essa referência a “adversários de ontem” que “crivaram-no de aflições e de crueldade” não se coaduna com alguém que possui uma evolução espiritual significativa, uma vez que é própria de Espíritos imperfeitos. Pior fica a situação, quando se diz que isso aconteceu “durante toda a existência orgânica” do médium.

Experimentou abandono e descrédito, necessidades de toda ordem, tentações incontáveis que lhe rondaram os passos ameaçando-lhe a integridade moral, mas não cedeu ao dinheiro, ao sexo, às projeções enganosas da sociedade, nem aos sentimentos vis.

Sempre se manteve em clima de harmonia, sintonizado com as Fontes Geradoras da Vida, de onde hauria coragem e forças para não desfalecer.

A nosso ver, a referência a “não cedeu ao dinheiro”, só faz sentido se a ela juntarmos a admoestação que Izabel de Aragão e Maria João de Deus fizeram a Chico Xavier ([3]), se o considerarmos como tendo sido a reencarnação de Ruth-Celine Japhet, uma das médiuns da codificação, que, infelizmente, comercializou sua mediunidade. ([4])

Quanto ao sexo, julgamos tratar-se de um pequeno, mas importante detalhe, que viria confirmar o psiquismo feminino de Chico Xavier, conforme demonstramos em nosso ebook Chico Xavier, verdadeiramente uma alma feminina. ([5])

Trabalhando infatigavelmente, alargou o campo da solidariedade, e acendendo o archote da fé racional que distendia através dos incomuns testemunhos mediúnicos, iluminou vidas que se tornaram faróis e amparo para outras tantas existências.

Nunca se exaltou e jamais se entregou ao desânimo, nem mesmo quando sob o metralhar de perversas acusações, permanecendo fiel ao dever, sem apresentar defesas pessoais ou justificativas para os seus atos.

Lentamente, pelo exemplo, pela probidade e pelo esforço de herói cristão, sensibilizou o povo e os seus líderes, que passaram a amá-lo, tornou-se parâmetro do comportamento, transformando-se em pessoa de referência para as informações seguras sobre o Mundo Espiritual e os fenômenos da mediunidade.

Sua palavra doce e ungida de bondade sempre soava ensinando, direcionando e encaminhando as pessoas que o buscavam para a senda do Bem.

Não temos dúvida alguma quanto ao fato de Chico Xavier ter-se tornado um parâmetro de comportamento, especialmente aos médiuns, pela sua dedicação em aplicar os ensinamentos de Jesus à sua vida cotidiana, transformando-o, de fato e de direito, em um médium “modelo”.

Em contínuo contato com o seu Anjo tutelar, nunca o decepcionou extraviando-se na estrada do dever, mantendo disciplina e fidelidade ao compromisso assumido.

Certamente que não faz sentido algum considerar que um Espírito moralmente elevado ainda tenha que ser mantido sob “disciplina férrea”, como Emmanuel fez ao médium. Sabemos que, quando Chico Xavier o viu pela primeira vez, lhe perguntou o que deveria fazer para corresponder à confiança dele. Em resposta, seu mentor disse-lhe: “Olhe, há três coisas que você precisa fazer… A primeira é disciplina, a segunda é disciplina e a terceira é disciplina”. ([6])

Abandonado por uns e por outros, afetos e amigos, conhecidos ou não, jamais deixou de realizar o seu compromisso para com a Vida, nunca desertando das suas tarefas.

As enfermidades minaram-lhe as energias, mas ele as renovava através da oração e do exercício intérmino da caridade.

A claridade dos olhos diminuiu até quase apagar-se, no entanto, a visão interior tornou-se mais poderosa para penetrar nos arcanos da Espiritualidade.

Nunca se escusou a ajudar, mas nunca deu trabalho a ninguém.

Seus silêncios homéricos falaram mais alto do que as discussões perturbadoras e os debates insensatos que aconteciam à sua volta e longe dele, sobre a Doutrina que esposava e os seus sublimes ensinamentos.

Tornou-se a maior antena parapsíquica do seu tempo, conseguindo viajar fora do corpo, quando parcialmente desdobrado pelo sono natural, assim como penetrar em mentes e corações para melhor ajudá-los, tanto quanto tornando-se maleável aos Espíritos que o utilizaram por quase setenta e cinco anos de devotamento e de renúncia na mediunidade luminosa.

Por isso mesmo, o seu foi mediunato incomparável.

Não resta a menor dúvida de que Chico Xavier foi a “maior antena parapsíquica”, é bem provável que tão cedo surja um médium do mesmo nível e extremamente dedicado quanto ele foi.

Anteriormente, argumentava-se que, pelo fato do Espírito Allan Kardec não se manifestar, isso era mais um elemento para o ter como sendo Chico Xavier. Ao apresentarmos várias comunicações do Codificador, 66 mensagens ao todo, sendo que 60,6% delas a partir de 2 de abril de 1910 ([7]), a alegação passou a ser de que há possibilidade do Espírito de pessoa viva se manifestar. É vero, porém, a condição é que ela esteja dormindo ou em algum estado alterado de consciência. ([8]) Nesse trecho afirma que Chico Xavier conseguia viajar fora do corpo quando em sono natural, confirmando, portanto, a condição que, claramente, se observa nas obras da codificação.

… E ao desencarnar, suave e docemente, permitindo que o corpo se aquietasse, ascendeu nos rumos do Infinito, sendo recebido por Jesus, que o acolheu com a Sua bondade, asseverando-lhe:

– Descansa, por um pouco, meu filho, a fim de esqueceres as tristezas da Terra e desfrutares das inefáveis alegrias do reino dos Céus.

JOANNA DE ÂNGELIS (grifo nosso)

Pelo fato de ter sido recebido por Jesus, também tomam que Chico Xavier só poderia ter sido Kardec. Certamente que uma coisa nada tem a ver com a outra, isso é pura ilação sem nenhuma base doutrinária. Não é fora de propósito lembrarmos desta fala de Jesus: “Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.” (Lucas 15,7 – Bíblia de Jerusalém)


 

[1]    Reformador Ano 120, Nº 2.080-A, Rio de Janeiro: FEB, julho/2002, p. 6-7.

[2]    SILVA NETO SOBRINHO, P. Francisco de Assis e Chico Xavier seriam o mesmo Espírito?, disponível em: ebook 1

[3]    Ver cap. Chico Xavier foi advertido por Isabel de Aragão e por sua mãe, de Kardec & Chico Xavier: 2 missionários, vol. II (no prelo), de nossa autoria.

[4]    SILVA NETO SOBRINHO, Chico Xavier teria sido a médium Srta. Japhet?, disponível em: srta. Japhet

[5]    SILVA NETO SOBRINHO, Chico Xavier, verdadeiramente uma alma feminina, disponível em: ebook 2

[6]    BACCELLI, Chico Xavier, 70 anos de Mediunidade, p. 18.

[7]    SILVA NETO SOBRINHO, Kardec & Chico Xavier: 2 missionários. Vol. III (no prelo).

[8]    SILVA NETO SOBRINHO, Manifestações de Espírito de pessoa viva (em que condições elas ocorrem), disponível em: e-book 3



 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita