Os puros de coração – uma análise
O coração sente e o cérebro executa. Muito embora as
pessoas pensem ao contrário, mas é assim que se dão os
movimentos íntimos que nos norteiam pensamentos,
palavras e ações. É preciso entender um pouco mais sobre
o coração. Dito centenas de vezes no Antigo e no Novo
Testamento, o coração constitui-se num refúgio, uma
forja onde se molda o ouro divino que somos. Na
antiguidade clássica os ferreiros utilizavam-se de
rituais complexos para extrair o minério da Terra e
amadurecê-lo em seus fornos, como dizem os antropólogos.
O coração é essa forja divina que nos amadurece.
Acontece que nem sempre o possuidor de tal fortuna sabe
que a tem e, em atos insanos, colocam impurezas naquele
ambiente. O puro e o impuro, o sagrado e o profano
sempre estiveram na pauta dos estudiosos das escolas
iniciáticas. Os Tabus e os Totens foram substituídos.
Sim, deveriam ser mesmo, porém em seus lugares erigiram
estátuas e conceitos nefandos sem o mínimo cuidado de
enriquecê-los. Campbel, em seu livro: O Poder do Mito,
nos diz que estão nos faltando os substitutos dos mitos
que amadureceram a mente humana, transportando-a da
idade da pedra para a preparação do homem tecnológico.
O coração é um local de intensas movimentações internas
enquanto realizamos o externo. Segundo a sabedoria
hebraica ali se acham presentes os sentimentos, a razão,
a vontade e o desejo. Somente com eles harmonizados e
purificados encontra-se a joia sagrada que é Deus
presente e imanente em cada criatura. Desta forma, a
razão domestica os sentimentos uma vez que estes são
ambivalentes. Possuem o lado positivo e o negativo, como
amor/ódio, tristeza/alegria, dúvidas/fé,
desespero/esperança, como na prece de Francisco de
Assis. Diz a Psicologia que o homem positivado nos
sentimentos potencializa-se para a vida reta, moral e
ética.
A vontade, por sua vez, domestica o desejo. A vontade é
branda, projeta com calma a realização que aspira
enquanto que o desejo é rebelde incitando a atos
impensados podendo danificar a conduta e o caráter,
quando não controlado. Enquanto que a vontade é movida
pela paixão que turbina a alma de forma compassiva e
justa, o desejo é a paixão descontrolada que pode
queimar feito fogo descontrolado.
Quando Jesus disse: “Bem-aventurados os puros de coração
porque eles verão a Deus”, Mat. 5: 8, estava nos
convidando a um olhar analítico e profundo sobre este
espaço em nós, responsável direto por nossos
crescimentos espirituais. O puro sempre foi a busca nas
escolas do Egito, Grécia, Mesopotâmicas e outras. Um
artesão daquele passado e os construtores, que surgiram
depois, nada faziam que não fosse em nome da pureza de
atos e intenções. Os atos externos modificam os caminhos
internos para o bem ou para o mal. Nesta
contemporaneidade tudo necessita transmutar-se para as
obras que enlevem a criatura. Neste quesito o
Espiritismo é a grande ferramenta.
Os puros de coração serão aqueles que, sentindo a
necessidade de transformar-se para melhor, iniciam
conscientemente os movimentos que os levem a tal. Não
mais em busca de milagres ou acordos com a Divindade
através de vãs promessas, e sim ações consistentes que
fortaleçam o indivíduo enquanto caminha na evolução. É
bom caminhar sabendo onde se coloca os pés. Há serpentes
com seus frutos danosos. Há dragões com seus fogos
assustadores. Há sereias com seus cantos entorpecentes.
Há, contudo, Deus como proposta Divina em cada ser.
Os puros de coração, segundo a tradição hebraica, são os
indivíduos sensatos que olham enquanto caminham,
estabelecem metas enquanto aspiram, controlam emoções
enquanto são estimulados. Sim, os estímulos surgem a
cada momento, de dentro ou de fora, as emoções tratam
logo de levá-los aos sentimentos e estes à memória, aos
pensamentos, palavras e ações. Hoje somos informados
desse percurso e não basta apenas sentir, é necessário
perceber para agir com probidade.
Um olhar no coração para uma análise profunda nos mostra
que o campo eletromagnético por ele gerado é de tal
grandeza que aquece ou desnorteia. Nas suas entranhas o
Senhor nos convida a sermos como Ele, agirmos com Ele,
pulsarmos Nele. O filho bem-aventurado é o feliz
entendedor dessas verdades e o convicto transformador de
si mesmo visando à plenitude com o Pai.
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