A
caridade
nossa de
cada dia
Dentro
da
oração
do Pai
Nosso,
que
consta
no
Evangelho
de
Mateus (1),
temos no
menor
dos
versículos
dessa
prece a
rogativa
a Deus
para que
o pão
nosso de
cada dia
nos seja
dado
hoje.
É
interessante
como a
oração
se
inicia
com a
intenção
de
elevar
nossos
corações
para
dialogar
com o
Criador,
tanto
num
reconhecimento
da
infinita
sabedoria
que já
nos
permitimos
assimilar,
bem como
da
resignação
necessária
perante
os
propósitos
divinos
que
ainda
desconhecemos.
E,
depois
de feita
a
conexão
com o
Alto,
fulgura
a
pequenina
frase, o
pão
nosso de
cada dia
dai-nos
hoje,
clamando
por
nutrição
para
nossas
vidas,
numa
sequência
perfeita
que
deságua
nas
refinadas
postulações
sobre o
nosso
agir,
estando
nossos
Espíritos
na
erraticidade
ou não.
A
pequenina
frase,
no meio
da
prece,
une,
portanto,
o Mundo
Espiritual
ao da
matéria,
demonstrando
que
somente
sob o
amparo
da luz
divina
conseguiremos
discernir
para
agir de
maneira
adequada
na
existência.
Entre as
variadas
interpretações
do “pão
nosso de
cada
dia”,
podemos
refletir
sobre a
que
denomina
a
caridade
como o
alimento
de nosso
bem
viver.
Consta
no
prefácio
do
livro Pão
Nosso,
na
mensagem
“No
serviço
cristão”,
que
Espiritismo
não
expressa
simples
convicção
de
imortalidade:
“é clima
de
serviço
e
edificação”.
Então
compreendemos
que é
necessário
muito
mais do
que
saber
todo o
pentateuco
espírita,
saber
sobre
magnetismo
ou sobre
colônias
espirituais,
apesar
de isso
tudo ser
parte do
conhecimento.
No
entanto,
o
desenvolvimento
da
significância
moral
das
lições,
visando
à
purificação
dos
nossos
corações,
sempre
será a
bússola
certeira
para o
devido
crescimento
espiritual.
E isso
só se
fará na
lida uns
com os
outros,
dentro
de uma
casa
espírita,
mas,
principalmente,
fora
dela.
Quantas
vezes,
ajudando
a
colocar
um
pijama
num
parente
idoso,
em nossa
casa, e
ouvindo
suas
histórias
repetidas
com um
olhar
compassivo,
ou
alimentando
uma
criança
órfã no
colo, e
acariciando
seus
cabelos
com
doçura,
compreendemos,
por
exemplo,
uma
frase de
Joanna
de
Ângelis,
que
antes
nos era
inatingível,
no
sentimento?!
Os
Espíritos
de alto
escalão
moral
apresentam
um poder
de
síntese
muito
grande,
devido
às
inúmeras
experiências
dolorosas
que
sobrepujaram
e, por
isso,
conseguem,
ao
descrever
uma
ideia,
retirar
as
“rebarbas”,
o
desnecessário,
e,
assim,
expressar
com
exatidão
o
pensamento.
Não
compreenderemos
essas
ideias
com
profundidade,
se não
realizarmos
as ações
necessárias
de
renúncia
de nós
mesmos
no
auxílio
ao
mundo,
personificado
na vida
de
nossos
semelhantes.
Não
sendo
assim,
continuaremos
sabendo
descrever
cirurgicamente
o
sofrimento
através
de
nossos
lábios,
repetindo
palavras
que os
bons
Espíritos
nos
transmitem,
arrebatando
muitas
vezes
aplausos
de
plateias
emocionadas,
sem
saber
ainda
incentivar
e,
principalmente,
fazer a
diferença
no
mundo,
para
melhor.
Muitas
vezes o
outro me
olhará
pedindo
amparo,
e meu
eu,
aprisionado
na
teoria,
não terá
nada
para
oferecer,
além de
um
pedaço
de pão,
de uma
frase de
efeito,
decorada
do
Antigo
ou do
Novo
Testamento,
ou
então,
dinheiro.
E isso
será
muito
triste.
Não
porque
deixará
“Deus
triste”,
como bem
sabemos,
mas,
sim,
porque
nosso
tempo
poderia
estar
sendo
mais bem
aproveitado.
Alcemos
voo nas
asas da
caridade,
ampliando
a área
de nossa
atuação
cotidiana,
tema de
nossa
reflexão!
Dilatemos
nossa
visão,
sob os
desdobramentos
dos
ideais
sublimes,
não
apenas
sobre os
desamparados
da
matéria,
mas
também
sobre os
desamparados
da
alma...
Muitas
vezes
encontraremos
as duas
formas
de
desamparo
sob o
mesmo
teto,
vivendo
num
mesmo
corpo.
E não
nos
esqueçamos
que
existe a
forma
menos
óbvia e
mais
difícil
de se
compreender,
que
ocorre
quando,
em
nossos
lares,
no
trabalho,
na casa
espírita,
devemos,
no dia a
dia, ter
a
caridade
conhecida
como
“essencial”.
Conforme
Emmanuel
nos
esclarece
na
mensagem
“Caridade
essencial”,
do
livro Vinha
de luz,
trata-se
da
caridade
de pensar,
falar e
agir
segundo
os
ensinamentos
do
divino
Mestre, no
Evangelho.
É a
caridade
de
vivermos
verdadeiramente
nele
para que
Ele viva
em nós.
Sem
esta,
poderemos
levar a
efeito
grandes
serviços
externos, alcançar
intercessões
valiosas,
espalhar
notáveis
obras
de pedra,
mas,
dentro
de nós
mesmos,
nos
instantes
de
supremo
testemunho
na fé,
estaremos
vazios e
desolados,
na
condição
de
mendigos
de luz.
Fica
clara a
ideia de
que a
nossa
casa
mental
deve ser
edificada,
nas
palavras
de
Mateus,
sobre a
rocha (2).
Caso
contrário,
ao nos
depararmos
com as
imperfeições
de
nossos
irmãos
que
considerarmos
como
afronta
insuportável,
iremos
interromper
a
manifestação
da
caridade,
já que o
que
alimentava
dentro
de nós,
pelas
boas
obras,
estava
alicerçado
em bases
orgulhosas
e
egoístas.
Só não
tínhamos
percebido
ainda
isso...
Vivíamos
inebriados
pelas
mãos que
agradeciam
os atos
exteriores
realizados,
achando
que
tínhamos
alcançado
os
meandros
mais
profundos
da
sabedoria.
Ao
pensarmos
nisso,
lembramo-nos
do conto
sobre o
artista
renascentista
Michelangelo
que
relata
que esse
florentino,
após
esculpir
a
estátua
de
Moisés,
em um
momento
de
alucinação,
teria
dito a
ela: “Perché
non
parli?”, ou
seja:
“Por que
não
fala?”.
Quantas
vezes
ficamos
entristecidos,
sentimo-nos
solitários,
falhos
na fé,
ao nos
depararmos
com uma
pessoa
de
difícil
convívio,
não é
mesmo?
Mas isso
se dá
porque,
como
Michelangelo,
mantemos
a
alucinação
de que o
outro
precisa
nos
oferecer
o grau
de
perfeição
imaginado,
a fim de
“manter”
a nossa
paz. O
que,
muitas
vezes,
não vai
acontecer.
E nem
pode
acontecer,
uma vez
que se
trata de
um ato
de
violação
do
direito
sagrado,
concedido
por Deus
a todos
nós, de
cada um
ser quem
consegue
ser.
Dizemos
à
pessoa:
“por que
você é
assim?”
ou “por
que você
não
muda?”.
Ao
insistirmos
nesse
padrão
de
revolta,
nós é
que nos
cristalizamos
em
verdadeiras
estátuas
de
mármore,
estagnados
na ideia
de não
abandonar
quem
fomos,
até
aquele
instante.
Não
queremos
“queimar
o óleo"
de nossa
candeia
interior,
para
irradiar
luz. A
verdade
é que,
se
permitirmos
à
sabedoria
pousar
em
nossas
consciências,
agradeceremos
ao irmão
difícil
que nos
afere a
paciência,
em sua
insistência
em ser
alguém
que não
aprovamos,
que nos
fere,
pois
somente ele foi
o médico
assertivo
capaz de
diagnosticar
as
nossas
próprias
deficiências.
Fato
que,
sozinhos,
demoraríamos,
muitas
vezes,
séculos
e
séculos
para
perceber.
Muitas
vezes
pequenos
grupos
de
trabalho
de
caridade,
trabalhadores
dos
centros
espíritas
que nos
passam
despercebidos,
pelas
suas
tarefas
aparentemente
diminutas,
ou
familiares
que
persistentemente
não
desistem
de
manter
os
compromissos
assumidos,
servindo
de
suporte
de luz
para
toda a
família,
sem
receber
o devido
reconhecimento,
realizam,
segundo
as
palavras
de
Emmanuel,
atividades
muito
mais
sagradas
e
indiscutíveis
aos
olhos do
Senhor,
pois
seguem
expandindo,
sem
atavismos
psíquicos,
a
construção
do Reino
de Deus
a partir
de seus
corações.
O
caráter
de quem
está
sendo
ajudado,
se algo
irá se
receber
em
troca,
ou a
proporção
do bem
que se
pode
fazer,
tudo se
torna
discussão
irrelevante
para o
caridoso
essencial.
A este,
interessa,
naquele
dia,
realizar
bem os
seus
compromissos,
ampliar
a sua
amorosidade
e
deixar,
como
assinatura,
nas
palavras
de Chico
Xavier,
um sinal
de alegria por
onde
passar.
Ele
mantém
em seu
peito a
certeza
de que o
dia de
amanhã
encarregar-se-á
dele
mesmo, e
que tudo
acontecerá,
no tempo
certo de
Deus, a
todos
nós.
Referências:
1. Mt,
6:9-13
2. Mt,
7:21-27 |